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Sinopse

A vida de Louis, um menino de doze anos, muda completamente quando a nave espacial de três alienígenas cai nos fundos do quintal de sua casa. Seu pai, um ufologista famoso, congelaria os novos amigos na primeira oportunidade, por isso ele precisa protegê-los e ajudá-los a descobrir o paradeiro da nave-mãe, para que só assim consigam voltar para casa.

Crítica

O protagonista de Amigos Alienígenas é um menino solitário que, não bastasse ser relativamente invisível na escola, ainda precisa conviver com um pai negligente, dedicado obsessivamente a questões ufológicas. Para melhor observar as estrelas, tentando captar a presença de vida extraterrena, Armin dorme o dia inteiro e trabalha a noite toda, ou seja, convive apenas circunstancialmente com o pequeno Louis. A criança, então, é obrigada a fazer o serviço doméstico, a preocupar-se com as contas que se avolumam na lixeira (sem pagamento, é bom dizer) e outras coisas que não deveriam ser assunto infantil. Todo esse cenário permite a possibilidade iminente dele ser levado para morar num lar de infantes abandonados, opção aterradora, especialmente por conta do ar indefectivelmente vilanesco da diretora da instituição. Eis que, contrariando as probabilidades, três alienígenas coloridos desembarcam na Terra, enfeitiçados pelo comercial de esteira massageadora, e o encontram.

Do ponto de vista meramente técnico, Amigos Alienígenas está bem aquém da maioria das animações que chegam ao circuito. Com figuras de mobilidade e expressões reduzidas, detalhes deixados em segundo plano, a narrativa tenta se apoiar no suposto carisma dos personagens, bem como na empatia gerada com o menino que encontra na inesperada aventura uma área de escape de seus problemas cotidianos. Todavia, a recorrência frequente a lugares-comuns e a pouca disposição dos diretores Christoph Lauenstein, Wolfgang Lauenstein e Sean McCormack a desenvolver melhor as circunstâncias fazem do conjunto refém de momentos esparsos de diversão. Os seres de outro planeta podem metamorfosear-se ingerindo cabelos ou mesmo pelos, o que gera instantes engraçados. Porém, o expediente perde efetividade por conta de sua repetição sem variações e criatividade. De determinado momento em diante, a habilidade é destituída totalmente de graça.

Amigos Alienígenas, embora seja obviamente indicado a espectadores menores, investe na demonstração da omissão paterna, sem, contudo, oferecer um tom crítico substancial. Armin é, a despeito da redenção forçada do final, um sujeito egoísta que realmente coloca em risco seu filho, física e emocionalmente. O aprendizado de uma lição, quando prestes a perder aquele que quase tardiamente reconhece como seu grande bem, não é suficiente para configura-lo numa figura confiável. Nem bem o arrependimento, esse ato de cair em si, é aproveitado no longa-metragem para robustecer as lições do clímax. O desenho da família aparentemente perfeita de vizinhos não permite um contraponto sólido com a situação de Louis. O diretor da escola, a colega que se acha jornalista e está sempre em busca de um furo, nada disso funciona a contento, senão como meros elementos contextuais. Os forasteiros são carismáticos, mas não demoram a cair na vala de reincidências.

Fato curioso, os extraterrestres amigáveis possuem cores bem parecidas com as dos protagonistas de Monstros S.A. (2001), e um deles ostenta silhueta vagamente parecida com a de Mike, o caolho chamado de “zoiudinho da mamãe” na produção da Pixar. Não parece coincidência, embora seja apenas fisicamente que se dê essa mimese (cópia?). A mensagem de Amigos Alienígenas é de conciliação, com a amizade estabelecida entre Louis e as três criaturas funcionando para colocar a vida de todos nos eixos. Antes do previsível final feliz – com direito à varredura para debaixo do tapete de certas questões, como a personalidade avoada do pai –, uma sequência de tensão que guarda boas surpresas. Mas, o saldo, infelizmente, é negativo, principalmente em virtude da ausência de personalidade, da leviandade com que trata fatos complicados. Dono de uma concepção visual genérica e de uma execução que deixa muito a desejar, é apenas razoável, isso com boa vontade.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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