Crítica
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Sinopse
Em meio ao sequestro de um avião por um grupo de terroristas, a portadora de uma doença misteriosa precisa revelar um segredo terrível para tentar proteger seu filho. Logo começa um enervante banho de sangue.
Crítica
O cinema gosta de situar tramas (in)tensas em aviões. Também pudera, pois são várias as possibilidades a serem trabalhadas nesse ambiente. Uma vez no céu, os mastodontes metálicos mais pesados que o ar se transformam em locais dos quais não se pode sair sem correr gravíssimo risco de morte. Some-se a isso o fato de serem apertados internamente, um sério agravante. Ao longo dos tempos, já tivemos filmes-catástrofe (saga Aeroporto), produções focadas em sequestros regados a perigo e gritaria, paródias cáusticas (Apertem os Cintos...o Piloto Sumiu, 1980) e até um assassino profissional que pensa em dar cabo de seu alvo liberando serpentes em pleno voo (Serpentes a Bordo, 2006). A produção alemã Céu Vermelho-Sangue adiciona a esse rol a existência de vampiros embarcados como moldura de um drama familiar. Porém, nem é notável como exercício de gênero e tampouco tem instantes memoráveis quanto à tragédia que marca a convivência entre uma mãe chupadora de sangue e um filho obrigado a conviver com a maldição de sua genitora. Nadja (Peri Baumeister) está indo com o pequeno Elias (Carl Anton Koch) para Nova Iorque a fim de tentar encontrar uma cura para o que inicialmente nos é “vendido” como leucemia. Mas, nem demora tanto para a verdade vir à tona, para isso bastando acontecer uma situação excepcional que praticamente sujeita a mulher a se revelar.
Um dos principais problemas de Céu Vermelho-Sangue é a sua necessidade de deixar quase tudo muito bem explicadinho. Não há o gesto de se apropriar da névoa entre saber e não saber como potencial elemento amplificador das tensões. Sim, pois um mergulho vertiginoso sem os cintos de segurança meramente ilustrativos provavelmente tornaria a viagem ainda mais incerta e tétrica. O único elemento que fica sem esclarecimento pormenorizado é a motivação dos terroristas que sequestram o avião no qual os protagonistas estão. Aliás, é interessante a breve cena dos passageiros conjecturando sobre isso. Uns dizem que provavelmente o motivo é econômico, outros apostam no aspecto religioso e há ainda aqueles que ventilam a possibilidade de um aceno prevendo influenciar as eleições iminentes. Fora essa questão que fica sem uma resposta fechada, o filme se empenha em deixar contextos, porquês e senões apontados e resolvidos sem espaço de manobra. Para concretizar isso, os flashbacks são fundamentais. O diretor Peter Thorwarth volta mais ainda ao passado para indicar como Nadja foi infectada e até de que maneira ela chegou a um medicamento inibidor para continuar minimamente vivendo em sociedade. Esses breves regressos servem tão e somente para ilustrar tais coisas que, se suprimidas do enredo, provavelmente sequer fariam falta. De certa forma é a atenção ao drama familiar que justifica tais contextualizações. Mas isso deixa tudo bem prolixo.
Dar atenção à sina de Nadja e, por conseguinte, a do pequeno Elias não significa que ela ganhe densidade. No mais das vezes, o filme se contenta em repetir planos da mulher exposta para combater os inimigos terroristas enquanto o menino demonstra compaixão e valentia. Já no que diz respeito puramente à ação, Céu Vermelho-Sangue não se sai necessariamente melhor. Investe numa manjada alternância de reveses e breves vitórias incapazes de adensar a tragédia anunciada. Peter Thorwarth nem ao menos utiliza a limitação do espaço a favor de uma sensação meio óbvia de claustrofobia. Pela forma como a câmera transita sem imprimir aflição, pois geralmente privada de contratempos e dificuldades, às vezes nem parece que tudo está se passando num avião em pleno voo. O realizador explora burocraticamente o deslocamento pelos dois corredores principais da aeronave, se detendo sempre que possível em locais mais amplos, tais como o compartimento de carga em que a exiguidade deixa de ser uma matéria vital. Além disso, é preciso suspender a descrença diante de certas questões de ordem prática, como, por exemplo, o tiro que provoca a despressurização interior. Depois de uma agitação natural, com máscaras caindo e pessoas com medo de sufocar, repentinamente o avião volta ao normal. Isso mesmo. Sem alguém fazer reparos. Na cena seguinte o interior está novamente pressurizado.
As mortes vão se sucedendo e nem a evolução do quadro de Nadja (que a cada vítima ganha força e fica mais monstruosa) se estabelece como dado capaz de gerar doses suficientes de apreensão. Há papeis secundários deliberadamente tipificados, sendo o principal destes Eightball (Alexander Scheer), o desvairado dos bandidos. Assim que a peste vampira começa a se alastrar, fica evidente que uma vez transformado em criatura esse sujeito será o nêmeses, ou seja, o vampirão a ser derrotado pela heroína improvável que defende o filho como uma legítima mãe-coragem. Ênfase na palavra "evidente", pois já vimos essa dinâmica em inúmeros outros filmes de estrutura semelhante. Sorte que Scheer interpreta seu personagem com um claro gosto escancarado pela caricatura vilanesca, o que empurra o conjunto na direção da simples aventura inconsequente. No entanto, isso não prevalece. Peter Thorwarth tenta dar textura política ao longa por meio da figura de Farid (Kais Setti), médio-oriental usado pelos terroristas para criar uma cortina de fumaça e adiante pressionado por autoridades numa lógica que alude à islamofobia pós-11 de setembro. Sem tônus para estabelecer a crítica social, o coadjuvante vira um apêndice da experiência mãe/filho. Nesse molho ainda há o capitalista escroto que barganha perto de morrer e, rapidamente, o senhor chorando a morte da esposa. E só. O resultado é pouco memorável como exemplar de gênero e não menos esquecível enquanto crônica familiar.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 4 |
Leonardo Ribeiro | 4 |
Chico Fireman | 2 |
MÉDIA | 3.3 |
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