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Sinopse
Nina quer ser uma influenciadora digital, mas acaba descobrindo a traição do namorado nas redes. Em busca de seu primeiro milhão de seguidores, ela viaja em regime de permuta a Salvador com as amigas Michele, Vivi e Mayra.
Crítica
A obsessão da influenciadora digital Nina (Giovana Cordeiro) por atingir a marca de um milhão de seguidores é uma tipificação da contemporaneidade em Carnaval. Desde o princípio, toda hora existe alguém ao seu redor para repreender essa meta desenfreada, mas não ao ponto de gerar uma reflexão considerável. O intuito do cineasta/roteirista Leandro Neri não é fazer um comentário algo tonalizado a respeito da indústria virtual cujo produto é a imagem imperativa dentro de uma lógica que tem a permuta como senha. O percurso facilmente previsível é o da famigerada lição de moral, com alguém desviado da verdade passando por uma provação aparentemente transformadora que a recoloca nos trilhos. Nesse sentido, a base é a amizade, vínculo mostrado de modo absolutamente superficial. Depois de virar meme por conta da traição do namorado – e essa zoação em virtude do ato alheio não vira mais que um gatilho bobo –, Nina é escolhida pela equipe de um cantor famoso para ir a Salvador passar o Carnaval. Alguma dúvida de que ela se deslumbrará na Bahia?
Aliás, o deslumbre é o fiel da balança em Carnaval. Leandro Neri contrapõe sem nuances o encantamento com o mundo artificial das redes sociais, regido por curtidas, compartilhamentos e associações de imagem, e a fascinação pelas belezas singulares da cidade repleta de cultura e pulsação. O problema está não necessariamente na ampla capacidade de antever aonde as coisas vão dar, mas no desleixo da construção dessa trajetória pavimentada por situações e personagens que se moldam à mensagem. Assim, tudo soa tão postiço quanto um texto motivacional publicado no Instagram, daqueles que pretensamente carregam uma verdade universal em meia dúzia de lugares-comuns. Das amigas da protagonista, é gritante como Michelle (Gessica Kayane) cava um espaço desproporcional. De certa maneira, isso se torna irônico, pois a atriz iniciante, célebre nas redes como GKay, é antes de tudo uma influenciadora com milhões de seguidores. Ela visivelmente sobressai em relação às outras coadjuvantes, não necessariamente por ser mais talentosa ou ter mais carisma.
Dentro da configuração do quarteto que vai à Bahia curtir a maior festa popular do mundo, Mayra (Bruna Inocencio) vale somente o quanto pesa seu trauma do passado à deflagração do afeto como antítese da fama no Instagram. Fóbica diante de multidões por conta de um episódio na infância, ela às vezes fica inexplicavelmente à vontade em camarotes lotados, noutras (convenientes) trava para impor um dilema a Nina: deixar a companheira para trás num momento de necessidade ou dar um passo primordial rumo ao milhão de seguidores? Essa é sua função no filme. Já Vivi (Samya Pascotto) é a nerd que completa o quadro aparentemente heterogêneo. Sua ideia fixa por um homem que entenda de quadribol, Star Wars e demais pilares da cultura geek somente serve para instituir outro aprendizado: o de que não se deve julgar um livro pela capa. E essa máxima surrada é repetida sempre que ela encasqueta com algum pretendente, por exemplo, que frequenta academia. No fim das contas, também terá um ensinamento valioso que a tornará mais feliz.
Carnaval é um amontoado de chavões utilizados para combater perspectivas consideradas não essenciais e/ou equivocadas. Ele desenha um caminho muito simples, formado por vários esquetes de teor e tons bastante semelhantes. Nem mesmo quando uma influenciadora “bombada” é cancelada por dizer asneiras preconceituosas sob efeito do álcool o filme ganha matizes para além de seus vernizes de fina camada. Nina aprende o valor da amizade ao distanciar-se dela para ser famosa; Vivi acha o par “perfeito” ao ter a comprovação de que suas implicâncias são tolas; Luana (Flavia Pavanelli) entende a necessidade de se reinventar depois de ser tragada pela personagem criada ao Instagram; Freddy (Micael Borges) cai em si quanto à coragem fundamental para vivenciar um grande amor. Todas são lições valiosas, mas dispostas como se o cinema fosse um jogral com jeitão de manual de autoajuda. O filme tem poucos momentos de humor, Gessica Kayane mandando ver em caras, bocas e gestos expansivos destoantes, enquanto figuras como Salvador (Jean Pedro) não passam de simplórios peões. Já o dado místico (a vidente, as cerimônias das religiões de matriz africana) serve como rubrica forçada para instituir que ser feliz é destino e recompensa.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 3 |
Cecilia Barroso | 2 |
MÉDIA | 2.5 |
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