Amor, Sexo e 30 Velinhas
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Stephina Zwane
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Love, Sex and 30 Candles
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2023
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África do Sul
Crítica
Leitores
Sinopse
Crítica
Quatro amigas estão prestes a completar 30 anos de idade. Cada uma com demandas diferentes, mas todas distantes dos sonhos alimentados na época da faculdade – ainda que o quarteto se encontre economicamente bem-sucedido e independente. Amor, Sexo e 30 Velinhas enxerga essas mulheres como vítimas de uma estrutura patriarcal duradoura que constantemente coloca empecilhos nas trajetórias femininas. A intenção é muito bem-vinda, afinal de contas a discussão sobre os modelos que criam opressores e oprimidas é de suma importância para construirmos um futuro menos desigual e discriminatório. No entanto, as boas intenções não são suficientes para tirar o longa-metragem sul-africano de um terreno simplório e às vezes até moralista. Seu discurso é menos afirmativo e mais de autoajuda. Além disso, há um medo tremendo por parte da diretora Stephina Zwane de que algo possa macular a amizade idealizada. Prova disso, o fato de precisar “justificar” a pulada de cerca de uma com o namorado da outra – ela bebeu e estava fora de si. Ora, será mesmo preciso desinvestir a personagem de sua plena consciência a fim de preservá-la e garantir o perdão? Claro que não, mas para chegar à conciliação de modo menos esquemático e simplista seria necessário elaborar melhor as protagonistas, não se atendo apenas ao que representam nessa denúncia suave do machismo que sempre as compromete.
Nada contra a eleição escancarada de vilões e mocinhas. Isso faz parte do que o filme defende, justamente a valorização da sororidade feminina em detrimento dos comportamentos irresponsáveis de homens que atuam como se o mundo precisasse se curvar às suas vontades. Mas, o filme poderia relativizar as relações de causa e efeito, mergulhar de modo menos banal na personalidade das protagonistas, trata-las como entidades multidimensionais, capazes de errar, se arrepender e consertar as coisas, não como figuras unidimensionais que agem de acordo com esquemas encarregados de preservar as lições de moral. A professora de psicologia Dikeledi (Amogelang Chidi) é apaixonada pelo namorado, com quem tem uma filha por ele negligenciada; a estilista Nolwazi (Bahumi Madisakwane) é aquela que, no momento de fraqueza pela bebedeira, transa com o pretendente da amiga e engravida; a produtora de cinema Linda (Candice Modiselle) está às voltas com os cuidados paliativos da mãe gravemente doente e a consciência de sabotar seus relacionamentos amorosos quando eles ficam sérios; e, por fim, Sade (Gabisile Tshabalala) é a noiva incessantemente diminuída pelo marido militar e religioso que a trata como uma propriedade a ser consagrada aos dogmas de sua crença. Ao longo do filme, as quatro completarão 30 anos e terão momentos para repensar seus problemas.
O roteiro assinado por Stephina Zwane e Zoë Arthur, baseado no livro The 30th Candle, de Angela Makholwa, tenta distribuir uniformemente o tempo entre as quatro protagonistas, nisso sendo parcialmente bem-sucedido. Sim, pois, embora essa partilha aconteça de fato, ela não consegue equilibrar os dilemas que atravessam cada uma das amigas. Por exemplo, a tensão entre Dikeledi e Nolwazi ganha mais espaço para ser problematizada, até porque afeta o grupo como todo, assim tirando terreno da elaboração das questões pessoais de Linda. A produtora está se reaproximando do pai ausente (outro arquétipo da masculinidade tóxica) à medida que sua mãe definha no hospital. O filme nem observa as sinuosidades desse processo e tampouco avança em uma tese timidamente sugerida: as dificuldades amorosas de Linda, especialmente a aversão por compromisso, tem a ver com o trauma da infância testemunhando a mãe solitária. Isso está ali, nas entrelinhas, mas não vai para frente por falta de ímpeto. De forma parecida, Sade fica restrita à sucessão de babaquices do futuro marido que a deseja submissa. Mas, por que ela se submete? O que a fez tomar o caminho e aceitar desesperadamente o matrimônio, mesmo com um homem que a agride física e emocionalmente? Falta esse background a todas as amigas, o que minimiza o peso dramático de atitudes individuais, reviravoltas e dos impasses.
Então, a mensagem final de empoderamento e independência é mais do que bem-vinda. Ela é urgente, assim como o tratamento desdenhoso aos homens que batem, oprimem, abandonam, chantageiam e se isentam. Até aí tudo certo. O problema é que Stephina Zwane não consegue ir além de criar um conto moral com personagens que têm de agir de determinada maneira para atingir a plena felicidade, sem a previsão de qualquer camada ambivalente ou mesmo atenção/ acolhimento às contradições que nos fazem humanos. A realizadora tampouco faz questão de perceber os comportamentos como sintomas/indícios de funcionamento de classe, uma vez que todos os personagens vivem confortavelmente do ponto de vista econômico. Amor, Sexo e 30 Velinhas é refém de sua pouca ambição como cinema, do simplismo de uma mise en scène que não valoriza as questões postas à mesa para além da antes citada relação restritiva de causa e efeito. A direção de arte somente gera espaços críveis, mas tem pouca personalidade própria – estar na casa de uma ou de outra protagonista faz realmente pouca diferença, pois os cenários são parecidos e/ou pouco explorados em suas singularidades. No fim das contas, sobra a sensação confortante vinda da resolução dos problemas. As boazinhas se dão bem, apesar dos pesares, e os maus são devidamente punidos. É confortável, idealista e sem grandes surpresas.
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