Amor em Jogo

Crítica


2

Leitores


1 voto 8

Onde Assistir

Sinopse

Ami Shushan, jogador de futebol israelense, é forçado pelo chefe da máfia local a se passar por homossexual como punição por flertar com sua namorada. Shushan é rejeitado por jogadores e fãs de sua equipe, mas se torna um herói da comunidade gay.

Crítica

O único atrativo de Amor em Jogo – provavelmente o que o está fazendo chegar ao circuito comercial brasileiro – é a presença de Gal Gadot no elenco. Este longa-metragem israelense foi rodado antes da atriz se transformar na Mulher-Maravilha do Universo DC. E, curiosamente, se no blockbuster baseado nos quadrinhos ela interpreta uma mulher forte, nesta comédia torta e recheada de vulgaridades Gadot encarna uma personagem bastante questionável pela forma como lida, apenas da boca para fora, com a subserviência aos machos circundantes. É por flertar com essa jovem “comprometida” com um gângster local que o protagonista, o astro do futebol Ami Shushan (Oshri Cohen), se mete numa enrascada daquelas. O bandido o obriga a convocar uma entrevista coletiva para “anunciar” a sua homossexualidade. E o que poderia, mesmo bem simploriamente, se transformar numa jornada de real aprendizado, vira um desfile de bobagens.

20191027 amor em jogo 5

São tantos os problemas de Amor em Jogo que fica difícil estabelecer uma hierarquia deles. Claro que há a homofobia decorrente da “punição” imputada a Shushan, com os colegas de vestiário fazendo troça da orientação sexual recém-assumida e os torcedores hostilizando o atacante nas arquibancadas, independentemente do seu desempenho em campo. Embora isso seja infelizmente crível, não há um ímpeto de criticar, mesmo que superficialmente, a conjuntura preconceituosa na base da discriminação. O próprio boleiro está mais preocupado com perdas e ganhos financeiros, passando longe de exatamente criar empatia por uma população constantemente agredida. Quando a fama de “jogador gay” rende dividendos, o rapaz nem mais se incomoda tanto com a mentira sustentada para sobreviver. O filme poderia afrontar essa conduta, mas prefere fazer ouvido de mercador e, inclusive, entender o twist como uma compensação bem-vinda.

Amor em Jogo tem diálogos constrangedores, como quando o contraventor Kushi Bokobza (Eli Finish) se refere desta forma à amada, em meio à imposição de uma cirurgia para implante de prótese mamária: “Você é como um belo apartamento, mas sem sacada para a gente tomar um sol”. É compreensível que a jovem vivida por Gal Gadot tenha medo de contrariar o pretendente agressivo, mas a falta de substância da personagem aponta a uma sujeição não completamente delineada pelo medo. Sequências tolas, tais como Shushan vencendo a resistência de ortodoxos com suas habilidades futebolísticas, são frequentes, o que torna o longa um desperdício quase completo. A comunidade LGBTQI+ é vista de modo absolutamente tipificado. E, irônico, o que mais deflagra isso é a campanha dos ativistas gays contra “os estereotipados”. Ora, ao invés de abraçar a diversidade dos seus integrantes, o grupo, para “vender-se”, está em busca de padronização?

20191027 amor em jogo 4

Ami Shushan, mesmo discursando publicamente em favor dos homossexuais, num encerramento bobo, apenas consegue de volta seu status outrora perdido por, imaginem, voltar a “ser” heterossexual. Dentro das circunstâncias apresentadas, seria querer demais do cineasta Shay Kanot que colocasse, ao menos um pouco, em perspectiva as condutas homofóbicas dos demais jogadores do time e da torcida. Tudo se resolve, como num passe de mágica, quando o protagonista volta a encaixar-se no padrão mais aceito socialmente. Ele pode até ter apoiado a causa gay num ato isolado, para poucas pessoas, mas retorna aos braços da mídia por desmentir o que o desgraçara diante da opinião pública. Amor em Jogo passa muito distante de afrontar o preconceito, utilizando-o como catapulta para o esportista reencontrar o caminho da fama, nem bem apostando num possível aprendizado. Além disso, as cenas do jogo são tão mal filmadas que não convencem.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
avatar

Últimos artigos deMarcelo Müller (Ver Tudo)

Grade crítica

CríticoNota
Marcelo Müller
2
Francisco Russo
1
MÉDIA
1.5

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *