Sinopse
Crítica
É curioso perceber como praticamente todos os atores do elenco principal de Ava já interpretaram assassinos profissionais. John Malkovich esteve nos dois RED (Aposentados e Perigosos, 2010, e Aposentados e Ainda Mais Perigosos, 2013), Colin Farrell ganhou o Globo de Ouro por Na Mira do Chefe (2008), Common, quando se aventura como ator, é praticamente só isso que sabe fazer (como nos recentes John Wick 2, 2017, ou Noite Sem Fim, 2015), e Geena Davis fez exatamente essa mesma personagem em Despertar de um Pesadelo (1996) – seu último longa como protagonista, aliás. Jessica Chastain, por outro lado, já fez de tudo um pouco – esposa atormentada do Brad Pitt, vilã da Marvel, esposa atormentada do Michael Shannon, filha de astronauta, esposa atormentada do James McAvoy, rainha do gelo, esposa atormentada do Nikolaj Coster-Waldau, lobista, trambiqueira, esposa maquiavélica do Oscar Isaac... ou seja, é como se estivesse preenchendo uma cartilha, e faltasse apenas essa opção. Pois bem, é o que enfim consegue por aqui. Porém, a um preço mais alto do que poderia ter esperado, se confirmando cada vez mais longe da atriz que recebeu duas (merecidas) indicações ao Oscar no início da carreira.
Aliás, um dos primeiros destaques da carreira de Chastain foi o drama Histórias Cruzadas (2011). Este filme teve duas atrizes concorrendo ao prêmio de Coadjuvante no Oscar: ela e Octavia Spencer, que foi a premiada. Talvez por isso, o diretor Tate Taylor tenha chamado ela antes, dedicando a amiga um longa como protagonista em Ma (2019), uma bobagem sem pé nem cabeça, mas que ao menos divertia. Ele segue cumprindo a tabela com suas estrelas de projetos anteriores em Ava, dessa vez feito sob medida para a outra. E se o resultado continua absurdo e mal executado, também deixa de lado qualquer possibilidade de humor involuntário por se levar a sério além da conta. O resultado não apenas é cansativo, mas redundante e desprovido de ideias. O que mais chama atenção, no entanto, é o desleixo percebido durante a execução, mas que ainda assim foi capaz de atrair nomes como os apontados no início desse texto.
Ava (Chastain) é uma assassina que atua sob contratos muito bem planejados. Usa perucas – mesmo que apertadas – e disfarces como motorista de uber, mas ao mesmo tempo em que se mostra imbatível em qualquer tipo de combate, seja físico ou à distância, também demonstra compaixão por suas vítimas, se interessando por eles em conversas prévias através das quais tenta descobrir os motivos pelos quais estão marcados para morrer. “Você deve ter feito algo de muito ruim para alguém ter me mandado até aqui”, anuncia antes de eliminar o próximo de sua lista. Como o cara acaba morto em instantes, tais diálogos não deveriam importar a ninguém – mas não é bem assim. Pelo que se percebe, há um rígido código entre esses assassinos, e uma das diretrizes proíbe esse tipo de engajamento. Por quebrar essa regra, acaba na mira de um dos seus chefes (Farrell), ao mesmo tempo em que precisa ser protegida por outro deles (Malkovich).
Como se percebe, nada faz muito sentido. Afinal, apesar de ser infalível em cada uma das suas execuções, decidem riscá-la no mapa apenas por demonstrar razoável interesse por homens prestes a serem abatidos – o que é visto como fraqueza, portanto. E mesmo que isso não afete em nada o resultado do seu trabalho, terá que se voltar contra os que até a pouco a protegiam para conseguir sobreviver. Como se não fosse o suficiente, há ainda um imenso drama familiar no meio desse imbróglio. Pra começar, Ava abandonou mãe (Davis) e irmã (Jess Weixler, de It: Capítulo 2, 2019) há quase uma década, e há um monte de ressentimentos acumulados entre elas. A situação fica ainda pior quando descobre que a caçula está casada – e esperando um filho – de Michael (Common, disparado o pior do elenco), que vem a ser o ex de Ava.
Tate Taylor é um diretor que se propõe como versátil, já tendo transitado do suspense ao drama, da comédia ao thriller, mas o que se percebe em comum em todas essas tentativas é uma mão pesada que volta e meia acaba deslizando para o exagero e a uma evidente falta de habilidade em organizar os elementos que se encontram à sua disposição. Em Ava, mesmo com algo tão genérico pela frente, ele consegue tornar a experiência ainda pior graças ao evidente despreparo em lidar com os signos mais óbvios da trama. As lutas são coreografadas ao extremo (o duelo final), os dublês se mostram despreparados para criar qualquer verossimilhança nos combates (a luta entre Malkovich e Farrell é risível), os diálogos são constrangedores (todas as interações com a coitada da Joan Chen são dignas de pena) e o imenso deserto de criatividade que esse filme se revela afunda de vez quando ousam propor inclusive um cenário para uma bastante improvável continuação. Pelo jeito eles sonham, não é mesmo?
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