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Sinopse

Androides construídos pelo homem e à sua perfeita semelhança passam a demonstrar sentimentos. Além de uma certa dose de rebeldia, o que leva um policial a ser destacado para eliminá-los.

Crítica

Los Angeles em 2019 é uma localidade distópica. A cidade preferida de muitos escritores pulp, que nela ambientaram tramas repletas de detetives, mulheres fatais e um submundo influente na superfície, serve de cenário a Blade Runner: O Caçador de Androides, clássico sci-fi dirigido por Ridley Scott, que coloca em termos futurísticos toda essa tradição do romance policial. Dick Deckard (Harrison Ford) é um caçador de replicantes, como são chamados os humanoides artificiais criados pela Corporação Tyrell para trabalhar na exploração das colônias terrestres. As criaturas à nossa imagem e semelhança são, porém, mais fortes e potencialmente mais inteligentes, ou seja, representam risco.

Existencialismo, filosofia e religião se misturam na narrativa guiada por essa perseguição aos replicantes. Ser ou não ser? Eis a questão que permeia todo o filme, assim como outras de ordem ética, tais como: quais os limites da tecnologia em nome do progresso? É “humano” ludibriar a criação, fazendo-a crer-se perfeitamente orgânica, quando na verdade uma cópia desenvolvida em laboratório e estofada de memórias alheias que parecem suas? O envolvimento amoroso de Deckard com uma dessas cópias quase perfeitas, a princípio alienada de sua real condição, o fará sensível aos ideais dos replicantes, menos autômato na sua missão de matar, e mais ciente da complexidade que se apresenta.

Roy (Rutger Hauer), líder dos replicantes, a certa altura encontrará o “pai”, discutindo as falibilidades de sua concepção, pedindo um pouco mais de tempo de vida. A cena pode muito bem ser entendida como a possível exasperação do homem se hipoteticamente diante da figura de Deus. Se não há solução, matar o progenitor parece a única vingança significativa antes do inevitável. Sendo assim, exterminar “Deus” devolve à criatura algo de dignidade, como se a finitude juntasse ambos na desgraça, nivelando-os de alguma maneira. Deckard, por sua vez, segue a missão, sabedor da difícil escolha que em breve terá de tomar, entre o dever e o coração. A lei servidora da dominação e do escravagismo está acima do desejo de existir? Mas sem lei, aonde vamos?

A construção visual de uma Los Angeles decrépita, a direção de Scott que privilegia a palavra em detrimento da ação (ainda que não negligencie esta de forma alguma), e a trilha sonora icônica criada pelo músico grego Vangelis, feita de acordes puramente melancólicos, são elementos que entram em consonância para realçar a profundidade dos temas abordados. Blade Runner: O Caçador de Androides é, sem dúvida, uma das grandes ficções científicas do cinema, menos por seu caráter futurista/visionário, e mais pela maneira como esquadrinha essas questões de ordem existencial, encaixando-as pertinentemente nos conflitos e contradições daquilo que está por vir.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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