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Sinopse

Engenheiro brilhante e sedento por desafios, Thom Laybrick é convencido por um negociante de artes a participar de um mirabolante roubo ao Banco da Espanha. A missão parece impossível, mas não para esses dois talentos.

Crítica

Você provavelmente já viu este filme antes: um grupo de ladrões pouco experiente decide assaltar uma das instituições mais fortemente protegidas do mundo. Eles poderiam invadir locais menos arriscados, porém desejam comprovar suas habilidades de burlar o sistema. Entram em cena o cabeça da equipe; o perito em informática, capaz de invadir câmeras de segurança num piscar de olhos; o especialista em furtos de objetos; o sujeito conhecido por obter equipamentos avançados, a mulher sedutora destinada a distrair os seguranças. O espectador assiste ao plano se desenrolando diante dos seus olhos, na posição de cúmplice privilegiado (somos os únicos a descobrir a ação secreta, sem correr os riscos dos personagens), torcendo pelo sucesso dos heróis em fugirem com o dinheiro, no último minuto, com a polícia em sua cola. Trata-se de uma narrativa de Davi contra Golias, ou dos pequenos enfrentando instituições vistas como corruptas e desonestas (bancos e cassinos), razão pela qual toleramos o crime – se o grupo roubasse dinheiro de um asilo ou de uma instituição de caridade, nossa adesão seria muito diferente. De qualquer modo, você sabe o que esperar desta premissa: a originalidade não constitui uma das virtudes esperadas do heist movie.

Assalto ao Banco da Espanha (2021) oferece uma experiência previsível até os ossos. Nenhum elemento foge ao esperado, seja em termos narrativos ou estéticos. O prazer se encontra menos na descoberta de o quê vai acontecer, do que no testemunho de como o roubo acontece. Para esta estrutura, os meios interessam mais do que o fim. Afinal, o mentor dos planos (Liam Cunningham) deixa claro que seus objetivos vão além da fortuna protegida pelo banco da Espanha: ele o faz por ser um “caçador”, e pela “paixão” do desafio, em suas palavras. Questionado sobre os motivos de aderir ao plano arriscado, Thom (Freddie Highmore) responde: “Porque era impossível”. Assim, a equipe de cinco roteiristas nos fornece um motivo suplementar para gostar destes personagens, ao invés de julgá-los moralmente: eles representam figuras bondosas, preocupadas em expor as falhas do capitalismo ao invés de usufruírem egoisticamente de bens materiais. O texto nos apresenta estes arquétipos um a um, de maneira sucinta: o jovem engenheiro é chamado de “garoto genial”, a companhia petrolífera malvada é batizada de “Big Oil”, e a única personagem feminina desempenha o papel de interesse amoroso de Thom. Os protagonistas possuem funções, ao invés de personalidades. A diversidade se limita às nacionalidades (um alemão, um espanhol, uma britânica etc.), porém evita a pluralidade racial, étnica e de sexualidade.

Ao espectador, pede-se que abra mão de um sem-número de elementos de lógica, abandonados em detrimento de um carrossel de sensações. O aparelho de complexo funcionamento é operado através de um simples botão de “ligar”; os sistemas de segurança mais avançados do mundo são hackeados em questão de segundos; dispositivos caríssimos surgem por milagre nas mãos dos heróis. Personagens invadem os túneis do metrô sem serem percebidos, e o esquema de segurança avançado falha em tarefas elementares. O diretor Jaume Balagueró facilita a tarefa dos protagonistas, não no sentido de impor poucos obstáculos, mas de solucioná-los num passe de mágica. A exemplo de um videogame, a narrativa inteiramente dedicada ao assalto se movimenta por meio de esquetes autônomas: existe a sequência da travessia, de aparência impossível, até os personagens a superarem. Depois, um adversário surpreende o grupo e coloca os planos em risco. Alguém tira uma ideia absurda da manga, se safando no último segundo, e assim por diante. Nesta narrativa, até as imprevisibilidades são previsíveis: sabemos que cada etapa sofrerá com dificuldades, superadas com facilidade decorrente da sorte (ou do destino). O diretor possui tanto prazer em criar desafios quanto em solucioná-los, para poder passar à barreira seguinte.

Apesar de tamanha familiaridade, Assalto ao Banco da Espanha reproduz a fórmula com eficiência. Os autores impõem um ritmo dinâmico ao longo de duas horas de duração, exigindo contorcionismos da montagem (a história salta entre quatro cidades e quatro temporalidades nos primeiros dez minutos). Os cenários do banco, das praças públicas espanholas e das multidões comemorando a Copa do Mundo de 2010 impressionam, aproximando-se do panfleto turístico para o país europeu. A história reforça a imagem de um povo espanhol acolhedor, festivo, vivendo num palco repleto de emoções e tesouros. Há planos aéreos e trilha sonora de aventura suficientes para valorizar os espaços (muitos deles virtuais) e sugerir que a Espanha constituiria, por si mesma, o tabuleiro de um jogo empolgante. Balagueró sublinha a amplitude dos cenários (o hall do banco, a parte interna do cofre, os túneis subterrâneos) sem qualquer ambição de metáforas, ambiguidades ou insinuações. Os significados são simples, dentro de um subgênero que preza pela didática. Ao final, não se aprende nada sobre este banco em particular, a astúcia dos ladrões nem o espetáculo de “pão e circo” proporcionado pela Copa. A trama assume orgulhosamente o papel de uma diversão agitada, mexendo com os sentidos enquanto fornece pouco, ou nulo, material de reflexão posterior.

Devido à simples distribuição das peças, os atores têm personagens pouco complexos em mãos. Freddie Highmore interpreta pela enésima vez o garoto “especial”, superdotado ou perigoso; Astrid Bergès-Frisbey força o sotaque espanhol e a carranca de mulher dotada de um passado sombrio; Famke Janssen sofre com uma peruca falsa, um sotaque falso, e diálogos extraídos de algum livro de espionagem barato, e mesmo o talentosíssimo Luís Tosar se prende ao coadjuvante desprovido de conflitos. O elenco se revela tão empolgante quanto decepcionante, no sentido que a produção obtém grandes nomes, apenas para explorar o mínimo de seus talentos. Em paralelo, pede-se à trilha sonora que introduza a letra da canção “Isso é um crime / Deveria haver uma lei”, e ao roteiro que invente uma reviravolta improvável, além do gancho à sequência. O resultado proporciona um entretenimento escapista, buscando ao máximo agradar o espectador enquanto exige o mínimo dele. Trata-se de um fast food cinematográfico divertido, além de competente em seus aspectos industriais e comerciais. Balagueró domina as regras do gênero, sabendo exatamente com qual público pretende dialogar, e qual mensagem deseja passar. Não se pode acusar o diretor de equívocos ou insuficiências: ele atinge o teor desejado com a eficiência de um operário padrão, feliz em desempenhar o arroz e feijão do cinema-espetáculo.

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Crítico de cinema desde 2004, membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema). Mestre em teoria de cinema pela Universidade Sorbonne Nouvelle - Paris III. Passagem por veículos como AdoroCinema, Le Monde Diplomatique Brasil e Rua - Revista Universitária do Audiovisual. Professor de cursos sobre o audiovisual e autor de artigos sobre o cinema. Editor do Papo de Cinema.
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Bruno Carmelo
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Francisco Carbone
4
MÉDIA
5

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