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Sinopse

Red, Chuck e Bomba vivem tranquilamente em uma ilha cheia de passarinhos felizes. Até o dia em que estranhos porcos verdes invadem o local. A princípio inofensivos, os novos hóspedes parecem estar tramando alguma coisa, deixando inquieto o trio de amigos, que vai se encarregar de descobrir o que está acontecendo.

Crítica

Angry Birds foi um fenômeno impressionante desde que foi lançado em 2009 pela empresa finlandesa Rovio. Sucesso nos celulares, PCs e consoles, foram mais de 3 bilhões de downloads do game, em suas mais variadas versões. Claro que tanta procura fez com que a marca expandisse seus horizontes, saindo dos jogos digitais para camisetas, lancheiras, quebra-cabeças, uma série de desenhos animados e até um jogo de tabuleiro, com direito a estilingue de verdade e tudo. Para coroar este bem-sucedido produto, faltava só um longa-metragem. Faltava. Com direção dos estreantes Clay Kaytis e Fergal Reilly, Angry Birds: O Filme nos transporta para a ilha dos pássaros raivosos, nos mostrando como iniciou sua guerra contra os porcos verdes. Apesar de ter um ponto de partida bastante frágil – visto que o jogo consiste em basicamente derrubar construções e destruir os suínos esmeraldas – o filme consegue transformar este fiapo em um roteiro que tem de tudo para cativar a criançada.

Na trama, descobrimos que naquela ilha dos pássaros, eles simplesmente não voam. Os motivos não são explicitados, mas eles cultuam o único ser por eles conhecido que teria a capacidade de alçar voo: uma mítica águia, que para muitos nem existiu. Quem crê piamente na existência do poderoso bicho alado é Red (Jason Sudeikis, Marcelo Adnet), figura que constantemente entra em encrencas por ter um pavio muito curto. Suas respostas sarcásticas e temperamento explosivo o fizeram virar um párea daquela sociedade e, depois de ter explodido na casa de um de seus pares, é condenado pela justiça à atender a uma terapia contra a raiva. Lá, ele conhece a professora Matilda (Maya Rudolph, Dani Calabresa) e seus colegas de tratamento: Chuck (Josh Gad, Fábio Porchat), Bomba (Danny McBride, Mauro Ramos) e Terencio (Sean Penn, monossilábico). Red tem problemas sociais e não consegue se dar bem com ninguém. Até que desembarcam na ilha o porco Leonard (Bill Hader, Guilherme Briggs) e sua comitiva, conquistando os habitantes de lá pela sua comida e pela sua tecnologia. São eles que apresentam aos pássaros os estilingues, uma forma de chegar aos lugares bem mais rápido. Red desconfia daqueles verdadeiros invasores e tenta alertar seus vizinhos. Ninguém, no entanto, dá ouvidos aquele pássaro. Quando os porcos mostram realmente suas intenções, pode ser tarde demais.

Um dos acertos do roteiro de Jon Vitti (Os Simpsons: O Filme, 2007) foi colocar na personalidade dos pássaros as características dos personagens do game. Portanto, Chuck fala rápido e é agitado pois sua contraparte no jogo tinha essa habilidade da velocidade. Bomba explode (literalmente) porque sua versão interativa também era capaz disso. E assim por diante. Os porcos, que sempre pareceram bastante limitados no jogo, são igualmente obtusos no filme, com apenas o seu rei se mostrando um sujeito pensante. Os demais suínos são versões verdes dos Minions, tentando conquistar a plateia da mesma forma que aqueles lacaios amarelos fizeram em Meu Malvado Favorito (2010). O resultado aqui é inferior no entanto.

Quanto à dublagem nacional, embora não tenham sido utilizados dubladores profissionais em diversos personagens, a qualidade se mantém alta. Fábio Porchat já dublou outro personagem de Josh Gad anteriormente, o Olaf de Frozen (2013), e é o grande destaque do elenco de celebridades. Consegue dar uma qualidade acelerada a um personagem que, por vezes, lembra uma versão moderna do Pica Pau. Marcelo Adnet faz também um bom trabalho, mas um degrau abaixo. Talvez por seu personagem ser menos engraçado, tendo que apresentar um arco do início ao fim do filme. O humor irônico de Red, não raro, cai no lugar comum, o que pode até divertir as crianças, mas não deve convencer os adultos. Do elenco de dubladores profissionais, é sempre um prazer ouvir Márcio Simões (o eterno Gênio da Lâmpada de Aladdin, 1992) defendendo um bom personagem – e a Águia diverte com suas idiossincrasias. No original, o personagem é defendido pelo talentoso Peter Dinklage.

Curioso que tenhamos poucas personagens femininas fortes em um momento em que cada vez mais o público busca por referências de protagonismo em ambos os sexos – Matilda, defendida com segurança por Dani Calabresa, poderia ser um exemplo, mas está sempre em segundo plano. Espera-se que em uma provável continuação, isso seja corrigido. No todo, Angry Birds: O Filme mais acerta do que erra, sendo um programa que tende a divertir mais a plateia infantil. Ainda que existam algumas referências que apenas adultos entenderão (a inclusão de uma citação a O Iluminado, 1980, é tão divertida quanto descartável), isso não bastará para que o público mais velho saia plenamente satisfeito do cinema. Uma coisa é certa, no entanto: dá uma vontade danada de sair do cinema e baixar o game no celular para voltar a jogar. Esse obviamente era um dos objetivos e nisso eles acertaram em cheio.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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