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Sinopse

Charlie tem sérias dificuldades para se adaptar à nova escola. Encarado como potencial gênio pela professora de literatura, ele vai encontrar alento na parceria com seus agora amigos Patrick e Sam.

Crítica

Um garoto deslocado no colégio onde estuda fica amigo de dois párias fora do ambiente popular e descobre a amizade e o amor na adolescência. Quantos filmes já não foram feitos a partir de uma premissa como essa? A sorte é que As Vantagens de Ser Invisível trabalha ao máximo fora dos clichês e se torna uma obra surpreendente sobre as novas experiências da juventude. Charlie (Logan Lerman), um rapaz de 15 anos, retorna à escola após um período de depressão e tendências suicidas que tem como principais causas a morte de sua tia preferida e do melhor (e único) amigo. Realmente “invisível” para a maioria, começa a história como alvo de chacotas dos garotos populares do colégio. Aos poucos vai ficando amigo do professor de literatura (Paul Rudd, eficiente e fora do modo bobo da corte habitual) e de dois de seus veteranos, os meios-irmãos Patrick (Ezra Miller) e Sam (Emma Watson).

A premissa pode não ser inédita, mas a forma como é conduzida é que revela um grande filme. O curioso é que esta pode ser uma das poucas experiências cinematográficas em que dê (muito) certo o fato do autor do livro original ser também responsável pela adaptação do roteiro, além da direção – tudo ao mesmo tempo. Stephen Chbosky consegue unir todos estes cargos em sintonia, mostrando como o conhecimento sobre sua história e seus personagens (sabendo dar a importância devida a cada um) eleva a superioridade do projeto. Apesar de ser seu segundo longa-metragem, o realizador consegue fazer um longa bem-feito e acima da média não graças a um estilo inovador, mas sim ao conduzir de forma perfeita os diálogos: adolescentes e adultos podem crer piamente no que é dito ou expressado por conta de um âmbito realista. Muitos dos temas tratados fazem parte do cotidiano dos adolescentes de hoje, não só o sentimento de pertencer a um determinado grupo ou amores (quase) impossíveis. Desde a homossexualidade aflorada na pele de Patrick (por sinal, o intérprete Ezra Miller também é gay assumido), o jogador de futebol e aluno popular do colégio que está “dentro do armário”, a pseudointelectual que não coloca nas suas relações o que aprende nos livros, a mulher e a namorada que são agredidas pelos parceiros... pessoas e situações que encontramos todos os dias nas ruas, não pertencendo apenas àquele microuniverso.

Ambientado nos início dos anos 1990, o longa também acerta na reconstituição de época, seja no figurino e nos cortes de cabelo dos personagens, até na ausência de celular e na presença constante dos extintos toca-fitas (algo que quem nasceu naquela época é capaz de nem saber o que é). Inclusive a referência à tecnologia da época é de extrema importância no longa. Em uma das cenas, o trio de amigos ouve no carro Heroes, música que não é reconhecida por nenhum dos três e que gera o início e o desencadeamento de uma paixão. A trilha sonora, por sinal, é mais um grande destaque. O rock oitentista toma conta, seja através de Sonic Youth, The Smiths, entre outros. O gosto musical aqui é colocado como uma forma de união (e às vezes rixa) de pessoas fora do ambiente usual de uma escola. Os deslocados, como o grupo dos amigos de Charlie se autodenomina, busca legitimar ainda mais essa alcunha promovendo a adaptação de um dos musicais mais estranhos, divertidos e símbolo dos chamados “alternativos” dos anos 1970: The Rocky Horror Picture Show (1975).

São muitos personagens que pipocam pela tela. Inclusive, fazendo vários fãs da TV americana felizes: há vários astros de séries, como os pais de Charlie, vividos por Dylan McDermott e Kate Walsh, sem contar a irmã interpretada por Nina Dobrev e a tia Helen (Melanie Lynskey, de Two and a Half Men), mesmo que em participações pequenas, mas não sem importância. A grande maioria do elenco (arrisco em dizer que todos em tela) consegue se desassociar de seus personagens mais conhecidos. Em especial Emma Watson, da qual não percebemos traço da amiga inteligente de Harry Potter em nenhum segundo. Um grande amadurecimento para a atriz. As Vantagens de Ser Invisível torna-se uma excelente produção a partir do momento que transporta uma história que poderia ser apenas o retrato de adolescentes de uma época de forma digna e sem floreios em um tema universal. Imperdível.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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