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Sinopse

Quando os Irmãos Boonie Bears acidentalmente ficam gigantes após experimentarem uma invenção própria, precisam descobrir como voltar ao tamanho normal. Enquanto buscam um antídoto, os ursos também lutam contra os problemas de poluição que estão acabando com o ecossistema e impedindo que os animais possam viver em paz.

Crítica

A chegada de animações chinesas aos cinemas brasileiros tem contribuído para diversificar um modelo de produção concentrado em padrões norte-americanos. Para uma nova geração de cinéfilos, a animação computadorizada se tornou sinônimo de Pixar, Disney, Dreamworks, Blue Sky e, eventualmente, Laika ou produtoras menores. Mesmo com eventuais mestres asiáticos (Hayao Miyazaki) ou europeus (Michel Ocelot) no horizonte, é benéfico descobrir a existência de modelos distintos de narrativa e estética vindos de países como a China. Os Brinquedos Mágicos (2017), por exemplo, trazia uma aventura singular envolvendo bonecos de chá navegando por mares de pétalas de flores, algo que raramente se veria na sensibilidade ocidental. Agora, Aventura em Miniatura apresenta aos brasileiros os Boonie Bears, protagonistas de uma longa franquia infantil.

Por se tratar do episódio central de uma saga extensa, o filme não perde tempo apresentando estes personagens, ou ainda o humano Vick. “Vocês são uma pedra no meu sapato há anos!”, reclama o jovem inventor, cujas motivações oscilam entre querer matar os ursos ou salvá-los de ameaças maiores. Apesar de estamparem o título e os cartazes, os animais constituem os coadjuvantes de sua própria história, limitando-se a acompanhar Vick numa jornada de reconciliação com o pai. Os ursos se encarregam do humor, funcionando como uma concessão necessária à estrutura de esquetes infantis de Internet, que costuram a narrativa mais longa. Quando a atenção dos pequenos corre o risco de se dispersar, aparece um urso destinado a fazer palhaçadas e exercitar a concentração ainda limitada do público-alvo.

De resto, Aventura em Miniatura trabalha com uma narrativa caótica, que talvez possua mais sentido dentro dos padrões chineses do que da estrutura clássica ocidental. A história gira em torno de uma dúzia de personagens importantes que continuam aparecendo a cada dez minutos: Vick, o pai, os ursos, os macacos, uma repórter humana, os caranguejos ninjas, os sapos, o inseto dentro da casca de um ovo... O protagonista precisa ao mesmo tempo reatar laços familiares, provar seus conhecimentos científicos, salvar os amigos, encontrar uma lanterna, explicar a importância de Nikola Tesla para as crianças, tecer um discurso ecológico sobre a importância dos salmões e da limpeza dos rios, fazer referências a Donald Trump e a Victor Frankenstein. Cada nova cena retira o foco e a importância da cena anterior, enquanto diversos personagens são esquecidos ao longo da trama.

Há muitos elementos de dispersão a partir de uma história que possuía conflitos psicológicos suficientes dentro do núcleo familiar. Rumo à conclusão, a tentativa de unir todas as pontas soltas implica na tarefa hercúlea de equilibrar três subtramas em paralelo, o que implica em malabarismos nem sempre bem-sucedidos da montagem. Ao invés de se contentar em aprofundar uma de suas vertentes, o roteiro se acredita responsável por debater todos os grandes temas e valores importantes aos pequenos, o que resulta numa narrativa inchada e hiperativa. A velocidade acelerada da narração inicial sobre a aproximação e o distanciamento entre pai e filho jamais se acalma dali em diante: o espectador testemunha uma condensação do que poderia ser o material para uma série de televisão completa, simplificando entretanto personagens fundamentais como a repórter e os próprios ursos.

Em termos estéticos, a produção conta com recursos suficientes para uma animação tecnicamente competente. Isso implica na beleza das cenas envolvendo salmões nadando contra a corrente, mas também em efeitos menos cuidadosos como o cabelo da repórter, cujos movimentos são bastante artificiais. O 3D é empregado em sua função primária, ou seja, arremessar objetos em direção à tela para chamar a atenção dos pequenos. Com tantos peixes e ferramentas mecânicas lançadas em direção ao público, a tecnologia torna essa experiência mais próxima de um parque de diversões do que de uma narrativa cinematográfica coesa. Os diretores Leon Ding e Huida Lin estão mais preocupados com a enxurrada de sensações e lições de moral do que com o desenvolvimento dos personagens, razão pela qual estes últimos soam tão acessórios dentro da trama. A narrativa se infantiliza ao apostar no storytelling enquanto ferramenta de distração, ao invés de conduzir o espectador por uma jornada coesa.

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Crítico de cinema desde 2004, membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema). Mestre em teoria de cinema pela Universidade Sorbonne Nouvelle - Paris III. Passagem por veículos como AdoroCinema, Le Monde Diplomatique Brasil e Rua - Revista Universitária do Audiovisual. Professor de cursos sobre o audiovisual e autor de artigos sobre o cinema. Editor do Papo de Cinema.
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