Crítica


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5 votos 6.4

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Sinopse

Dois meninos encontram um carro da polícia abandonado e decidem dirigi-lo. Porém, ambos não sabem como fazê-lo. Até o momento, em que o corrupto xerife da cidade decide reaver seu carro de volta.

Crítica

Antes de ganhar a grande oportunidade de assinar um longa-metragem no Universo Cinematográfico da Marvel, ao dirigir Homem-Aranha: De Volta ao Lar (2017), o cineasta Jon Watts havia comandado apenas duas produções: Clown (2014), um terror pouco visto, baseado em um dos seus curtas; e este pequeno suspense A Viatura, que abriu os olhos da crítica e dos estúdios graúdos de Hollywood para o seu talento. Em 2015, o longa estrelado por Kevin Bacon foi escolhido pela National Board of Review como um dos 10 melhores filmes independentes do ano, enquanto a Academia de Ficção Científica, Fantasia e Terror o indicou a dois Saturn Awards, incluindo o de Melhor Filme Indie. No Brasil, A Viatura demorou a chegar, tendo sido lançado diretamente em DVD e, posteriormente, em streaming.

Na trama, assinada por Watts ao lado de Christopher Ford, acompanhamos dois meninos, Travis (James Freedson-Jackson) e Harrison (Hays Wellford), enquanto eles fogem de casa. Não sabemos os motivos pelos quais eles estão se escondendo dos pais, mas parece um rito de passagem importante a ambos. Em dado momento, as crianças encontram no meio da mata uma viatura policial abandonada. Sem ver algum tira por perto, os dois se desafiam a entrar no veículo. Antes que menos percebam, estão dirigindo o carro para longe. Logo depois entendemos quem deixou aquela viatura ali, quando a narrativa retorna um pouco no tempo. O dono do carro é o xerife Kretzer (Kevin Bacon), sujeito perigoso que se escondeu naquele local para desovar um corpo. Ao voltar e não encontrar o veículo, o “homem da lei” tenta fazer de tudo para encontra-lo. Mal ele sabe que são dois guris os responsáveis pelo roubo.

Pagando tributo ao clássico de Steven Spielberg Encurralado (1971), Jon Watts enche seu filme de tensão ao colocar os meninos protagonistas sendo perseguidos pelo maníaco vivido por Kevin Bacon. O mais interessante é que os garotos não sabem dos perigos que correm em boa parte da história. Enquanto eles brincam com armas de fogo, coletes à prova de balas e com a viatura do título, temos um policial alucinado os perseguindo. Mas não pense que é apenas na tensão que o longa-metragem se escora. Existe também um senso de humor muito bem colocado, nos fazendo rir dos óbvios absurdos da história que está sendo contada.

Kevin Bacon parece se divertir horrores ao viver aquele policial mequetrefe, pouco inteligente, que se vê vencido momentaneamente por duas crianças pouco maldosas. O ator serve de produtor do longa e é uma das razões para assistir a este thriller cômico. Os dois meninos também não se saem mal. Freedson-Jackson parece mais à vontade, mas Wellford possui um arco melhor, dada sua falta de coragem no início da história. Por mais enviesado que possa parecer, A Viatura termina por ser um filme de formação, misturado a um road movie.

Jon Watts não se intimida por ter dois protagonistas juvenis, os colocando em enrascadas dignas de adultos. A aparição de Sean Wigham no meio da história modifica o status quo e dá a oportunidade de um terceiro ato bombástico – e, se você tem um senso de humor sombrio, há chance de dar umas risadas. Por vezes, A Viatura parece uma produção oitentista, exatamente por não se importar em colocar seus jovens protagonistas em perigos palpáveis. A comédia se transforma em terror em alguns trechos, principalmente com o seu final aberto.

Curto, A Viatura poderia se aprofundar nas personalidades das figuras que acompanhamos, para que tivéssemos mais chances de nos envolver com a história. O que aquela gurizada fazia ali? Quem é aquele xerife psicopata? Quem eram os homens daquele porta-malas? Tudo isso deve ficar na imaginação de quem assiste, visto que nada nos é muito explicado. De qualquer forma, o longa que revelou Jon Watts tem ótimos momentos e uma trama pouco usual, conseguindo fazer muito com o pouco que tem.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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Grade crítica

CríticoNota
Rodrigo de Oliveira
7
Yuri Correa
8
MÉDIA
7.5

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