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Sinopse

Henry “Razor” Sharp e Billy “The Kid” McDonnen são dois pugilistas que chamam a atenção dos holofotes pela feroz rivalidade entre si. Cada um venceu uma disputa entre eles quando estavam em seus apogeus, mas em 1983, às vesperas da terceira e decisiva luta, Razor anuncia sua aposentadoria. Trinta anos depois, eles recebem uma oferta que não podem recusar: voltar aos ringues e ajustar as contas de uma vez por todas.

Crítica

Rocky Balboa VS. Jake LaMotta. Ou quase isso. A ideia por trás de Ajuste de Contas em utilizar os intérpretes destes dois grandes personagens (um fictício, outro nem tanto) em um duelo de titãs causava bastante controvérsia. Mais de trinta anos depois dos clássicos Rocky: Um Lutador (1976) e Touro Indomável (1980), Sylvester Stallone e Robert De Niro conseguiriam convencer como ex-boxeadores prontos para um revival? O primeiro, é bem verdade, manteve o físico avantajado e, aos 67 anos, continua arriscando em filmes de ação. Já De Niro, um senhor passando dos 70, nunca foi reconhecido pela forma física. Ou seja, a pergunta era apenas uma: o quão embaraçoso seria vê-los neste filme, manchando personagens imortais como Balboa e LaMotta? A resposta: nem tanto. Ainda que não seja um filme excepcional, Ajuste de Contas diverte em grande parte, principalmente pela performance do elenco.

Com roteiro de Tim Kelleher e Rodney Rothman, o longa conta a história de dois rivais no boxe: Henry “Razor” Sharp (Stallone) e Billy “The Kid” McDonnen (De Niro). No auge da carreira dos lutadores, cada um perdeu apenas uma luta – justamente para seu maior inimigo. Quando chegava a hora do confronto que desempataria a disputa, Razor resolve abandonar o boxe, deixando Kid enfurecido. 30 anos depois, uma reportagem na tevê relembra a rivalidade da dupla, chamando a atenção do público novamente para os dois ex-boxeadores. O boquirroto empresário Dante Slate Jr. (Kevin Hart) consegue convencer ambos a participarem de uma luta histórica e os idosos ex-atletas voltam a treinar, cada um pelos seus motivos. Razor precisa do dinheiro para ajudar seu velho treinador Lightning (Alan Arkin) e para se reestruturar financeiramente. Já Kid só quer provar a todos que poderia ter vencido seu rival. Para ajudá-lo no treinamento, seu filho até então desconhecido B.J. (Jon Bernthal) é convidado, dando um toque familiar para a solitária vida de McDonnen.

O início de Ajuste de Contas é o mais próximo de uma luta entre Rocky Balboa e Jake LaMotta que poderíamos assistir na telona. No prólogo, vemos Stallone e De Niro em suas versões jovens, lutando no ringue e vencendo uma disputa cada um. Obra de efeitos especiais, o visual dos atores relembra seu passado – principalmente Stallone, que exibe suas madeixas da época de Rocky III: O Desafio Supremo (1982) Rambo: Programado para Matar (1982). Depois disso, encontramos os astros já envelhecidos, cada um vivendo uma realidade bastante diferente. Enquanto Razor é um trabalhador braçal, McDonnen conseguiu investir seu dinheiro, gerenciando um restaurante e se apresentando com um número de humor (emulando a trajetória de Jake LaMotta), além de ter uma revenda de carros a qual ele não cansa de tentar promover. Ambos têm necessidade de vencer. Não só pelo dinheiro. Pela história.

Peter Segal é um diretor competente quando procuramos comédias descompromissadas. São dele os hilariantes Corra que a Polícia Vem Aí 33 1/3 (1994) e Agente 86 (2008), ambos com ótimas piadas e boas performances do elenco. Ajuste de Contas não é diferente. Obviamente, as gags e tiradas são concentradas em relação à idade dos protagonistas. Sobra algumas tiradas em cima de Rocky e Touro Indomável, e até para o esporte do momento, o MMA.

Ainda que o timing cômico de Stallone não seja dos melhores, ter ao seu lado Alan Arkin é sempre uma vantagem. O ator está engraçadíssimo como o ex-treinador que só pensa em sexo e simplesmente não tem papas na língua. Arkin está se especializando no tipo, cada vez mais à vontade em papeis que exijam a conhecida insolência idosa. Ainda no quesito “ator coadjuvante”, Jon Bernthal faz um perfeito filho de Robert De Niro, conseguindo copiar alguns trejeitos, além de ter conseguido ficar muito parecido com o veterano ator. Mesmo que De Niro esteja ali apenas pelo contra-cheque, ainda consegue fazer rir em alguns momentos – mais do que Stallone, ao menos.

O real problema de Ajuste de Contas é quando o filme esquece de ser engraçado para tentar dar algum peso aos personagens. A ideia é boa, logicamente. Mas mal executada, é um tiro pela culatra. A presença de Kim Basinger como um catalisador para as desavenças entre Razor e Kid soa sempre deslocada, e algumas cenas beiram o ridículo por serem apenas tentativas em complicar o status daqueles personagens. Desde acidente de carro, passando por irresponsabilidades em um bar com uma criança, os problemas criados para aqueles sujeitos parecem pontos de checagem em um roteiro. Como se pudéssemos ouvir os roteiristas dizendo: precisamos de um problema aqui, uma resolução aqui, uma saída aqui. Formulaico demais.

Para piorar, e isso pode ser um pequeno spoiler, quando finalmente é chegado o momento da luta final, Segal resolve nos deixar de fora do ringue. Apenas alguns rounds nos são mostrados com detalhes, com uma montagem dos “melhores momentos” nos sendo exibidos ao som de música e locução. Acompanhamos quase duas horas de história por aquele momento – e ele acaba nos sendo tirado de alguma forma. De qualquer maneira, o desfecho traz alguns bons jabs. Afinal de contas, boxe é um dos esportes mais cinematográficos, tendo dado origem a grandes filmes e ótimas sequências dentro do ringue.

Só pelo fato de conseguir não ser constrangedor, Acerto de Contas merece certo crédito. Por ser bem sucedido em suas tentativas de fazer rir e por nos entregar cenas iniciais que colocam frente a frente Rocky Balboa e Jake LaMotta, este trabalho de Peter Segal acaba sendo uma boa surpresa, apesar dos pesares. Ah, e não saia antes do final dos créditos. Outro acerto de contas poderá ser resolvido pelo mequetrefe agente Dante Slate. Espere e verá.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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