Crítica
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Sinopse
A Sétima Alma: Na pacata cidade de Riverton, existe uma lenda de um psicopata que, na noite em que foi morto, jurou voltar e assassinar as crianças que nasceram na cidade naquele mesmo dia. 16 anos depois, estranhos acontecimentos rondam o local, e sete jovens começam a ser assombrados. Suspense.
Crítica
Um verdadeiro massacre abre A Sétima Alma. Abel Plenkov (Raul Esparza) mata sua esposa grávida na frente da filha pequena do casal. Tratado como paciente psiquiátrico, diagnosticado esquizofrênico desde cedo, segue assassinando os socorristas e os policiais, mesmo com o corpo cravejado de balas. Ele desaparece no rio, tornando-se lenda com direito a alcunha: O Estripador de Riverton. Sete crianças nascem nesse dia, o que alimenta o imaginário local. Um salto de 16 anos nos leva direto à celebração do Dia do Estripador, e, por conseguinte, dos aniversários daqueles que foram apelidados de Os Sete de Riverton. O cineasta Wes Craven, em poucos minutos, estabelece uma mitologia bastante consistente, encarregada de estofar a trama de mistério e tensão. O clima de incerteza e pavor instaurado no cotidiano aparentemente normal dos estudantes dá conta de tornar as coisas ainda mais instigantes.
Vemos uma cerimônia macabra, típica da necessidade adolescente de mostrar imunidade ao medo. Bug (Max Thieriot), ao contrário, não consegue fingir conforto frente ao boneco que simboliza a tragédia do passado. Ele é o centro da história, a quem seguimos mais de perto, inclusive quando os jovens começam a ser caçados, um a um. Acometido por visões e outros fenômenos mais ou menos plausíveis à luz da razão, ele vira peça-chave do enigma. A morte espreita pelos vãos do desconhecido, paralela às questões inerentes ao ambiente escolar, como os grupos segmentados, os desmandos, o bullying, os flertes, as decepções amorosas e os hormônios fervilhando. Craven não nos trata como observadores privilegiados, fornecendo-nos geralmente as mesmas informações que os personagens têm, às vezes até menos. Em A Sétima Alma as peças vão se encaixando ao sabor dos acontecimentos, sem pressa, o que amplia suas ressonâncias.
As reviravoltas precisas do roteiro reforçam a sensação de estarmos diante de um filme que passa ao largo da banalidade. Alusivo à própria criação, pois não há como negar que A Sétima Alma bebe na fonte de Pânico (1996), por exemplo, o cineasta esconde até onde é possível a verdade por trás dos novos ataques, prendendo-nos numa teia de dúvidas muito bem esclarecidas adiante. O terror é onipresente, algo que podemos constatar nas passagens em que a barbárie é mais gráfica, com sangue fluindo em profusão, mas também em certas cenas aparentemente ordinárias, como a apresentação do trabalho escolar na qual um pássaro fabricado com sucata e cola acaba exteriorizando a apreensão de todos. Essa atmosfera faz o longa sobrepujar algumas limitações do gênero. O resultado é digno dos melhores momentos da carreira de um cineasta que tem no medo sua matéria-prima mais recorrente e cara.
A Sétima Alma não se contenta com o whodunit (quem matou?) puro e simples. O padrão das mortes facilita a tarefa de antever quem serão as próximas vítimas, menos no que diz respeito à ordem. A trilha sonora, a forma como a câmera se movimenta e o trabalho dos atores são típicos do ideário cinematográfico que Craven ajudou a criar e posteriormente sedimentar. Contudo, a fricção crescente entre o natural e o sobrenatural, a maneira como os dramas cotidianos são mediados pelo que está além das elucidações racionais, denota uma ânsia por revitalização (inspirada paradoxalmente no cinema juvenil de outrora), intuito aqui alcançado, sobretudo, em virtude do explícito e da sugestão coexistirem, alimentando um ao outro.
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