Crítica
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Sinopse
Quatro amigos que trabalham numa produtora estão realizando o seu primeiro longa-metragem para o cinema. No entanto, o caminho é árduo e cheio de obstáculos para que finalmente a "genialidade" deles renda algum fruto.
Crítica
Desde que o próprio cinema passou a ser matéria-prima da Sétima Arte, bastidores de filmagens são investigados por vieses distintos. Há obras como A Noite Americana (1973), que mostra a dificuldade de encaixe das necessidades para um filme acontecer – egos envolvidos, problemas de ordem prática, soluções que precisam ser tiradas da cartola para cumprir prazos, mediação de conflitos, etc. Existem recortes mais ácidos às estruturas, como Crepúsculo dos Deuses (1950) e O Jogador (1991), ambos que voltam suas lentes à Hollywood que se tornou um centro gravitacional de poder desproporcional. Enfim, as abordagens são heterogêneas. Abestalhados 2 é uma caricatura que transforma todas as peças do quebra-cabeça de uma produção em alvos de escárnio. Ninguém é sequer razoável nessa história que brinca descaradamente com lugares-comuns e não prevê qualquer simpatia pelas pessoas que resolvem fazer um filme de ação para realizar o sonho de estar no cinema. É muito diferente do que acontece em Saneamento Básico: O Filme (2007), outra comédia que escancara os bastidores de produção, mas na qual a inexperiência resulta num amadorismo cativante. Aqui todos se acham gênios, são extremamente narcisistas e por isso somente podem gerar caos e confusão. No entanto, mais do que satirizar alguém, o longa-metragem avacalha com um ecossistema que possui agentes e simbologias específicos.
Os filmes também precisam ser observados de acordo com as suas ambições e os seus discursos. E Abestalhados 2 é uma comédia ligeira em que o talento dos comediantes do elenco está a serviço do acumulo de situações indicativas de uma fauna cinematográfica repleta de pessoas imaturas e quase descoladas da realidade. Acompanhamos o making off dessa iniciativa dos trabalhadores de uma produtora de vídeo, acostumados a sobreviver fazendo peças publicitárias audiovisuais. Paulo Carmo (Paulinho Serra) é um cineasta de primeira viagem que não cansa de passar vergonha ao expor um misto de desejo e falta de conhecimento. É comum o vermos dando ideias estapafúrdias e diretrizes não menos despropositadas para solucionar problemas de natureza prática e resolver cinematograficamente cenas que parecem um amontoado de nada com pitadas de coisa nenhuma. Pena que Serra, comediante de mão cheia, não conceba esse personagem com um pouco de vulnerabilidade e paixão, assim indo além da tendência de trocar os pés pelas mãos. Ele seria mais simpático se fosse observado, mesmo que minimamente, como um homem que peca pelo excesso de tesão, não simplesmente enquanto alguém que exerce autoridade quase à força e não tem ao menos lampejos de inspiração. A falta de nuances evita que o filme alce voos maiores e almeje mais do que risadas imediatas e descompromisso com a abrasividade da crítica.
Os diretores Marcelo Botta e Marcos Jorge desenham o roteirista pseudointelectual de Raul Chequer, o diretor de fotografia de Felipe Torres, o técnico de som de Leandro Ramos e o montador de Bruno Sutter. Nomes conhecidos de grupos humorísticos como Hermes e Renato e Choque de Cultura. De todos os citados, talvez Chequer é o que permaneça preso demais ao personagem que o tornou famoso, Maurílio, o pseudointelectual motorista de van que fala bobagens ao tentar expressar a sua contagiante paixão pelo cinema. Na verdade, o roteirista de Chequer não é cativante como Maurílio, exatamente pelo mesmo motivo que transforma as outras figuras em peças unidimensionais: a falta dos meios-tons. Não há muito o que esperar de diferente dos protagonistas dessa história, uma vez que tomamos conhecimento dos rudimentos de suas personalidades arquetípicas. Ainda assim, a trama tem instantes divertidos, como os malabarismos absurdos que a equipe faz para conseguir atender a determinados ditames do mercado, vide famosos em cena (sem dinheiro) e o convencimento dos financiadores de que é uma boa ideia investir em cinema. Como tudo e todos são escarnecidos pelo roteiro, nem dá para dizer que o filme presta desserviço ao mostrar um bando de picaretas supostamente entendidos querendo sobressair no mercado. Dos empresários aos distribuidores, tudo é torto.
O tom dessa comédia é ditado pelos diálogos rasgados. Não somos convidados a rir com os personagens, mas dos personagens, sobretudo de suas decisões sempre equivocadas e motivadas por anseios que vão da fama ao reconhecimento artístico. No longa-metragem, não importa se você é um diretor inexperiente que sustenta a banca de entendido, um roteirista novato que tenta vender a ideia de ser genial ou mesmo um distribuidor convencido a investir pesado por conta de uma apresentação descaradamente sem noção. E, para observar de modo caricatural esse ecossistema sacrossanto para alguns, que aqui vira motivo de chacota – do tipo fazer churrasco de vaca sagrada, o que é sempre bem-vindo no sentido de depor os ícones de seus pedestais –, Marcelo Botta e Marcos Jorge lançam mão de vários clichês. Temos o depoimento do crítico pedante, a menção a Jean-Luc Godard como sinônimo de autoridade artística, o embate entre arte e indústria, a inserção de ação, celebridades e silhuetas femininas para impactar um grande público pouco interessado em conteúdo, entre outros chavões situados no decorrer da trama. Além disso, há diversas participações especiais de gente conhecida da comédia e a opacidade de uma autocrítica que poderia render ótimos frutos se fosse integrada como um fundamento do filme. Mesmo sendo monocórdico e não indo além da superfície em qualquer apontamento, o Abestalhados 2 possui boas sacadas sobre as dores e delícias de fazer cinema.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 6 |
Alysson Oliveira | 6 |
Lucas Salgado | 5 |
Alex Gonçalves | 5 |
Miguel Barbieri | 3 |
MÉDIA | 3.8 |
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