Crítica
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Sinopse
Aos 40 anos de idade, Beatriz experimenta uma grande mudança quando sua filha decide estudar fora do Brasil. Pensando que terá mais tempo para curtir o casamento, ela é surpreendida pelo pedido de divórcio do marido. É chegada a hora de começar tudo de novo.
Crítica
Baseado no livro Apaixonada aos 40, de Cris Souza Fontês, Apaixonada é um daqueles filmes que mostram mulheres divorciadas precisando se reinventar depois da emancipação dos filhos. Trata-se de um filão com exemplares no mundo inteiro. No Brasil, a atriz e roteirista Mônica Martelli explorou esse universo primeiro no teatro, depois no cinema com Os Homens são de Marte... E é pra lá que Eu Vou! (2014) e Minha Vida em Marte (2018), produções bem-sucedidas nas bilheterias. A protagonista desta vez é a pequena empresária Beatriz (Giovanna Antonelli), em sofrimento por conta da ida da única filha para uma temporada na Argentina. Mas, o roteiro escrito por Ana Abreu e Sabrina Garcia com colaboração de Rodrigo Goulart não prevê muita atenção a essa síndrome do ninho vazio. Aliás, ao longo do filme, em poucos momentos é crível que a protagonista tenha entrado mesmo numa ligeira crise por conta do corte desse cordão umbilical. Mas, Beatriz nem bem enxugou as lágrimas derramadas pela viagem da garota e seu marido, Alfredo (Danton Mello), anuncia que também está indo embora. É tudo muito rápido e sem força dramática nessa produção que tenta discutir a frágil posição da mulher de meia-idade no mundo atual, mas que acaba reforçando velhos chavões apropriados aos discursos de autoajuda, como a noção de que basta um esforço individual para toda a angústia desaparecer.
A precariedade é quase generalizada em Apaixonada, sobretudo perceptível no modo pouco eficiente de apresentar e desenvolver os problemas que acometem a tensa Beatriz. Prova dessa inconsistência é a participação de Alfredo como pêndulo que vai e volta na vida da protagonista. Sem qualquer olhar crítico, o filme simplesmente mostra esse homem anunciando a separação, em pouquíssimo tempo tentando mecanicamente seduzir a ex-esposa e permanecendo nesse vai-e-vem esquemático até a cena derradeira. Diferentemente dos filmes estrelados por Mônica Martelli, em que a mulher de classe média na casa dos 40/50 anos de idade percebe que nem sempre a felicidade está atrelada a uma companhia masculina, a personagem de Giovanna Antonelli apenas vai experimentando variações do “estar acompanhada”. Primeiro, se envolve com Pablo (Rodrigo Simas), vendedor de sorvete que parece uma caricatura da atual juventude “desconstruída” – chegando ao cúmulo disso na sequência risível em que nem o ator parece se sentir à vontade com o seu coadjuvante definindo as coisas por meio da astrologia, andando de bicicleta elétrica, bebendo água em vez de uma cervejinha no encontro etc. A pergunta que fica é: por que inserir nesse sujeito vários estereótipos atrelados à nova geração preocupada em parecer responsável se isso em nenhum momento revela a inadequação da mulher mais velha?
Beatriz é uma personagem bastante imprecisa, aparentemente feita de uma série de lugares-comuns sobre autovalorização feminina depois de anos dedicada a uma dinâmica familiar. Nada que o filme nos apresenta é suficientemente valorizado para se tornar importante. Além disso, o caminho apresentado à protagonista é demasiadamente esquemático, vide a morte do ente querido justamente quando ela parecia começar a lidar de modo menos doloroso com as perdas recentes. É possível antever praticamente tudo o que vai acontecer nessa trama. Apaixonada sofre de outro problema comum nesse tipo de produção brasileira de aspiração mais comercial, ambientada nas áreas nobres de uma metrópole e com personagens sem preocupações de ordem financeira: o filme é arqui-inimigo do silêncio. Praticamente todas as cenas, incluindo as transições recheadas de cartões postais do Rio de Janeiro, contam com baladinhas genéricas tocando ao fundo. Desse modo, quase não há momentos de contemplação silenciosa, até mesmo porque a trama evolui em desabalada carreira, quase como se fosse preciso atender a determinadas expectativas em detrimento da elaboração dos conflitos e das crises internas dos personagens. Além do mais, outra coisa que realmente não funciona é a quebra da quarta parede, Beatriz conversando diretamente conosco. Se não era para criar cumplicidade, por quê?
Apaixonada apresenta tantas figuras e situações modelares que fica difícil estabelecer qualquer nível de engajamento emocional com o enredo. Beatriz tem como parceiros Jeff (Pedroca Monteiro) e Dora (Polly Marinho), respectivamente o típico melhor amigo gay da mocinha das comédias românticas e a companheira de todas as horas cujo corpo desafia os padrões estéticos da sociedade cultora de músculos definidos e de uma magreza quase inalcançável. Esses dois coadjuvantes existem apenas em função da protagonista. Jeff está ali para sempre puxar a sua orelha a respeito da necessidade de apreciar a vida e ter novas experiências; já Dora é pura e simplesmente um exemplo de aceitação que deve conscientizar a amiga sobre a importância do orgulho próprio. Tudo muito calculado, insosso e sem credibilidade. A história vai sendo contada aos trancos e barrancos, com Beatriz experimentando novas relações para compreender o valor da independência. A mensagem é superimportante, mas conceito e execução são frágeis. De comédia o filme tem quase nada, a não ser que a plateia ache engraçadíssimo uma mulher nervosa deixando cair cerveja ou as tiradas sofríveis do amigo gay que parece ter sido extraído de uma lista de clichês desse tipo de personagem das comédias românticas. De romance talvez ele tenha um pouquinho mais, embora para chegar a essa conclusão seja recomendável ter condescendência, fazer ouvido de mercador e vista grossa. Tentando celebrar a emancipação, o filme vai reiterar velhos paradigmas, criando discursos de autoajuda por meio de diálogos ruins.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 3 |
Francisco Carbone | 3 |
Alysson Oliveira | 3 |
MÉDIA | 2 |
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