Crítica
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Sinopse
Em uma aldeia rural nos arredores de Delhi, na Índia, as mulheres lideram uma revolução silenciosa. Eles lutam contra o estigma profundamente enraizado da menstruação.
Crítica
Indicado ao Oscar de Melhor Curta Documentário, Absorvendo o Tabu parte da constatação da enorme ignorância quanto à menstruação numa zona rural da Índia, nos arredores de Delhi. Homens simplesmente atribuem ao período mensal significados, no mais das vezes, pejorativos, referindo-se a ele como “uma doença mais comum nas mulheres”. Já a ala feminina, quando não completamente acanhada diante da câmera para falar de um assunto que deveria ser absolutamente corriqueiro, chega a mencionar “um sangue ruim que sai da gente todo o mês”. O filme explora esse triste cenário em que são proliferadas informações errôneas, no qual se disseminam distorções que desembocam em constrangimentos sociais. Uma das testemunhas diz que parou de circular publicamente no ciclo, pois não consegue trocar de roupa e transitar empapada de sangue.
Nas entrelinhas dessa investigação breve do desconhecimento que torna mulheres vítimas de uma série de julgamentos e circunstâncias aviltantes, Absorvendo o Tabu discute o papel feminino numa sociedade agrária, tacanha, em que os valores falocêntricos imperam sem tantas restrições. Determinada entrevistada discorre sobre seu desejo de entrar para a força policial, menos por conta de uma vocação cultivada, mais a fim de fugir da convenção do casamento arranjado. Um empresário muda a situação prevalente no entorno ao inventar a máquina de fabricação de absorventes, equipando as carentes, dando-lhes meios relevantes para, inclusive, passar a ganhar dinheiro. A questão financeira também é bem aproveitada nessa equação em que a noção de respeito passa pela capacidade de gerar receita. Assim, negócio e ciência caminham paralelamente.
Absorvendo o Tabu, dirigido por Rayka Zehtabchi, é um curta-metragem que explora muito bem o tempo, passando fugaz, mas incisivamente, pelas deflagrações indispensáveis à construção de um painel, mesmo vago, suficientemente ilustrativo. A realizadora investe pouco nas distâncias simbólicas entre homens e mulheres, preferindo estreitar seu foco na capacidade delas de extrapolar paradigmas com o intuito de alcançar alguma independência e/ou respeito inéditos. A câmera registra boa parte das protagonistas em contre-plongée, ou seja, de baixo para cima, dessa forma oferecendo uma perspectiva grandiosa dessas lutadoras que enfrentam toda sorte de preconceitos e o obscurantismo para fazer valer os seus direitos. Uma coisa aparentemente simples, como absorventes higiênicos, muda totalmente o cotidiano de centenas que antes eram desonradas.
Rayka Zehtabchi não chega a se aprofundar na reação masculina a essa verdadeira revolução no interior da Índia, quando muito demonstrando o desconforto dos homens interpelados, a descrença de alguns comerciantes instados a vender o produto e um par de zombarias adolescentes. Absorvendo o Tabu, embora careça de um esquadrinhamento maior das entranhas da tradição que perpetua o desconhecimento como algo intrínseco àquela comunidade, consegue desenhar um esboço contundente da força das outrora subjugadas que arregaçam mangas em função da própria liberdade. A jovem que sonha em ser policial, uma das mais entusiasmadas com a quebra de padrões, acaba representando as demais, uma vez que é atravessada pelas dúvidas ali prevalentes, adiante tomada de semelhante brio para mudar uma torpe ordem secular.
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