Crítica


8

Leitores


4 votos 8

Onde Assistir

Sinopse

Sujeito folgado que vive às custas de seu irmão, Ali Babá é expulso de casa pela cunhada furiosa. Nas ruas, ele conhece uma ex-trapezista circense que ficou paralítica após um acidente. Logo apaixonado, ele vai tentar conseguir dinheiro para o tratamento de sua amada. E as coisas parecem encaminhadas quando ele se depara com 40 ladrões.

Crítica

Este foi o longa que iniciou a bem-sucedida série de adaptações paródicas de histórias clássicas da literatura que marcaria boa parte da carreira cinematográfica dos Trapalhões, um fato que por si já o coloca em um lugar especial dentro da obra do grupo. Mas, além da relevância histórica, tendo sido também o primeiro grande êxito comercial da então dupla Renato Aragão e Dedé Santana, o filme dirigido por Victor Lima possui outras qualidades como realização que merecem ser consideradas. A trama acompanha o personagem do título, Ali Babá (Aragão), um simpático boa-vida que faz de tudo para evitar o trabalho. Ganha uns trocados revendendo cocos na praia, fila o almoço na mercearia de seu irmão, Cassim (Santana), e passa a maior parte do tempo na companhia dos artistas de um modesto circo.

ali-baba-quarenta-ladrões-trapalhões-papo-de-cinema-01

Entre estas figuras do picadeiro está Rosinha (Neila Tavares), uma bela trapezista que ficou paralítica após se acidentar durante uma apresentação e por quem Ali Babá nutre uma paixão platônica. Certo dia, ao sair à procura do garoto Tavinho (Sérgio Cunha), irmão de Rosinha, Ali se depara com uma montanha que serve de esconderijo para as mercadorias de um grupo de contrabandistas. Dentro da montanha, que assim como no conto original de As Mil e Uma Noites tem sua entrada aberta quando proferida a sentença “Abre-te Sésamo!”, o protagonista encontra um carregamento de ouro e uma mala com dinheiro falsificado, vendo a oportunidade de conseguir o montante necessário para pagar a operação de Rosinha.

Com vasta experiência como roteirista, produtor e diretor de chanchadas nas décadas de 50 e 60, além de já ter comandado Didi em Bonga: O Vagabundo (1971), Victor Lima demonstra um ótimo timing cômico, se valendo de um dos roteiros mais enxutos e diretos da filmografia dos Trapalhões. As subtramas rocambolescas e os momentos aleatórios de absurdo, típicos das histórias estreladas pelos comediantes, são deixados de lado desta vez. Existe, sim, uma trama paralela, envolvendo um grupo de agentes secretos disfarçados de hippies, mas que é inserida no contexto geral sem causar grandes ruídos na narrativa. Algumas piadas são bem acima da média e até ousadas, especialmente as tiradas irônicas referentes à Igreja, como na cena em que, após um longo sermão sobre a ganância e o dinheiro, o Padre (Fernando José) pede por doações dos fiéis.

ali-baba-quarenta-ladrões-trapalhões-papo-de-cinema-03

Os momentos fantasiosos também aparecem em menor escala, até mesmo a abertura da entrada da montanha dos ladrões ganha uma “explicação tecnológica”. Talvez a única exceção neste quesito seja a agitada sequência em que Ali Babá pilota uma lancha em terra firme, desafiando as leis da física. Há também outros elementos que seriam explorados em longas posteriores do grupo e que surgem discretamente, como o universo circense e a relação de amizade entre Didi e uma figura infantil. O elenco homogêneo contribui para o bom desenvolvimento da comédia, com destaques para o delegado interpretado por Francisco Silva, o chefe dos contrabandistas Ezequiel (Luiz Delfino) e para Elisa Fernandes como Fátima, a cunhada que vive em pé de guerra com Ali Babá.

Mas o grande trunfo do longa é mesmo Renato Aragão, que se apresenta em um de seus momentos mais inspirados. Disparando trocadilhos ágeis e frases de efeito sem pausas, além de reforçar bordões clássicos como “Isso é um trabalho para o Super-Homem!”, o humorista carrega a história praticamente sozinho durante o primeiro ato. As conversas com o burro Malaquias, as já citadas provocações feitas à sua cunhada e cenas como aquela em que aprende a pilotar um avião monomotor lendo o manual na hora estão entre os pontos altos da trama. Já a piada envolvendo a atriz Regina Duarte ganha ares de metalinguagem, quando Didi vê a foto da atriz na capa de uma revista e afirma que um dia irá trabalhar ao seu lado, algo que de fato ocorreria em O Cangaceiro Trapalhão (1983).

ali-baba-quarenta-ladrões-trapalhões-papo-de-cinema-02

Isto não significa que o trabalho de Lima seja isento de falhas, como o alongamento exagerado, e contumaz, de algumas sequências de ação ou a resolução apressada da ameaça dos contrabandistas. As passagens do roteiro que mostram uma relação mal resolvida entre Morgana (Elza de Castro), afilhada de Ali Babá, e um piloto de barcos, juntamente com o flerte entre a personagem e um dos agentes federais, não acrescentam muito, gerando até uma cena romântica clichê que aparece bastante deslocada na trama. São pequenos deslizes, mas que não chegam a comprometer efetivamente o divertido resultado final de um dos longas mais redondos da dupla Didi e Dedé e que ainda reserva um dos momentos emotivos mais singelos da obra dos humoristas, talvez superado apenas pela já clássica cena da máscara do burro de Os Saltimbancos Trapalhões (1981).

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
avatar
é formado em Publicidade e Propaganda pelo Mackenzie – SP. Escreve sobre cinema no blog Olhares em Película (olharesempelicula.wordpress.com) e para o site Cult Cultura (cultcultura.com.br).
avatar

Últimos artigos deLeonardo Ribeiro (Ver Tudo)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *