Crítica


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Sinopse

A poetisa sul-africana Ingrid Jonker lutou contra a desigualdade racial em pleno Apartheid, inclusive indo contra o próprio pai, que era um dos responsáveis pela censura no período.

Crítica

“A criança não está morta
A criança levanta os punhos contra sua mãe
Que África gritou o fôlego da liberdade do brejo
Nos locais de coração sitiado
A criança levanta os punhos contra seu pai
Numa marcha de gerações
Que África gritou o gosto
De justiça e de sangue
A criança não está morta
Nem em Langa nem em Nyanga
Nem em Orlando nem em Sharpville
Nem na delegacia em Philippi
Onde ela se encontra com uma bala na cabeça”

Assim começa o poema “A criança morta de Nyanga”, da poetisa sul-africana Ingrid Jonker. Grande sucesso literário de crítica, tornou-se também um fenômeno popular quando o recém liberto Nelson Mandela, já presidente da África do Sul, o escolheu para abrir seu primeiro discurso ao Parlamento do país, em 1994. Pois é a conturbada e trágica história de vida dessa mulher que chegamos a vislumbrar neste belíssimo Borboletas Negras. Digo vislumbre pois, como todo artista, com Jonker também deve ter se passado muito mais no campo da imaginação e da criatividade do que no real e físico. E foi combinando estes dois elementos que temos aqui uma obra que instiga ao mesmo tempo em que provoca a reflexão.

Ingrid Jonker nasceu em 19 de setembro de 1933 e residia na Cidade do Cabo. Criada inicialmente pela avó, foi levada meio a contragosto para casa pelo pai quando ainda criança, após o falecimento da velha senhora. Desde pequena os conflitos entre ela e a figura paterna se estabeleceram, e com o passar dos anos a tensão entre eles só se intensificava – e piorava. Ingrid era uma libertária, emocionalmente instável, carente de atenção e impulsiva. Já seu pai, Abraham Jonker, não apenas não reconhecia o talento da filha, como também a rejeitava. Ele era um dos responsáveis pela manutenção do Apartheid, sendo a pessoa responsável pela censura de publicações, artes e entretenimentos. Como ela lutava contra o governo segregacionista, obviamente os dois viviam numa rota de colisão que inevitavelmente teria um final infeliz para ambos.

A maior habilidade da diretora holandesa Paula van der Oest é a força que ela coloca nas interpretações do seu elenco, muito unido e coeso, e nas palavras do roteiro, que partem da matriz literária para se estruturarem de forma precisa e direta. Todos defendem seus personagens com dedicação e valentia, principalmente uma surpreendente Carice van Houten (uma revelação vista primeiramente no thriller de guerra A Espiã, 2006, de Paul Verhoeven) e o sumido Rutger Hauer, que finalmente, depois de décadas, volta a ter um bom papel, após ter despertado tanta atenção no início dos anos 80 com Blade Runner – O Caçador de Andróides (1982) e Ladyhawke – O Feitiço de Áquila (1985), entre outros. Os dois, assim como Liam Cunningham (Ventos da Liberdade, 2006), que aparece como Jack Cope, o grande amor da vida dela, são as forças motrizes desse drama que ganha uma dimensão ainda maior por oferecer luz a uma mente criativa tão relevante e pouco conhecida.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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