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Sinopse

Ann resolve revelar às filhas que no passado amou um homem mais que tudo na vida. Desnorteadas, as irmãs passam a investigar essa história para conhecer profundamente sua mãe.

Crítica

Um dos primeiros contatos de Michael Cunningham com o cinema foi no início dos anos 2000, quando o livro As Horas, de sua autoria, foi adaptado em premiada obra. Pois é ele também que está por trás do roteiro de Ao Entardecer, belo e comovente drama estrelado por um irrepreensível time das mais premiadas e elogiadas atrizes do atual cinema americano. Entre estes dois trabalhos, o autor teve outro filme baseado em sua obra lançado (Uma Casa no Fim do Mundo, 2004) e chegou a passar pelo Brasil, em visita à Feira do Livro de Porto Alegre, em 2001. E em todas estas manifestações artísticas, uma mesma característica se fazia presente: uma incrível sensibilidade em retratar o universo feminino. É jus a este histórico o maior compromisso desse novo longa.

A diferença é que Ao Entardecer não é baseado num material original de Cunningham, e sim no romance de Susan Minot – que, inclusive, roteirizou o próprio livro ao lado dele. A trama se passa em dois momentos distintos: na atualidade, quando uma velha senhora, enferma e alucinando, revela às suas duas filhas um grande segredo do seu passado, e 50 anos antes, quando aconteceram os episódios que ela agora se recorda. Ann está muito mal, mas ainda consegue lembrar dos dias mais importantes de sua vida: quando conheceu o homem que iria para sempre mudar sua visão sobre o amor e a paixão. Isso aconteceu quando foi convidada para ser dama de honra no casamento da melhor amiga, e ao chegar na casa de férias dela encontrou um rapaz que despertava interesse e desejo de todos que conviviam com ele, inclusive a amiga prestes a se casar com outro e até o irmão desta.

São vários os méritos de Ao Entardecer, a começar pelo delicado título, muito bem ilustrado nas suas cenas iniciais. O diretor Lajos Koltai (premiado diretor de fotografia, indicado ao Oscar por Malèna, em 2000, aqui em seu segundo trabalho como realizador) tem uma sutileza ímpar ao tratar de assuntos muito íntimos e sensíveis, como o amor de uma vida, o desejo reprimido, a força de uma amizade e o respeito à honra e tradição. A história se desenrola com cuidado e precisão, revelando aos poucos cada novo nível de compreensão do que está se passando entre os personagens, seus anseios e vontades, frustrações e tristezas. Cunningham e Minot colocam em cena elementos muito bem determinados em situações ricamente ilustradas, que de tão verossímeis chegam a doer pela simplicidade e inevitabilidade.

Outro fator que merece comentários é o dream team à frente do elenco. Vanessa Redgrave é um monstro, e mesmo aparecendo deitada quase o tempo inteiro revela uma força em cada olhar assustadora. Glenn Close tem poucas oportunidades, mas quando esta lhe aparece dá um verdadeiro show. Sua última aparição é de cortar o coração de qualquer um. Assim como Meryl Streep, que encara cada papel como uma obra completa, não importando o tamanho de sua participação, se é protagonista ou uma rápida – porém muito especial – coadjuvante. Ela demora quase duas horas para aparecer, mas a partir do exato momento em que sua voz é ouvida pela primeira vez será impossível conter as lágrimas.

Claire Danes é uma das melhores atrizes da atual geração, e novamente oferece uma performance acima da média. Assim como Toni Collette, que mesmo diante situações-clichê consegue tirar leite de pedra. Natasha Richardson (filha de Redgrave na vida real e no filme) é uma dama, linda e elegante, segura de sua competência e habilidades. Mas revelação mesmo é Mamie Gummer (filha de Meryl na vida real e intérprete do mesmo personagem, quando jovem), que mostra uma fragilidade compatível a uma determinação que só pode ser genética. Do lado masculino, Patrick Wilson e Hugh Dancy são igualmente atraentes, sexies e complexos, justificando plenamente a atração que exercem no desenrolar da ação. Ao Entardecer fala de um mundo que é deixado para trás devido às fatalidades do destino, somado a uma série de decisões erradas e pressões momentâneas. É sobre realidades não concretizadas, mas vislumbradas com tanto ardor e querer que chegamos a acreditar nas suas possibilidades de se tornarem reais. Um filme que, ao nos abandonar em seu final, nos deixas com corpo e alma aos prantos, tristes com o desenrolar de certas questões, mas certos de que foi feito o melhor em cada caso. E satisfeitos por termos vivenciado algo tão gratificante quando universal. Dói pela beleza e sinceridade, da mesma forma que compensa por tudo que levamos conosco desta experiência.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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Robledo Milani
8
Alysson Oliveira
6
MÉDIA
3

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