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Sinopse

A História aqui não transcorre como a conhecemos no ano de 1941. Napoleão V reina na França e cientistas estão desparecendo mundialmente sem explicações. O jovem Abril parte em busca de seus pais nesse mundo pré-industrial, se aliando a dois improváveis companheiros que o ajudarão.

Crítica

Depois de ter sua criação mais icônica, As Aventuras Extraordinárias de Adèle Blanc-Sec, adaptada pelo cineasta Luc Besson em uma versão live-action que recebeu por aqui o título As Múmias do Faraó (2010), o cultuado artista francês dos quadrinhos Jacques Tardi volta a ver seu universo transportado para a tela grande com a animação Abril e o Mundo Extraordinário. A ideia para o longa partiu do roteirista Benjamin Legrand, que desejava criar uma história original inspirada no trabalho de Tardi, um amigo de longa data, e após alguns anos de desenvolvimento conseguiu tirá-la do papel tendo o próprio cartunista como co-criador do roteiro e de todo o design gráfico. O resultado é uma fantasia extremamente elaborada, rica em conteúdo e visualmente fascinante.

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A trama se passa em uma versão distópica da França de 1941, onde o país é governado por Napoleão V e o mundo permanece tecnologicamente atrasado, já que nos últimos 70 anos os grandes cientistas vêm desaparecendo misteriosamente. Sem o advento da eletricidade, do motor de combustão interna ou de aparelhos como o rádio e a televisão, a humanidade segue presa ao modo de vida do século XIX, dependente do carvão e do vapor. Neste cenário, a jovem Abril vive às escondidas ao lado de seu gato falante, Darwin, buscando finalizar as experiências iniciadas por seus pais, um casal de cientistas desaparecido há uma década que trabalhava na criação da “fórmula da vida”. Quando a garota finalmente parece ter alcançado seu objetivo, uma série de eventos bizarros começa a ocorrer, levando-a a embarcar em uma jornada que revelará segredos relacionados ao passado de sua família.

Dirigido pela dupla Christian Desmares e Franck Ekinci, Abril e o Mundo Extraordinário apresenta diversos elementos temáticos e estéticos da ficção-científica steampunk. A mistura entre o retrô e o futurista dita todo o visual do longa, com suas máquinas a vapor, dirigíveis e outros tantos aparatos tecnológicos fantasiosos. O traço da animação remete ao estilo de ilustração do belga Hergé, o criador de Tintim, com linhas fortes e simplicidade na concepção física dos personagens contrastando com a complexidade quase realista de objetos e cenários. É possível perceber o cuidado com os detalhes em cada quadro, com o uso de uma paleta de cores acinzentada para representar um mundo envolto pela fuligem e fumaça da queima de carvão, além de um excelente trabalho de sombras e perspectiva para dar profundidade à animação 2D tradicional.

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De Tintim, o longa também guarda similaridades no tom aventuresco – por sinal, o diretor Franck Ekinci trabalhou como artista de storyboards na clássica série animada do personagem exibida nos anos 1990 – mesclando humor, ação, mistério e até romance. Apesar de intrincada e repleta de informações, a trama é desenvolvida de modo ágil e com um ar de inocência típico de histórias pulp e de ficção do início do século XX, como Flash Gordon (1936) ou Buck Rogers (1939). A extensa lista de referências não para por aí, passando por filmes como Metrópolis (1927), livros como 1984, quadrinhos como Rocketeer e até pelas animações do Studio Ghibli, como Laputa: O Castelo no Céu (1986). Apesar da abordagem mais leve na maior parte do tempo, há espaço também para uma carga de sátira político-social no roteiro, com alguns diálogos e passagens mais adultas e irônicas, tratando especialmente do período da Revolução Industrial.

Assim como aconteceu com Adèle Blanc-Sec, Tardi tem em Abril uma protagonista feminina forte e carismática, rodeada por personagens coadjuvantes realmente interessantes, como seu avô Pops, o inescrupuloso delegado de polícia Pizoni, o esperto jovem Julius – que serve de interesse romântico para a garota – e o já citado gato Darwin. Todas estas figuras são valorizadas pela excelente dublagem original, que conta com nomes como Marion Cotillard e Jean Rochefort. É bem verdade que a história, que ainda inclui citações a Einstein e a diversas outras personalidades históricas, a presença de lagartos inteligentes e um clímax repleto de ação, por vezes apressa o desenvolvimento de certas situações – como o próprio romance entre Abril e Julius – para solucioná-las, mas no geral, a fluência da narrativa não sofre nenhum grande impacto.

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Qualquer pequena falha de Abril e o Mundo Extraordinário é suplantada pela inventividade e pelo encantamento visual que a obra proporciona. Obra esta que ainda reserva espaço para um sensível drama familiar e consegue inserir a temática da preservação ecológica e do esgotamento dos recursos naturais de modo pertinente, sem que sua mensagem soe demagógica ou piegas. Pois Tardi e toda a equipe criativa divertem e encantam com sua visão sobre um passado fictício, mas se preocupam com o futuro real da humanidade.

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é formado em Publicidade e Propaganda pelo Mackenzie – SP. Escreve sobre cinema no blog Olhares em Película (olharesempelicula.wordpress.com) e para o site Cult Cultura (cultcultura.com.br).
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