Carneiro
Crítica
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Sinopse
Aurélien, mais conhecido como "Mouton", é um rapaz de dezessete anos que trabalha num restaurante numa pequena cidade da Normandia. Tudo parece ir bem, até que Aurélien desaparece após um acidente na Festa de Sainte Anne.
Crítica
Com o título internacional Sheep (ou Carneiro, em uma tradução literal), o francês Mouton é sobre um garoto que, apesar de batizado como Aurélien, atende por esse apelido. A primeira cena já é bastante forte: enquanto uma mulher calmamente tenta explicar a situação, a outra, no lado oposto da mesa, discute bravamente. A que domina a conversa é, provavelmente, uma oficial do governo que esclarece a decisão judicial àquela mulher que, a partir daquele momento, está proibida de ver o próprio filho, simplesmente por não ter condições de criá-lo. Mas há mais envolvido: o fator decisivo para esta questão foi o fato do menino – um adolescente, na verdade – pedir para se afastar dela. Ali começa uma jornada que parece igual a tantas outras, mas que não será abordada de forma convencional pelos seus realizadores.
Mouton – vamos chamá-lo assim, ok? – é um rapaz circunspecto, franzino e de poucas habilidades. Apesar de carregar o nome do filme, a obra não é essencialmente sobre ele. Após esse primeiro momento, não mais voltaremos ao episódio familiar que motivou a separação dos dois – não se sabe os porquês envolvidos nesse processo, o que ela fez para que ele não a queira mais, o que o menino representa – além do óbvio – para que ela insista em lutar por ele. Carneiro oferece muito mais perguntas do que respostas, e sua estrutura se dá quase que por completo a partir de elipses narrativas. Nesse segundo instante, portanto, o vemos nessa vida solitária, em que passa os dias como ajudante em um restaurante, acordando ainda de madrugada para receber os peixes frescos e colaborando com as atividades na cozinha. Descobrindo uma profissão, se envolvendo no primeiro amor com a nova garçonete, estabelecendo uma relação fraterna com os amigos que no fim de semana o aceitam como um deles e, juntos, passeiam à beira mar. É uma vida comum, corriqueira, sem esperanças nem surpresas. Até que justamente o inesperado acontece.
A partir da metade da narrativa de Carneiro o filme simplesmente se desconstrói, tendo como ponto de virada um episódio tão banal quanto inexplicado. A gratuidade do ato que põe fim ao destino até então traçado para o protagonista o arranca daquela trajetória, assim como da obra em si, eliminando-o da ação. Acompanhamos aquelas vidinhas patéticas e cinzas no pequeno vilarejo com Mouton, na pouca diferença que ele faz, e depois sem sua presença, e em como tudo permanece praticamente o mesmo. Os casais continuam se casando, quem é bom segue assim, assim como o mal se mantém presente. Do garoto há uma lembrança, quase um constrangimento geral por não terem sido capazes de protegê-lo, salvá-lo, ajudá-lo. Tentativas de contato serão eventuais, cada vez mais raras, e nem ele, nem os que ali permanecem, parecem assim perceber qualquer mudança.
Os diretores e roteiristas Gilles Deroo e Marianne Pistone decidiram criar um ambiente mais próximo possível do real em sua obra. Trabalhando quase que exclusivamente com não-atores, apoiam-se apenas em Michael Mormentyn, no papel de Mouton, cujo único crédito anterior é o média-metragem Hiver (Les Grands Chats), de 2009, também realizado pelo casal de cineastas. Uma naturalidade quase ofensiva é o resultado que alcançam, o que colabora no afastamento entre longa e plateia. É difícil se encontrar nesta trama, principalmente a partir do momento em que ela assume um tom absurdamente aleatório. Questiona-se muito em Carneiro. Porém a maior dúvida talvez seja descobrir quem, ao final de sua projeção, estará preocupado com estas respostas.
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