Bailarina: Do Universo de John Wick

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Sinopse

A protagonista de Bailarina é Eve, uma jovem que busca vingança após perder tudo para uma organização criminosa. Com habilidades de combate refinadas, ela se infiltra no mundo perigoso dos assassinos de aluguel para encontrar quem destruiu sua vida. Uma jornada de ação, tensão e redenção. Ação.

Crítica

Keanu Reeves e Ana de Armas são velhos conhecidos. O primeiro encontro dos dois nas telas se deu no inesperado Bata Antes de Entrar (2015), um thriller de baixo orçamento dirigido por Eli Roth que passou desapercebido nos EUA, mas arrecadou mais do que o dobro do seu custo nas bilheterias internacionais. Voltaram a ficar lado a lado no menos expressivo Filha de Deus (2016) – esse, sim, ninguém deve ter visto, mas volta e meia aparece nas reprises televisivas. Ninguém esperava muito também de De Volta Ao Jogo (2014) – foi o primeiro sucesso de Reeves em quase uma década – e só louco apostaria, naquela época, que esse título acabaria rendendo não só três continuações (até o momento), como também um spin off. É nesse ponto em que se encontra Bailarina (que ganhou o pomposo – e que logo será esquecido – subtítulo Do Universo de John Wick). A premissa é um tanto arriscada: pega-se não mais do que um rápido trecho visto em John Wick 3: Parabellum (2019) e a partir dele se propõe algo ligeiramente novo. Nessa ocasião, a personagem foi interpretada pela atriz Unity Phelan. Mas Keanu é fiel aos amigos de longa data. Então sai uma desconhecida e entra quem? Ana de Armas. Para fazer de outra forma o mesmo que ele vem fazendo há mais de uma década.

Sim, pois imagina-se que ao propor uma mulher à frente dos acontecimentos, estes se darão sob outro ponto de vista. Não chega a ser o caso. Até porque ela pode ser a condutora em cena, mas, nos bastidores, são eles que seguem no comando. E neste ponto o episódio perde pontos. Afinal, sai de cena Chad Stahelski (sua experiência como diretor se resume… aos quatro longas da saga John Wick) e em seu lugar surge Len Wiseman, que apesar do sobrenome (a tradução direta seria “homem sábio”), pouco tem de perspicaz. Ele até pode ter uma franquia para chamar de sua – assinou os dois primeiros longas da série Anjos da Noite – mas desde o frustrante remake O Vingador do Futuro (2012) vinha se ocupando apenas com produções para a telinha. Bailarina, portanto, é sua “grande volta” após treze anos. O que se percebe, porém, é que todo esse tempo não parece ter lhe feito nenhuma diferença. Pois continua atirando para todos os lados, sem acertar nenhum alvo de fato.

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Mas eis que Ana de Armas entra em cena, e ela, de fato, precisa ser considerada como ponto de desequilíbrio – a favor do conjunto, é claro. Sua Eve é uma garota movida pela vingança – o pai foi assassinado diante de si, quando ainda pequena, e como órfã foi levada para ser criada pela Ruska Roma – a organização formadora de brutais assassinas de aluguel comandada por uma irascível Anjelica Huston – que irá percorrer toda a cartilha do gênero: enfrentar exércitos, porém nenhum inimigo capaz de demovê-la de sua obsessão de “fazer justiça” – ou seja, matar aquele que lhe impôs sua maior dor. Porém, quando esse se vê acuado – Gabriel Byrne levando adiante mais um tipo genérico em sua filmografia, incapaz de emitir o medo que seu personagem deveria gerar – só há um homem capaz de fazer frente a ela. Baba Yaga, é claro. Ele próprio, John Wick.

Este talvez seja o maior problema da produção: há muito John Wick num filme que deveria ter as suas atenções voltadas sobre Eve. Os dois possuem um breve encontro no começo da história – e essa troca de bastão deveria ter sido suficiente. A reinserção dele na trama se mostra mais uma muleta do que uma necessidade. É como se os realizadores não tivessem fé que Ana de Armas fosse capaz de dar conta da responsabilidade que sobre ela é depositada. Uma decisão equivocada, é fato. Pois ela já mostrou em mais de uma ocasião estar à altura desse tipo de desafio. E se é divertido vê-la em lutas coreografadas à exaustão e driblando qualquer tipo de credibilidade em tiroteios e combates mais cartunescos do que reais, são tantos os absurdos – até mesmo num contexto de exageros como esse aqui proposto – pelo caminho que a confirmação é inevitável: o erro, mais uma vez, é deles. Resta torcer para que ela volte num próximo capítulo revigorada – e sem tanta bagagem para carregar.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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