Crítica


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Sinopse

Numa manhã tranquila, estudantes vislumbram pelas janelas paraquedistas aterrissando num campo de futebol. Trata-se da invasão dos Estados Unidos. Na medida em que a cidade é tomada por militares, oito jovens escapam às montanhas e formam uma guerrilha.

Crítica

Imagine um cenário em que a União Soviética tivesse de fato vencido os Estados Unidos em plena Guerra Fria. Pois esta é a premissa básica de Amanhecer Violento, longa de relativo sucesso do início dos anos 1980 e que agora, cerca de três décadas depois, ganhou um remake vitaminado. Essa nova versão só suscita, no entanto, uma revisão do longa original, pois qual o motivo de refazê-lo caso o mesmo não contivesse em si algo válido que justificasse uma releitura atualizada? Porém, ao vê-lo novamente, esta própria questão soa mais como mera retórica, pois o que naquela época até encontrava alguma ressonância, hoje em dia tende a soar como velho e ultrapassado.

A própria sinopse já é confusa aos ouvidos atuais. Afinal, o que é União Soviética? A grande ameaça que por anos ameaçou a tranquilidade ocidental com o perigo comunista hoje nada mais é do que uma ironia esfacelada pelo tempo. Pois se na refilmagem eles foram substituídos pela Coréia do Norte, em 1984 o maior medo era ter que confrontar os soviéticos cara a cara – exatamente o que acontece em Amanhecer Violento. O dia começa como todos os outros na pequena cidade do interior dos Estados Unidos. Porém, enquanto o professor de história fala sobre conflitos do passado, estudantes observam do lado de fora da janela militares pousando de paraquedas. A cena é rápida, e quando a até então autoridade da sala de aula sai para pedir explicações, o que recebe de resposta é uma saraivada de tiros, derrubando-o de imediato. O mundo daqueles jovens – e de todos os americanos, pelo que se percebe – mudou num piscar de olhos. A Terceira Guerra Mundial começou, e chegou a hora do salve-se quem puder.

A ação de Amanhecer Violento começa logo após esse prólogo, quando um grupo de adolescentes se refugia nas montanhas próximas à cidade para organizar uma resistência, primeiro aos trancos e barrancos, depois numa estrutura mais militarizada. Retrato de uma América liderada por Ronald Reagan no comando de um governo republicano, o longa defende ideias como a lei do mais forte, a força do combate armado e um forte espírito nacionalista, que mesmo diante as mais controversas condições não se deixa abater. Os desenlaces da maioria dos embates hoje podem ser vistos como ingênuos e até amadores, mas naquela época refletiam uma imaginário da ficção, e não algo real e crível como vivemos no pós-11 de setembro. É possível afirmar, por outro lado, que alguns filmes envelhecem bem, enquanto que outros não conseguem evitar a sensação de serem percebidos como datados com o passar do tempo. E este está inevitavelmente nesta segunda categoria.

Dirigido por John Milius, que vinha de uma indicação ao Oscar pelo roteiro de Apocalypse Now (1979) e do sucesso popular de Conan: O Bárbaro (1982), Amanhecer Violento reuniu no elenco nomes que iriam estourar com o grande público nos anos seguintes. Em seu primeiro projeto como protagonista, Patrick Swayze quase nada faz no tempo que lhe é oferecido, tendo ao seu lado o colega de Vidas Sem Rumo (1983) C. Thomas Howell (visto há pouco em O Espetacular Homem-Aranha, 2012), o polêmico Charlie Sheen, em sua estreia cinematográfica, uma Lea Thompson pré-De Volta Para o Futuro (1985) e Jennifer Grey, poucos anos antes dos dois (ela e Swayze) estourarem juntos como casal em Dirty Dancing: Ritmo Quente (1987). Há ainda pequenas participações do vencedor do Oscar Ben Johnson (Melhor Ator Coadjuvante por A Última Sessão de Cinema, 1971), de Harry Dean Stanton (de Alien: O Oitavo Passageiro, 1979, e Os Vingadores, 2012) e de Powers Boothe (Sin City: A Cidade do Pecado, 2005), todos conferindo ainda mais prestígio à produção. Sucesso de bilheteria, foi um dos mais vistos daquele ano, ficando à frente de títulos como O Exterminador do Futuro (1984), por exemplo. De qualquer forma, trinta anos depois só pode ser conferido mais como uma curiosidade e o retrato de uma época que, felizmente, está muito distante. Ou será que não?

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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