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Sinopse

O vilão Gana Gobler tomou o poder da Confederação dos Planetas e ameaça a paz intergaláctica. Em fuga, sete alienígenas atrapalhados caem na Terra e precisam da ajuda das divertidas crianças do clube Bugigangue para salvar o universo.

Crítica

Ser capaz de cativar as crianças sem perder totalmente a atenção dos adultos se apresenta como um dos principais desafios para qualquer longa infantil animado. No Brasil, em particular, o mercado de animação – que tem crescido nos últimos anos, mas ainda apresenta dificuldades para competir comercialmente com as grandes produções internacionais – segue lutando para encontrar esse desejado equilíbrio. BugiGangue no Espaço, estreia em longas do diretor Alê McHaddo, surge como mais um exemplar nacional do gênero a tropeçar em tal obstáculo ao narrar as peripécias de um grupo de amigos, liderado pelo esperto Gustavinho, que se envolve em uma grande aventura espacial. Presos na escola durante o final de semana, com a tarefa de reconstruir um modelo do sistema solar, eles partem numa jornada intergaláctica ao lado dos Invas, alienígenas divertidos e atrapalhados, para impedir que o vilão Gana Golber acabe com a paz do universo.

A fragilidade da narrativa é sentida logo na exposição da premissa, que passa a sensação de dar continuidade a uma história já em andamento, com situações e personagens previamente estabelecidos – como se todos os espectadores os conhecessem do curta-metragem BugiGangue: Controle Terremoto (2010) – fazendo com que o conceito do clube de amigos, a BugiGangue do título, sem a devida construção de laços e perfis, perca quase toda a sua força. O problema central do longa, porém, deriva do choque entre o tom deliberadamente ingênuo da trama, voltada a um público bastante jovem, e um roteiro calcado, essencialmente, no acúmulo de referências que, em sua maioria, pouco dialogam com essa faixa etária. Assim, sobram citações a ícones do imaginário da ficção científica e da fantasia, como Star Wars, Senhor dos Anéis, Alien e O Guia do Mochileiro das Galáxias (2005), que podem se perder juntos aos mais novos.

Outros símbolos da cultura pop – o Seu Madruga da Turma do Chaves, o Super Mario, o Meu Primeiro Gradiente carregado pela pequena Fefa, irmã de Gustavinho – também remetem muito mais à geração que viveu a infância nos anos 80/90 do que à atual, gerando um ruído que se estende ainda à tentativa de criar uma identidade mais brasileira com as alusões, notadamente datadas, a personagens já quase folclóricos, como o E.T de Varginha e o Chupacabra. Em meio a essa enxurrada de referências – que já povoava o trabalho de McHaddo desde seu premiado curta A Lasanha Assassina (2002) – a figura carismática e divertida dos Invas se sobressai como a criação original mais bem resolvida da animação. Em contrapartida, os personagens humanos acabam sendo bastante superficiais, limitados a gírias e tiradas pouco inspiradas, despertando menos empatia do que poderiam.

Os diálogos, por sinal, são outro ponto fraco de BugiGangue no Espaço. Mesmo com um trabalho correto do elenco de dublagem, a colocação das piadas e frases de efeito parece quase sempre fora de timing e pouco natural – só não sendo mais forçada ou deslocada do que o product placement de uma rede do ramo alimentício. Um dos poucos acertos do roteiro é a inserção da sequência musical, uma montagem em que as crianças ajudam os Invas a consertar sua nave ao som da bem-humorada canção original Martelinho de Ouro do Espaço Sideral. No aspecto técnico, McHaddo e seus animadores até encontram algumas soluções inventivas de design para a grande variedade de criaturas, naves e robôs que desfilam pela tela. Contudo, essas são prejudicadas pelas limitações da animação: movimentos (faciais e corporais dos personagens), texturas etc.

Com tantas imperfeições, o produto final corre um grande risco de soar aborrecido para os adultos – apesar de todos os apelos a sua memória afetiva – e, ainda que movimentado o suficiente para manter a atenção dos pequenos durante seus 80 minutos de duração, não oferece nenhum real atrativo que o impeça de se perder entre tantas opções genéricas que podem ser encontradas tanto nos cinemas, quanto na TV ou na internet.

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é formado em Publicidade e Propaganda pelo Mackenzie – SP. Escreve sobre cinema no blog Olhares em Película (olharesempelicula.wordpress.com) e para o site Cult Cultura (cultcultura.com.br).
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Grade crítica

CríticoNota
Leonardo Ribeiro
5
Robledo Milani
6
MÉDIA
5.5

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