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Sinopse

Garota decide abandonar o namorado e fugir para um lugar desconhecido. Antes de partir, porém, ela resolve encontrá-lo, mas eles têm apenas uma hora para fazer um balanço bem-humorado de suas vidas.

Crítica

Muito se especula sobre a possibilidade de Woody Allen filmar seu próximo trabalho no Rio de Janeiro. Mas, caso esta decisão tivesse sido tomada quando o neurótico nova-iorquino tinha 20 e poucos anos, o resultado seria Apenas o Fim, produção nacional discreta, mas dona de alguns méritos evidentes. Certamente não é a melhor produção feita no país nesta temporada, mas também nem pretende este fim. É mais um longa feito por e para jovens que estão saindo da adolescência e ingressando na vida adulta, com todos os dilemas típicos desta faixa etária. E somente quem está vivendo isso – em ambos os lados da tela – saberá reconhecer a contento os valores que aqui são dispostos.

Com roteiro e direção de Matheus Souza, esta é uma comédia romântica sobre um casal que chega ao fim de sua relação amorosa. Ele não entende bem o que está acontecendo, mas ela parece decidida: vai sair de casa e se aventurar pelo mundo. Como a atitude dela diz respeito a um sentimento muito maior do que o que sente pelo namorado, decide avisá-lo, deixando claro desde o início: a próxima hora será a última que passarão juntos antes de sua partida. E neste intervalo de 60 minutos eles decidem fazer o que melhor sabem: conversar.

Erika Mader (sobrinha de Malu Mader) e Gregório Duvivier já haviam atuado juntos em Podecrer! (2007), de Arthur Fontes. A intimidade e parceria entre eles serve muito a este novo filme, pois os diálogos que defendem soam absolutamente naturais e sinceros. Pena que não nos levam a lugar nenhum. Nada irá mudar depois daquele período de tempo determinado, e o que se avisa no início se cumpre no final. Não há paixão entre eles, e sim um combinado de sintonia, amizade e simpatia. Eles funcionam juntos, por mais diferentes que sejam. E talvez seja esta química entre opostos, ligando o nerd à patricinha, o estranho à princesa, que mais chame atenção em todo o projeto. A escolha dos dois atores é, provavelmente, o ponto mais forte do projeto.

Neste ponto chama atenção a mão forte da produtora, Mariza Leão, a mesma de Meu Nome Não é Johnny (2008) e Zuzu Angel (2006), entre outros sucessos. Profissional experiente no mercado, ela tomou uma decisão ao mesmo tempo arriscada e inteligente ao apostar neste misto juvenil de Domingos Oliveira com Gustavo Spolidoro, trazendo para o cenário nacional discursos que até então estamos acostumados a presenciar em longas de nomes como Kevin Smith e Cameron Crowe ou nos livros de Nick Hornby. As referências são múltiplas e extensas, assim como o são na vida real. São muitas possibilidades, diversos canais que, somatizados, dizem muito pouco. De Star Wars aos Cavaleiros do Zodíaco, de hq’s ao cult ainda desconhecido, trata-se de algo feito tendo em mente o mesmo grupo de pessoas que estão na tela. Afinal, serão elas que se sentirão mais recompensadas na sala escura.

Com estrutura bastante teatral, Apenas o Fim é dono de um texto que talvez fosse mesmo mais apropriado aos palcos – onde deveria ganhar uma sobrevida. Premiado no Festival do Rio com a Escolha da Audiência, além de uma Menção Honrosa, trata-se mesmo de uma demonstração de força e comprovação de carisma dos seus protagonistas e da capacidade do roteirista e diretor em capturar a atenção do público por mais de 80 minutos – mesmo que ele não seja tão bem sucedido por todo este tempo. Mas a despeito de seus deslizes, é um filme simpático e despretensioso, duas qualidades que merecem ser valorizadas no cinema brasileiro.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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