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Sinopse

Miguel e um grupo de amigos se engajam em uma série de ataques contra a Ditadura Militar no Brasil durante a década de 1970. O grupo acaba sendo capturado e torturado pelos militares, e nesse processo Miguel perde sua namorada. Anos depois ele reconhece o oficial responsável por essa tragédia em uma foto no jornal, e decide juntar seus antigos e companheiros para caçar o assassino, porém, essa jornada vai revelar o pior neles.

Crítica

Em seu primeiro filme, Os Matadores (1997), Beto Brant chamou atenção, já abocanhando o Kikito de Melhor Diretor no Festival de Gramado, além de outros prêmios importantes, como o de Melhor Filme pelo Júri da crítica. Hoje, mais de 20 anos depois, sabemos que não era apenas sorte de estreante, visto que Brant se revelou um dos diretores mais interessantes e criativos da nossa cinematografia. Mas, em 1998, quando do lançamento de seu segundo longa, existiam dúvidas se o bom resultado daquela obra inaugural seria repetido. Com tempo mais enxuto, elenco igualmente competente e alguns nomes reprisando funções (como Marçal Aquino no roteiro e André Abujamra na trilha sonora), Ação entre Amigos é ainda mais impactante que seu antecessor, trazendo à baila uma história de vingança, amizade e traição.

Na trama, acompanhamos o encontro de quatro amigos de longa data, guerrilheiros contra a Ditadura Militar em sua juventude: Miguel (Zecarlos Machado), Elói (Cacá Amaral), Paulo (Carlos Meceni) e Osvaldo (Genésio de Barros). O quarteto havia combinado uma pescaria no fim de semana, mas três deles não sabiam que o peixe a ser fisgado era bem maior. Miguel descobriu que o homem responsável pela tortura sofrida durante os anos de chumbo, Correia (Leonardo Villar), continua vivo, escondido em uma cidadezinha no interior. A ideia é ele e seus amigos se vingarem do passado, executando o torturador. Os antigos guerrilheiros não respondem muito bem ao plano, mas o acompanham para descobrir mais. Nessa jornada, um segredo será revelado, algo que mudará totalmente o que cada um sabia a respeito do outrora e de sua luta.

Brant é inteligente ao contar essa história de forma muito concisa. Nada que acontece em Ação Entre Amigos é jogado a esmo. As peças vão sendo colocadas em nossa frente e montamos o quebra-cabeça de forma não linear. Em meio à trajetória dos protagonistas, observamos flashbacks dos quatro, em sua juventude, interpretados por Rodrigo Brassaloto, Sérgio Cavalcante, Heberson Hoerbe e Douglas Simon, junto da namorada de Miguel, a revolucionária Lúcia (Melina Anthís). Como são apenas 75 minutos de duração, o cineasta precisa utilizar bem o tempo e nos apresentar a ligação entre os personagens de forma que entendamos tudo o que está em jogo. E em apenas duas pequenas cenas, compreendemos completamente o porquê da vontade irremovível de Miguel de se vingar do seu algoz.

Por falar em Miguel, Zecarlos Machado é o destaque do elenco principal, nos apresentando a um homem cicatrizado pelo passado, ferido por acontecimentos que não tem como mudar. No terceiro ato, quando suas investigações lhe dão uma rasteira, toda e qualquer razão que ainda se encontrava em sua mente se esvai. Ele é movido totalmente pelos reflexos do ódio e suas ações, como veremos, terão consequências bombásticas. Leonardo Villar sempre traz peso aos filmes que interpreta, mas aparece pouco, infelizmente. Quanto ao elenco mais jovem, as atuações são irregulares. Fazendo um intenso filme que aborda a Ditadura Militar acertadamente como um período ainda não resolvido em nossa história, Beto Brant constrói uma pequena obra prima, tensa nos momentos certos, que cresce muito em seu terço final, quando somos surpreendidos por revelações. Thriller de respeito, Ação Entre Amigos foi exibido em festivais como o de Chicago (de onde saiu com o prêmio de Melhor Ator, para o quarteto principal), de Miami (vencedor do troféu de Melhor Diretor) e de Recife (Melhor Diretor, Fotografia e Trilha Sonora).

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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