Brasil S/A
Crítica
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Sinopse
A cana-de-açúcar move o Brasil há 500 anos e Edilson é um de seus cortadores. As máquinas chegam e ele deixa o canavial para explorar o espaço em sua primeira missão interplanetária. Um pequeno passo para este homem, um salto gigantesco para a nação.
Crítica
O que é o Brasil? Um país, uma nação nobre e soberana, ou um mercado, uma empresa de capital fechado na qual apenas conseguem ser bem-sucedidos aqueles que forem espertos o suficiente para jogarem de acordo com as regras pré-determinadas? Essa segunda visão parece ser compartilhada pelo diretor pernambucano Marcelo Pedroso, responsável pelo longa Brasil S/A, obra curiosa que se assume como ficção, ainda que faça uso de um olhar demasiadamente documental sobre a realidade nacional. O filme, exibido – e premiado – no 47° Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, até tenta provocar algum tipo de reflexão em seu espectador, porém seu formato hermético e assumidamente particular afasta qualquer tentativa de contato mais próximo, resultando em uma experiência cansativa e frustrante.
Com pouco mais de 70 minutos de duração, Brasil S/A exige tanto de sua audiência que o processo de conferi-lo do início ao fim promove um sentimento de tamanha exaustão que é praticamente inevitável a sensação de, ao seu término, ter levado mais do que o dobro do tempo necessário. A conclusão mais óbvia seria apontar o estranhamento inicial de se assistir a um filme mudo, absolutamente sem diálogos, resignando-se apenas a uma trilha sonora nada inspirada e a um som direto pouco elaborado como auxílio sonoro. Porém, mais acurado é aventurar-se pelos meandros de uma trama construída quase que inteiramente a partir de clichês regionais e já muito desgastados. O Brasil visto por Pedroso é aquele com o qual ele se acostumou desde pequeno, que está ao alcance da janela da sua casa ou visto em passeios pelo interior do seu estado de nascença. Pouca ressonância, no entanto, encontrará junto ao público do Sul, Norte ou Sudeste, muito menos nos olhares estrangeiros. O discurso é próprio e parece não ter interesse em ser abrangente.
Através de algumas passagens aparentemente aleatórias, aos poucos começa-se a perceber um fiapo de trama que, de uma forma ou outra, tentará dotá-las de significado e entendimento. Aquele que podemos chamar de ‘protagonista’ é um jovem cortador de cana-de-açúcar que, tal qual o esperado, um dia é colocado de lado em sua atividade primordial, substituído sem dó nem piedade pela automação do campo. Ao invés de se rebelar contra o inevitável, tentar impedir o avanço econômico ou travar uma batalha perdida contra o poder do mais forte, ele faz o contrário e adota o conhecido lema do ‘se não pode vencê-los, una-se a eles’. E ele não está pronto apenas para a modernidade e os novos desafios do hoje, mas quer ir além. A alegoria, portanto, irá se aventurar pelo universo do fantástico, imaginando como seria uma eventual missão espacial brasileira. Efeitos especiais canhestros e de qualidade técnica duvidosa não só se encarregam destas ilustrações, como também propõem um curioso debate: seríamos nós, enquanto nação, tão pobres e rudimentares quanto à visão deste cineasta?
Ainda que limitado, Brasil S/A não se contenta em apenas brincar de narrativa com imagens pretensamente fortes – a coreografia das escavadeiras é, particularmente, constrangedora – mas também acaba caindo em armadilhas impostas pelas suas próprias diretrizes. Bons exemplos disso são quando o registro das ações e personagens não é mais suficiente e serão precisas palavras, animações e cartazes que complementem o processo cognitivo almejado. O problema maior de um filme como esse, em uma última leitura, é a facilidade com que os menos atentos podem sucumbir às suas pretensas ambições. Porém, carente de um embasamento bem estruturado, é o tipo de projeto que não resiste a uma segunda leitura ou a um debate mais elaborado. Algo que o passar do tempo se encarregará de colocar em evidência.
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