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Sinopse

​Durante uma viagem de negócios ao Festival de Cannes, Manhee é demitida, enquanto a professora Claire caminha pela cidade tirando fotos com sua câmera Polaroid. As duas se conhecem e logo ficam amigas. Claire consegue tanto desvendar o passado quanto prever um possível futuro para Manhee, com a ajuda de um misterioso túnel na praia.

Crítica

Os filmes do cineasta sul-coreano Hong Sang-soo têm presença constante em grandes festivais do mundo, com Cannes sendo um dos mais receptivos ao trabalho do autor. Títulos como A Mulher é o Futuro do Homem (2004), Hahaha (2010), O Dia em que Ele Chegar (2011), A Visitante Francesa (2012) e Geu-hu (2017) são apenas alguns destaques dos nove trabalhos que o diretor exibiu na croisette, seja em mostras paralelas ou concorrendo à Palma de Ouro. Esse namoro tão próximo com o festival e a cidade surtiu efeito criativo no diretor, que resolveu filmar em Cannes, durante o evento cinematográfico, um rápido longa-metragem. Em 2016, juntou sua equipe e realizou A Câmera de Claire, drama com toques fantásticos, defendido por atrizes do quilate da francesa Isabelle Huppert e da sul-coreana Min-Hee Kim.

Na trama, Kim vive Manhee, competente funcionária de Yanghye (Mi-hie Jang) que, em pleno Festival de Cannes, é demitida sem maiores explicações. Desnorteada por ter perdido o emprego tão longe de casa, Manhee passa seu tempo passeando pelo litoral. Assim ela conhece a francesa Claire (Huppert), professora que tem verdadeira paixão por fotos – e que acredita que ninguém fica igual depois de um clique de sua câmera. O contato entre as duas é breve, mas uma forte amizade acaba surgindo. Claire conhece Yanghye e o diretor de cinema So Wansoo (Jin-young Jung), e esse encontro fortuito dará maiores explicações a respeito do destino de Manhee e de o porquê ela foi demitida tão bruscamente.

Hong Sang-soo escolhe contar essa história com planos bastante longos. A maioria das cenas é capturada em apenas um take, com os atores dando o ritmo que cada sequência necessita. A câmera geralmente se encontra parada e os protagonistas conversando, sentados em volta de mesas de cafés e bares. Isso dá ao filme uma atmosfera casual, despojada. Filmado em três línguas (coreano, francês e inglês), A Câmera de Claire funciona melhor quando temos os atores falando em seus idiomas pátrios. Mesmo atrizes excepcionais como Huppert e Kim acabam sofrendo revezes ao atuarem em inglês.

Honestidade é uma palavra-chave para entender A Câmera de Claire, expressão que surge primeiramente na conversa entre Yanghye e Manhee e retorna num diálogo posterior. Para a chefe de Manhee, honestidade é algo imprescindível, uma qualidade inata. O motivo da demissão, segundo ela, é a ausência dessa honestidade que ela observa na funcionária. Falta em Yanghye, no entanto, essa mesma qualidade na revelação dos reais motivos dos seus atos. “Confie no meu julgamento”, diz ela à Manhee. Como um arco que se fecha, aquela mulher recebe o mesmo tratamento frio de seu amante pouco tempo depois, que usa praticamente as mesmas palavras para encerrar o relacionamento. Hong Sang-soo parece se divertir com esses pequenos círculos narrativos.

Curto, com apenas 69 minutos, A Câmera de Claire parece muito mais um experimento, um diminuto passatempo do diretor sul-coreano enquanto se desenrolava o Festival de Cannes em 2016. Um artifício que não faz muita diferença no fim das contas, visto que a história, na verdade, poderia se passar em qualquer cenário, em qualquer momento. De toda forma, o longa acabou sendo exibido fora de competição em Cannes em 2017, enquanto outro título do diretor concorria à Palma de Ouro.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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