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Sinopse

Os irmãos Lúcia, Susana, Edmundo e Pedro vivem na Inglaterra, em plena Segunda Guerra Mundial. Em uma de suas brincadeiras, descobrem um guarda-roupa mágico que leva ao mundo mágico de Nárnia. Habitado por seres estranhos, como centauros e gigantes, este lugar já foi pacífico, mas hoje vive sob a maldição da Feiticeira Branca, que o deixou como se sempre estivesse em um pesado inverno. Sob a orientação do leão Aslam, as crianças decidem ajudar na luta contra este domínio maligno.

Crítica

Baseado no texto clássico do escritor inglês C.S.Lewis, As Crônicas de Nárnia: O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa é, na verdade, a quarta adaptação audiovisual desta obra, mas a primeira feita para o cinema – as anteriores, nos anos 60, 70 e 80, foram todas para a televisão, em formato de telefilme, animação ou seriados. E ainda que sua trama – composta por sete volumes – beba direto na mesma fonte de O Senhor dos Anéis (Lewis foi colega de J.J.R.Tolkien, criador da Terra-Média e da saga do Um Anel), esta história foi, no entanto, publicada antes da aventura do hobbit Frodo. Porém, uma análise mais crítica costuma apontá-lo como quase que um rascunho do romance posterior, pois sua estrutura é mais infantil, simplista e impregnada de uma ideologia cristã tão antiquada quanto folhetinesca. E destes mesmos males sofre esta produção mais recente.

Dotado de um visual espetacular, de efeitos especiais bastante convincentes e de uma emocionante trilha sonora, O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa teve um orçamento de US$ 180 milhões e arrecadou nas bilheterias de todo o mundo mais de quatro vezes esse valor. Este longa marca também a estreia em live action do diretor Andrew Adamson, o mesmo de Shrek (2001) e de sua sequência, Shrek 2 (2004). Ainda que tenha sido o primeiro dos sete livros a ser publicado, em 1950, é curiosa sua escolha para ser o primeiro a ser adaptado para o cinema, uma vez que é, de acordo com a ordem cronológica dos eventos ficcionais determinados pelo autor após a conclusão de toda a trama, o segundo. Foi seguido por As Crônicas de Nárnia: O Príncipe Caspian (também o segundo a ser filmado, em 2008) no ano seguinte, e assim seguiu com um novo lançamento a cada ano, até 1956, com A Última Batalha. Porém foi em 1955, com O Sobrinho do Mago, que Lewis explica como tudo começou, esmiuçando a origem do mundo mágico de Nárnia. A versão literária lançada no Brasil pela Editora Martins Fontes colocou-os na ordem de Lewis preferia, facilitando a compreensão deste universo. Já os produtores cinematográficos preferiram seguir outro caminho.

Quatro irmãos – dois meninos e duas meninas – são enviados para a casa de um parente no interior da Inglaterra para fugir da Segunda Guerra Mundial que abala a vida em cidades grandes como Londres. Lá, num gigantesco castelo, acabam descobrindo um portal para uma nova realidade: no fundo de um guarda-roupa está a passagem para Nárnia, um local imerso num inverno constante há cerca de um século. Quem controla o lugar é a Feiticeira Branca (Tilda Swinton, se divertindo), que se auto-intitula a personificação do mal. Mas uma lenda afirma que este período sombrio acabará com a chegada de dois filhos de Adão e de dois filhos de Eva (as crianças), coincidindo com o retorno de Aslan, um Leão todo-poderoso (voz de Liam Neeson, uma escolha acertada). Somente unidos, obviamente, poderão enfrentar a maléfica rainha e restaurar a ordem e a paz.

O problema de O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa é que o desenrolar da ação é muito direto, objetivo, sem muitas nuances. É um filme feito para crianças, com foco nos menores de dez anos. Para aproveitá-lo melhor, é recomendado um baixo grau de exigência em relação ao enredo e contentar-se em se maravilhar com um visual realmente impressionante. Mas, para quem está acostumado com sagas como Harry Potter – ou a já citada O Senhor dos Anéis – é quase impossível conter a decepção. E ainda que tenha ganho um Oscar (Melhor Maquiagem) e rendido até o momento duas continuações, é de se perguntar até quando seus produtores terão fôlego para seguir com esse investimento, pois ao menos até agora o mundo de Nárnia na tela grande não despertou o mesmo interesse obtido pelos livros.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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