Hollywoodland: Bastidores da Fama

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Sinopse

Hollywoodland: Bastidores da Fama se passa no ano de 1959, quando o ator George Reeves, mais conhecido como o protagonista da série de TV As Aventuras do Super-Homem, comete suicídio. O ato ocorreu no quarto dele, deixando sua namorada, a aspirante a atriz Leonore Lemmon, e milhões de jovens fãs boquiabertos. Helen Bessolo, a mãe do astro, não se conforma com a possibilidade de que seu filho tenha se suicidado e contrata o detetive Louis Simo, que tem por missão provar que o caso na verdade foi de assassinato. Simo passa a investigar Reeves, descobrindo seu antigo caso com Toni Mannix, esposa de um poderoso executivo de estúdio. Biografia/Cinema.

Crítica

Até que ponto confundimos verdade com ficção? Hollywoodland: Bastidores da Fama, trabalho de estréia no cinema do veterano da televisão norte-americana Allen Coulter (de séries como A Sete Palmos, 2001-2005, e Família Soprano, 1999-2007), trabalha basicamente com este conceito, abordando temas como fama e fracasso a partir de um fato real: o suposto suicídio do ator George Reeves, famoso na Era de Ouro de Hollywood por ser o primeiro intérprete do Homem de Aço da série televisiva As Aventuras de Superman (1952-1958).

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Após a morte, a mãe dele decide contratar um investigador particular, pois acredita que o filho foi assassinado. Duas tramas passam a se desenvolver paralelamente, a do detetive que julga estar envolvido no grande caso de sua carreira e a do intérprete em busca de uma chance de verdade na sétima arte. Nenhum dos dois encontra, realmente, o que espera, mas não sem antes passarem por diversas provações e descobertas.

Reeves era um cara bonito, que começou numa ponta em …E O Vento Levou (1939) e que teria tudo para ser um astro caso não tivesse virado amante da esposa de um dos maiores chefões da MGM. Ele acaba atingindo o estrelato, mas não da forma de esperava – com um seriado infantil, numa época em que a televisão era vista como a “irmã pobre” do cinema. A frustração – romântica e profissional – se agrava quando encontra uma garota mais interessada no que ele tem a oferecer ao invés do que os dois poderiam construir juntos. Ou seja, motivos para acabar com a própria vida ele teria muitos. Tantos quanto o número de pessoas que o desejavam morto: a namorada, que temia ser abandonada; a ex-amante, que buscava vingança; o marido traído, que queria sua honra.

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Por outro lado, o que acontece no passado é só pano de fundo neste filme de várias camadas. Hollywoodland é, sim, sobre sonhos perdidos e desejos não realizados. E o exemplo em foco é o do verdadeiro protagonista, o encarregado da investigação. Louis Simo não tem um emprego fixo, perdeu a esposa e o filho para outro homem e é traído pela namorada. Mas tem esperança num futuro melhor, numa possibilidade de mudança. E irá se agarrar com todas as forças em qualquer vislumbre deste destino. Assim como a vítima do caso. A diferença é que um está morto, enquanto que o outro – ainda – não.

Se está na direção o ponto mais fraco de Hollywoodland – Coulter não consegue dotar sua narrativa de um ritmo mais forte, estendendo desnecessariamente o desenvolvimento do enredo, com explicações óbvias e soluções pouco convincentes – o melhor é a ambientação, noir, muito mais simpática e efetiva que a vista, por exemplo, no recente e pretensioso Dália Negra (2006). Outro fator positivo é o ótimo elenco reunido, um conjunto de nomes entregues ao projeto, todos em performances muito acima do habitual. Adrien Brody é o obstinado perfeito, e cada tombo do personagem é levado até as últimas conseqüências, de modo dedicado e muito competente. É daqueles atores que mostram tudo num olhar, com muita eficácia. Ben Affleck (premiado como Melhor Ator no Festival de Veneza e indicado ao Globo de Ouro como Melhor Ator Coadjuvante por este desempenho) aparece na melhor atuação de sua carreira, em que o visual canastrão que lhe é tão característico se encaixa perfeitamente, conseguindo aprofundar as decepções e tristezas enfrentadas sem exageros ou recursos externos. Já a bela Diane Lane deixa o visual “mulher comum” e se assume como uma femme fatale provocadora e carente, dona de suas ambições e no controle de uma invejada posição. Ela e Affleck funcionam muito bem em cena, enquanto que Brody oferece doses exatas de fragilidade e perseverança no mais obstinado dos retratados.

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Hollywoodland teve uma recepção mista da crítica especializada, além de ter tido um péssimo desempenho junto ao público, tendo sido lançado em poucas salas nos Estados Unidos e faturado menos de dois milhões de dólares nas bilheterias. Performance bastante modesta para um filme que traz nomes de tanto destaque e, principalmente, por ser envolto numa ‘embalagem’ tão atraente e interessante. Uma tragédia inspirada num fato real, estrelas de Hollywood, um homem em busca da verdade, mulheres fatais e seres desesperançados: como ser mais atraente? Porém, apesar de todos estes dados, esta não é uma obra de suspense ou um longa de mistério barato. Ao invés disso, se coloca mais como uma reflexão sobre o comportamento humano. E o que percebemos é que, quanto mais perto das estrelas, mais difícil é discernirmos a luz da escuridão.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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