Crítica
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Sinopse
Chen Nian estuda dia e noite para ter chances no vestibular nacional que se aproxima. No entanto, ela precisa conviver com o bullying das colegas. A jovem vai encontrar forças no elo improvável com um membro de gangue.
Crítica
Em Dias Melhores há um inimigo claro no horizonte. Este é o bullying, prática sistemática de atos de violência física e/ou psicológica de alguém ou de um grupo contra um indivíduo. Os letreiros iniciais deste longa-metragem indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional em 2021 fazem um alerta sobre o tópico que nas últimas décadas vem sendo alvo de muita discussão no meio escolar e acadêmico superior. A protagonista é Chen Nian (Dongyu Zhou), aluna pobre que corta um dobrado para assimilar a matéria num curso pré-vestibular repleto de colegas em situação parecida. A agilidade da montagem sugere a tensão que existe no cotidiano dessa menina que ainda precisa lidar com a ausência diária da mãe e a presença dos credores que a procuram rotineiramente. Há, em princípio e aparentemente, a vontade de colocar forte o dedo numa ferida social de maior abrangência. Sim, pois as humilhações impostas aos adolescentes estão inseridas no contexto amplo de uma coletividade que exerce pressões enormes sobre quem ainda nem chegou à vida adulta. Os planos das turmas com alunos obviamente tensionados por essa realidade, em meio a pilhas enormes de cadernos e livros, deixam esse painel evidente. No entanto, o cineasta Derek Tsang não está interessado em abrir o escopo para tecer um diagnóstico esmiuçado de tudo isso, embora pudesse perfeitamente o fazer.
Há duas questões fundamentais no filme. Uma delas é justamente o bullying, a repetição desse tipo de humilhação sofrida por alguns alunos. A outra é o inesperado elo afetivo entre Chen Nian e Xiao Bei (Jackson Yee), este um membro de gangues que também está desamparado numa realidade hostil. Dias Melhores não investe nas sutilezas no exato instante de juntar os dois mundos mais parecidos do que seus habitantes gostariam. Aliás, persiste a necessidade de reafirmar constantemente que ela e ele são fraturados pela vida, solitários e não têm a quem recorrer quando as coisas apertam. Nesse sentido, há um percurso bastante convencional de identificação pelas semelhanças. Porém, a afinidade que vai sendo delineada é acrescida de nuances emocionais por meio da boa atuação dos intérpretes. Dongyu Zhou mantém sua personagem com um semblante endurecido pelas vivências ruins. Nian demora a confiar no companheiro de ocasião, ressaltando o quão desconfiada está mesmo diante das demonstrações de bondade vindas de um lugar insólito. A adolescente não é acostumada a ser bem tratada, por isso continua se comportando como um animal ferido. Já Jackson Yee faz Bei oscilar entre demonstrações de fúria (subterfúgio para o jovem proteger-se do entorno agressivo) e a gradativa atenção ao sentimento pela estudante à qual ele propõe a bem-vinda proteção diária.
Dias Melhores flutua entre os episódios mais descritivos, nos quais se coloca de modo determinado contra o bullying, e outros em que parece disposto a borrar o pano de fundo para se concentrar na experiência do amor transformador. Ainda que se equilibre relativamente bem entre essas duas vertentes, nem sempre consegue dar espaço para elas se desenvolverem como poderiam autonomamente. Dongyu Zhou ora está determinado a subordinar o surgimento dos afetos à investigação ligeira dessa China competitiva, ora sustenta o desejo de mergulhar profundamente na expectativa de felicidade surgida em meio à feiura e ao sofrimento. Especificamente ao sublinhar as práticas de intimidação e agressão observadas como endemia no país asiático, o cineasta incorre em procedimentos e estratégias mais didáticos. Assim, desenha a experiência de Chen Nian como uma sucessão de etapas reconhecíveis universalmente, encenadas como se estivéssemos vendo uma campanha institucional contra o problema – caráter assumido durante os créditos de encerramento, quando há a leitura de um manifesto contra as agressões. A menina é perseguida primeiramente por demonstrar empatia numa tragédia, depois por ter a mãe devedora e por fim é brutalizada por colegas que a filmam nua.
Por um lado, Dias Melhores apresenta “mão pesada” no seu aspecto de denúncia. Wei Lai (Ye Zhou), colega que persegue a protagonista, é simplesmente uma perversa sem camadas que possam a tornar complexa. Em determinada cena, o cineasta perde uma oportunidade valiosa de conferir-lhe gradações, pois evita de situá-la no contexto como alguém que humilha para não ser humilhada. Aliás, essa “explicação” passeia pela boca de alguns personagens, mas não é defendida e tampouco rechaçada. Por outro lado, o filme demonstra mais sensibilidade às minúcias ao observar o envolvimento amoroso entre Chen Nian e Xiao Bei. Nessa área, enfatiza a variedade de elementos operando para ambos encontrarem apoio mutuamente na companhia de quem simultaneamente sofre. Não há nada de erótico na relação demarcada pela vigília diária em direção à escola. Na frente, ela caminha despreocupada, pois ele, um pouco atrás, desempenha literalmente a função de guardião, um anjo protetor que usa a intimidação para evitar que a violência a alcance. Dongyu Zhou poderia progredir às vezes partindo de sutilezas, tais como a forma como Nian se coloca instintivamente acima de Bei nos contatos iniciais – reproduzindo a lógica de classes perpetuada, inclusive, pela escassez das vagas universitárias. No entanto, prefere flertar com o melodrama, deixando demarcadas essências, quês e porquês. E o resultado é bom, às vezes chega a emocionar, embora seja irregular e acabe permanecendo na superfície.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 6 |
Francisco Carbone | 1 |
MÉDIA | 3.5 |
Nada superficial, na minha opinião. Dramático, do começo ao fim, emocionante. Atuações impecáveis e mesmo a personagem que aplica reiteradamente o bullying, deixa à mostra sua leviandade em querer se aproximar após sofrer a consequência: real!
O filme é muito bom. Repete, é verdade, temas como o bullying, a ineficácia da denúncia (vale ressaltar) e o elo afetivo entre desamparados. Mas, trata este último aspecto com tanta sensibilidade que emociona e nos leva a "torcer", especialmente por Bei. Pouco explorada (não vi destaque em nenhuma crítica) é a insensibilidade mostrada pela policial, MULHER e MÃE, frente à situação de Chein Nain.Muito interessante!
Amei o tema. Me emocionei muito com as cenas dramáticas. Os atores foram ótimos em cena. Mas o tema tem que ser passado como matéria nas escolas, digo, incorporada, para muitos que se sentem como ela ou na atriz oposta se conscientizar. Vamos amar mais... isso é que importa.
Filme objetivo, triste, verdadeiro. Tanto lá quanto cá, o bulling faz vítimas.