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Sinopse

Após encontrarem uma velha bomba nuclear israelense, um grupo de neo-nazistas europeus pretende usá-la bem no dia do Super Bowl, a final do campeonato de futebol americano dos Estados Unidos. Prevendo as consequências desastrosas de tal detonação, que pode dar início até mesmo a 3ª Guerra Mundial, o agente da CIA Jack Ryan usa de todos os meios possíveis para evitar o ataque terrorista.

Crítica

Após três filmes que, juntos, arrecadaram quase US$ 600 milhões nas bilheterias de todo o mundo, acreditou-se que estava na hora de um novo começo para o personagem Jack Ryan, criado pelo escritor Tom Clancy, nos cinemas. Contribuiu para isso o fato do próprio intérprete do protagonista – Harrison Ford, que assumiu o posto após a desistência de Alec Baldwin, responsável pelo primeiro filme, A Caçada ao Outubro Vermelho (1990) – ter se considerado velho demais para o papel, ainda mais tendo se passado oito anos desde a estreia de Perigo Real e Imediato (1994), último capítulo da trilogia inicial. O resultado é este A Soma de Todos os Medos, um filme subestimado no seu lançamento e que hoje, tendo se passado mais doze anos, justifica uma revisão.

Logo após a conquista surpreendente do Oscar de Melhor Roteiro Original por Gênio Indomável (1997), os amigos Ben Affleck e Matt Damon trilharam caminhos bem diferentes. Enquanto o segundo foi atrás de experiências que o aperfeiçoassem enquanto ator – trabalhando ao lado de nomes como Steven Spielberg, Francis Ford Coppola, Robert Redford e Steven Soderbergh – o primeiro decidiu se transformar em astro – e a presença em blockbusters como Armageddon (1998) e Pearl Harbor (2001) exemplificam essa intenção. Por isso, soa lógica a sua decisão de viver o protagonista de A Soma de Todos os Medos, oferecendo um rosto jovem e um porte atlético para um personagem que, no entanto, não necessita de nada disso. Jack Ryan é um analista, um oficial da CIA acostumado com o trabalho de escritório, onde passa sentado o dia inteiro. Sua qualidade, o que o faz ser melhor que seus colegas, é conseguir prever situações catastróficas com mais antecedência que seus pares. Affleck, portanto, de posse desse texto, tenta conferir autenticidade ao seu conflito. Porém o que se percebe é que faltariam ainda muitos anos até que o ator se tornasse o artista competente e sério de longas como Hollywoodland (2006) e o oscarizado Argo (2012).

Ao deixar de lado a família – esposa e filhos – e todos os dramas vividos nos filmes anteriores, A Soma de Todos os Medos coloca Ryan ainda no começo de sua vida profissional, justamente no momento em que começa a se destacar sob o olhar dos seus superiores. Um deles é William Cabot (Morgan Freeman, pela enésima vez no lugar do mestre que ensina os primeiros passos a um novato), que o recruta para estar ao seu lado por causa de um relatório escrito pelo jovem meses atrás. A Rússia está com um novo presidente, um político radical e pouco conhecido, do qual ninguém sabe o que esperar – com exceção de Ryan, que vê na mudança uma boa oportunidade. Quando testes nucleares são feitos na Chechênia – sem que ninguém assuma sua autoria – o planeta inteiro assume um estado de tensão, esperando pelo pior. As coisas complicam de vez quando uma bomba é explodida no centro de Baltimore, em plenos Estados Unidos. E enquanto o presidente norte-americano luta contra as pressões que o forçam a declarar guerra contra o velho inimigo, somente uma voz poderá lhe indicar o melhor caminho a seguir.

A Soma de Todos os Medos é, em última instância, praticamente um remake de A Caçada ao Outubro Vermelho. O inimigo é o mesmo – os russos – assim como Jack Ryan – que nunca chega, literalmente, a partir para a ação – mantém por quase durante toda a trama a mesma postura de “eu avisei”. Ele é o único que consegue enxergar com clareza o que está acontecendo, é aquele que percebe a verdade antes de todos os outros e quem sabe exatamente com quem falar e como abordar cada uma das crises propostas pelo roteiro. Com boas sequências de suspense, no entanto, é um thriller satisfatório enquanto dura, mas se revelou ineficiente na tentativa de relançar a franquia. Tanto que o personagem hibernou por mais de uma década, até ser resgatado recentemente por Chris Pine em Operação Sombra: Jack Ryan (2014) – outro filme competente, porém equivocado em pontos cruciais. Mas isso já é assunto para um outro momento...

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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