A Oeste do Fim do Mundo
Crítica
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Sinopse
Argentina. Um velho posto de gasolina perdido na imensidão da antiga estrada transcontinental é o refúgio do introspectivo Leon (César Troncoso). De poucas palavras, poucos gestos e nenhum amigo, sua solidão só é quebrada por um ou outro caminhoneiro eventual que passa por ali para abastecer. Ou pelas visitas sempre bem humoradas do sarcástico Silas (Nelson Diniz), um motociclista com ares de hippie aposentado.
O tempo passa devagar nas margens da velha estrada. Até o dia em que a enigmática e inesperada chegada de Ana (Fernanda Moro) transforma radicalmente o cotidiano de Leon e Silas. Aos pés da imponente Cordilheira dos Andes, segredos que pareciam estar bem enterrados vêm à tona, reabrindo antigas feridas e mudando para sempre a vida dos protagonistas.
Crítica
Um caminhão chega ao posto e Léon se apresenta para o serviço. Enquanto limpa o vidro dianteiro, esforça-se para retirar o desgastado adesivo “Argentina”. Se a memória se diluísse em água e sabão, a vida seguiria bem.
Último longa de Paulo Nascimento, o mesmo de Em teu nome (2009), A Oeste do Fim do Mundo molda seus personagens na gênese dos heróis do sul. Como em um Martín Fierro reatualizado, a independência e a solidão são os truques para combater o passado.
O filme entrega-se aos poucos. O uruguaio César Troncoso (O Banheiro do Papa, 2007) interpreta com magnanimidade Léon, taciturno dono de posto de gasolina. Na imensidão da Cordilheira dos Andes, além do vazio, a única visita constante é a do motoqueiro Silas (Nelson Diniz). A quebra na sequência dos vazios, mais impactantes pelo trabalho cuidadoso da fotografia de Alexandre Berra, se dá com a chegada de Ana. Fernanda Moro interpreta esta garota da qual sabemos pouco. A perda do filho e o abuso sexual na vinícola em que trabalhava a colocaram na estrada em direção a Santiago. Muitas vezes, o importante não é o destino, mas ir.
Coprodução Brasil e Argentina, no filme destacam-se a captação e a mixagem de som, trabalho árduo quando falamos de filmagens externas, e, principalmente, a impressionante composição do diretor de arte Voltaire Danckwardt. Deixa a desejar, porém, a desenvoltura no espaço cênico. É visível que Nascimento compromete o preenchimento dos seus planos. Por mais de uma vez, os atores cortam a profundidade da cena ou a atravessam em caminhada que, ao final, dão em pouco ou nada. Em outros momentos, os planos escolhidos não têm bom resultado, como quando a câmera, posicionada entre a garota e o motorista, dentro do caminhão, destoa, inclusive, da proposta estética.
A chegada de Ana alavanca o cotidiano de León. As refeições, momento escolhido para retratar a solidão do protagonista, são remodeladas. É preciso um bom motivo para preparar mais comida – e prepará-la melhor. Resistente aos primeiros contatos, a convivência faz brotar a esperança de um futuro diferente – de um futuro. Frente a frente, Troncoso e Moro buscam o encaixe. Ele é vigoroso, visualmente duro; o texto lhe sai como sairiam as pedras à Maria Madalena. Ela é força contida, delicadeza discreta. Mesmo com a melhor atuação de sua carreira, Fernanda ainda é coadjuvante da atriz que pode vir a ser.
Recado de como a vida emudece, e de como é fácil emudecer perante a vida, A Oeste do Fim do Mundo retém, em meio ao nada, as dores do mundo, reflexo de como o passado facilmente nos consome.
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