Crítica


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Sinopse

Quando Michael, um estudante de medicina armênio, e Ana, uma sofisticada armênia, se conhecem, a herança cultural entre eles os aproxima e começa uma paixão. Porém, a jovem é comprometida com Chris, um fotojornalista americano, o que resulta em uma rivalidade entre os dois homens. Mas tudo é deixado de lado quando os turcos formam uma aliança com a Alemanha e passam a atacar violentamente o povo armênio.

Crítica

O extermínio sistemático do povo armênio pelo Império Otomano, hoje Turquia, no início do século 20, constitui um dos mais nefastos crimes humanitários já cometidos. O episódio, conhecido como Genocídio Armênio, ainda gera debates, sendo um dos mais notórios casos de negação histórica, já que o governo turco repudia a utilização do termo “genocídio”, não reconhecendo que tais atrocidades tenham sido cometidas de modo calculado, com o intuito de dizimar a população armênia, e afirmando que o número de vítimas seria menor do que o 1,5 milhão estimado. Mesmo precedendo o Holocausto Judeu, o caso nunca recebeu a mesma atenção da indústria cinematográfica ocidental, raramente sendo levado às telas. É neste vácuo que A Promessa surge se autoproclamando a primeira grande produção hollywoodiana sobre o tema.

No longa do norte-irlandês Terry George, os abomináveis eventos servem como cenário para uma trama romanesca, que apresenta um triângulo amoroso encabeçado por Michael Boghosian (Oscar Isaac), boticário armênio que parte de sua aldeia para estudar medicina em Constantinopla, deixando para trás uma noiva, Maral (Angela Sarafyan). Acolhido pelo tio, um abastado comerciante, Michael se apaixona por Ana Khesarian (Charlotte Le Bon), professora de dança, também de origem armênia, que acaba de retornar da França. Ela, por sua vez, vive um relacionamento com o jornalista norte-americano Chris Myers (Christian Bale). Acostumado aos dramas históricos, envolvendo massacres e guerras, seja como diretor, Hotel Ruanda (2004), ou roteirista, A Guerra de Hart (2002), George visa aqui a realização de um épico que remonte aos clássicos do gênero.

A escala elevada das ambições do cineasta se materializa nos valores de produção, com a imponência de cenários, figurinos, direção de arte, numerosos figurantes etc. A referência imediata parece ser a grandiosidade do cinema de David Lean, contudo, o registro de George esbarra na solenidade excessiva, num academicismo sem personalidade, que escancara a forma superficial como os fatos são tratados. Enquanto Lean se dedicava à construção dos personagens, trabalhando a dilatação do tempo e inserindo-os, bem como seus dramas particulares, no contexto histórico para que esses se fundissem – vide Lawrence da Arábia (1962) – criando espaços para a reflexão, George utiliza os acontecimentos reais como meros gatilhos de uma dinâmica de causa e efeito que move a ação dentro do romance.

George nunca adentra na complexidade dos fatores políticos, religiosos ou culturais que envolvem o extermínio. Sem esse aprofundamento, a narrativa resulta num acúmulo de situações que funcionam exclusivamente como empecilhos para a concretização do romance central. Para isso, o roteiro costura uma série de improbabilidades mirabolantes, fazendo com que os amantes sejam constantemente separados e reunidos em meio a saltos temporais/geográficos. A amplitude das consequências dos eventos é abordada apenas de relance, com todas as tentativas de dar foco à questão sendo prontamente anuladas para que se retorne aos magnificentes atos de heroísmo em nome do amor. O melhor exemplo é a passagem em que Michael é enviado aos trabalhos forçados na ferrovia, onde o potencial da interação com outros compatriotas, como o ex-palhaço, acaba se resumido ao diálogo em torno da fogueira, sendo, literalmente, mandado pelos ares na cena seguinte.

Todo o esforço para enaltecer o romance acaba sendo em vão, pois ele soa genérico e pouco envolvente, deflagrando um desenvolvimento frágil dos protagonistas, principalmente o repórter vivido por Bale. Resumido basicamente ao aspecto da obstinação em expor ao mundo a verdade sobre o extermínio, com suas falhas, como o alcoolismo, sendo logo esquecidas, Myers não oferece muito para sua construção, prejudicando até mesmo um ator com recursos como Bale. Mesmo com mais tempo de tela, Ana e Michael não fogem muito a esse padrão, por mais que o empenho de Le Bon e, em especial, de Isaac em dar algum peso aos papéis seja evidente. O restante do elenco aparece somente para assegurar o selo de credibilidade, ficando restrito a caricaturas e participações limitadas, como Shohreh Aghdashloo, Jean Reno, James Cromwell e Rade Serbedzija.

Em determinados momentos, George tenta extrair impacto dos horrores do massacre, como na cena em que Myers visita uma aldeia destruída ou quando Michael encontra os corpos à beira do riacho. Mas esses são esporádicos e, como sempre, interrompidos pela necessidade de retomar o melodrama romântico. Assim, a previsibilidade termina por dominar A Promessa, mesmo evitando algumas saídas óbvias, como no desfecho mais trágico que o esperado ou resolvendo certos conflitos entre Ana e Myers através de silêncios e olhares, sem mais diálogos expositivos. A falta de densidade do material chega a ser assumida pelo próprio cineasta, quando ele tenta compensá-la, recorrendo, nos créditos finais, a letreiros didáticos e imagens reais para assegurar a idoneidade do projeto e sua bem-intencionada proposta de expor uma temática incompreensivelmente negligenciada a um público mais amplo. O resultado, todavia, esmaece em sua elucubração trivial quando comparado a outros exemplares, realizados por cineastas de ascendência armênia que, mesmo não reconstituindo exclusivamente o período do genocídio, acabam sendo muito mais reveladores sobre suas consequências, como Ararat (2002), de Atom Egoyan, ou Uma História de Loucura (2015), de Robert Guédiguian.

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é formado em Publicidade e Propaganda pelo Mackenzie – SP. Escreve sobre cinema no blog Olhares em Película (olharesempelicula.wordpress.com) e para o site Cult Cultura (cultcultura.com.br).
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