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Sinopse

Cayuga, Novo México, 1958. Everett apresenta um programa de rádio e se prepara para a transmissão de uma partida de basquete estudantil. Em meio aos ajustes, presta conselhos à Fay, telefonista local que aspira ser radialista. Envolvida em seus afazeres, a garota é surpreendida ao ouvir um som estranho, seguido por uma série de telefonemas que relatam algo estranho acontecendo na cidade. Ela logo pede a ajuda de Everett, que decide transmitir o som em seu programa de rádio perguntando aos ouvintes se conseguem reconhecê-lo. A ligação de um homem desconhecido faz com que mergulhem em uma investigação própria.

Crítica

De tempos em tempos, surgem diretores que surpreendem não propriamente pelo que é feito, mas pela consciência de como é feito. Assim é com Andrew Patterson, diretor de primeira viagem, com o impressionante A Vastidão da Noite. Afinal de contas, Patterson ao mesmo tempo consegue fazer uma bela homenagem aos tempos nostálgicos da série The Twilight Zone (1959 - 1964) como extrair uma competente história de mistério, tendo tão pouco em mãos.

Para tanto, fica muito claro o pleno domínio do diretor acerca da história que pretende contar. Da abertura recorrendo a uma TV antiga que apresenta The Vast of Night, a "hora escandalosa da TV" que permite "entrar no mundo do clandestino e do esquecido", o longa paulatinamente migra da sala de estar para dentro deste universo em uma bela (e bem sacada) transição estética, fiel ao espírito destes dois cenários envolvidos, fora e dentro da TV. Logo o espectador é inserido em Cayuga, uma cidadezinha qualquer no interior dos Estados Unidos que está prestes a ter um grande jogo de basquete do colégio, que atrairá praticamente toda a cidade.

Consciente da importância da ambientação nesta história, Patterson dá espaço e bastante tempo para que se conheça Everett e Fay, jovens ambiciosos com estilos bem diferentes, em uma jornada verborrágica repleta de diálogos espirituosos e sarcásticos, sob o disfarce de conversa fiada. A câmera está sempre distante, acompanhando os personagens de longe, sem closes ou os preguiçosos plano/contraplano, de forma a "esconder" seus rostos. O não-reconhecimento faz parte da narrativa, reforçado pela seleção de um elenco desconhecido. A ideia é que você, espectador, não tenha referências prévias a recorrer, mergulhando fundo no desconhecido. Foi isto que o anúncio do programa prometeu, não?

A revelação do tema deste conto de mistério apenas surge após um terço do longa-metragem, no qual é também possível apreciar a riqueza da direção de arte de época e a cuidadosa fotografia, capitaneada pela bela panorâmica do ginásio durante a partida de basquete. A partir de então Patterson brinca com a narrativa, a desvendando sob exímio apuro, ora potencializando a voz ao sumir com toda e qualquer imagem ora fazendo com que a câmera percorra caminhos em busca de algum norte. A proposta aqui é trabalhar o mistério a partir da imaginação, realçando a força das palavras e também da trilha sonora. Ao mesmo tempo, presta reverência ao rico universo em torno do rádio, seja para quem o faz ou para quem ouve.

De resto, mais não deve ser dito para não estragar a experiência que é assistir A Vastidão da Noite. Basta dizer que Patterson constrói uma narrativa instigante e de tensão crescente, manipulando a iminência da descoberta com extrema habilidade, de forma a potencializar a forma para que amplifique (muito!) o conteúdo. É curioso (e também esclarecedor) notar que o diretor é também o responsável por roteiro e edição, através de pseudônimos. Tal detalhe ajuda a entender tamanho controle criativo.

Divertido e empolgante, A Vastidão da Noite é uma experiência cinematográfica bastante rica sob o aspecto narrativo também devido ao sólido apoio estético, ao ponto de, futuramente, até servir de estudo (e exemplo) para jovens realizadores. Com um elenco coeso e carismático, com destaque para a dupla Jake Horowitz e Sierra McCormick, trata-se de um belo filme que, desde já, desperta a curiosidade sobre o que Patterson fará a seguir, especialmente se tiver mais recursos em mãos.

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Jornalista e crítico de cinema. Fundador e editor-chefe do AdoroCinema por 19 anos, integrante da Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) e ACCRJ (Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro), autor de textos nos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros", "Documentário Brasileiro - 100 Filmes Essenciais", "Animação Brasileira - 100 Filmes Essenciais" e "Curta Brasileiro - 100 Filmes Essenciais". Situado em Lisboa, é editor em Portugal do Papo de Cinema.
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