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Sinopse

Após anos procurando seu príncipe encantado, Charlotte Cantilini se apaixona por Kevin Fields. O problema é a mãe dele, Viola, que foi recentemente demitida do cargo de âncora de um jornal de rede nacional. Após perder o emprego, Viola teme perder também o filho e para evitar isto decide atrapalhar ao máximo os planos do casal.

Crítica

Há 15 anos sem aparecer nas telas de cinema (seu último filme havia sido Stanley & Iris, de 1990), a veterana Jane Fonda (duas vezes vencedora do Oscar de Melhor Atriz) decidiu voltar à cena numa comédia: A Sogra, dirigida por Robert Luketic, o mesmo do sucesso Legalmente Loira (2001). Apesar de ser o nome de maior destaque – até pela novidade de estar de volta atuando – Fonda é, na melhor das hipóteses, a antagonista da verdadeira protagonista da trama, a cantora e atriz Jennifer Lopez. Essa, desde o fracasso de Contato de Risco (2003) vinha se esforçando para ter maior cuidado ao escolher seus projetos, dividindo as atenções com outros astros de igual – ou maior – calibre, se aproximando de nomes como Richard Gere (Dança Comigo?, 2004), Robert Redford (Um Lugar para Recomeçar, 2005) e Antonio Banderas (Cidade do Silêncio, 2007), por exemplo. E ainda que a estratégia não funcione exatamente de acordo com o esperado, ao menos se tem uma comédia que também não causa maiores embaraços.

Quer dizer, nem tanto ao inferno, mas também longe de se aproximar do céu. Afinal, se para JLo este A Sogra pode ser considerado ao menos inócuo, em relação à Jane Fonda é de provocar questionamento sobre o que a teria lhe motivado a se envolver com algo tão distante da sua filmografia de outrora. Artista militante e presença constante em thrillers políticos e relevantes nos anos 1970 e 1980, dessa vez ela se rende ao estereótipo sem qualquer tipo de ressalva, abraçando qualquer eventual constrangimento sem pensar duas vezes. Talvez seu interesse tenha sido uma vontade de se comunicar com uma geração que nunca sequer chegou a vê-la em suas melhores performances, e a conheça mais pelo nome do que pelo talento que vem de família. Mesmo assim, é certo que ela poderia ter feito uma escolha mais incisiva. Por mais que tenham obtidos resultados diversos, produções seguintes da estrela, como o francês E Se Vivêssemos Todos Juntos? (2011) ou o histórico O Mordomo da Casa Branca (2013) ao menos tinham propostas mais condizentes com a personalidade que ela construiu ao longo de toda uma vida.

Por outro lado, JLo pode até ser a personagem principal de A Sogra, mas o filme só vale mesmo por causa da participação monopolizadora das atenções da eterna Barbarella (1968). Ao aparecer como uma antiga apresentadora de televisão que entra em surto ao descobrir que vai ser substituída por uma profissional mais nova, dá seus primeiros passos na elaboração dessa figura que se tornou constante nessa fase de sua carreira, como visto na série Grace & Frankie (2015-2021), por exemplo. Quando sai da clínica de reabilitação, descobre que o filho único (Michael Vartan, de Nunca Fui Beijada, 1999) está prestes a se casar com uma garota sem emprego fixo, nem grandes ambições. A jovem não tem família e também não apresenta uma educação mais refinada. A antipatia entre as duas, como é possível antever, será imediata.

É basicamente nesta única situação que a comédia escrita por Anya Kochoff (a mesma do insosso O Maior Amor do Mundo, 2016) se apoia do início ao fim, a rivalidade estabelecida entre as duas mulheres, enquanto ao rapaz cabe apenas a confortável posição de observador apático. Ele não quer estressar a mãe, mas também pouco faz para defender a noiva. E o conflito será intensificado quando são obrigadas a passar uma semana juntas na mesma casa, enquanto ele se afasta para um congresso de trabalho. As artimanhas de uma contra a outra transformam a convivência delas num verdadeiro campo de batalha, o que ao menos se mostra responsável pelos poucos momentos divertidos do longa. Claro que, faltando quinze minutos para a conclusão da história, o espírito anárquico é deixado de lado em nome de um final apaziguador, melado e bastante óbvio. Se essa falta de coragem tivesse sido substituída por um espírito mais original, era capaz do resultado realmente valer os esforços envolvidos.

Conduzido sem maiores pretensões por Luketic, A Sogra entrega as risadas prometidas somente àqueles em busca de um palco para uma grande atriz em um registro muito mais leve e inconsequente do que aquele com o qual estava habituada. Fonda está reluzente, em plena forma, tranqüila e engraçada de uma forma similar a alcançada por Glenn Close em 101 Dálmatas (1996). No mais, entretanto, o resultado não consegue fugir do padrão tradicional deste tipo de comédia, com personagens coadjuvantes que por vezes roubam a cena (Wanda Sykes, ótima) e um roteiro óbvio que exibe pouco espaço para qualquer inovação. Mesmo assim, a força da dupla de divas se mostrou eficaz nas bilheterias, tendo arrecadado nas bilheterias de todo o mundo mais de três o valor do seu orçamento total. Um bom resultado, que teve como consequência direta o retorno efetivo de Jane Fonda, fazendo deste o início de uma nova etapa de sua carreira, ainda que também possa ser visto como uma exceção que não deveria se repetir.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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