Crítica
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Sinopse
Fred é um homem de 54 anos, viúvo e devoto do Calvinismo que leva uma vida pacata e solitária desde que despejou seu filho de casa. Na sua pequena e intolerante aldeia na Holanda, frequenta a Igreja diariamente, anda de ônibus e janta sempre a mesma coisa às 18 horas em ponto. Só que quando conhece Theo, um adulto com a mentalidade de 5 anos de idade, que comumente imita animais, seu mundo vira de pernas pro ar. Fred assumirá a "paternidade" e defenderá o rapaz do bullying que está sofrendo do restante do vilarejo, mas Theo tem uma ideia diferente sobre o relacionamento deles.
Crítica
Fred (Ton Kas), figura central de A Montanha Matterhorn, é um homem cheio de manias, entre elas, esperar a hora de sempre para comer e manter tudo ordenado em casa, como se o hábito e a simetria sinalizassem também uma ordem interna. Ele mora numa pequena vila holandesa, na qual o Calvinismo é a religião local e, mais que isso, espécie de bússola moral seguida pela maioria. Em dado momento, Fred topa com Theo (René van ‘t Hof), um estranho de poucas palavras, com óbvios problemas mentais, sem eira nem beira, que ele logo acolhe na sua própria casa. Se inicia uma relação imprevista, baseada, quem sabe, na necessidade do protagonista de redimir-se do passado, isso para além de qualquer altruísmo a priori genuíno.
A Montanha Matterhorn é um filme estranho, às vezes no bom, mas geralmente no mal sentido. A amizade improvável dos homens, em meio à uma comunidade convicta de que eles estão tendo um caso, é construída sobre artifícios que, na maior parte das vezes, reforçam gratuitamente o insólito, e só. Um bom exemplo disso é o ingresso deles no ramo da animação de festas infantis, movimento que sai do nada para chegar a lugar algum. Contudo, vez ou outra surgem pistas mais concretas que ligam, sobretudo, as ações de Fred com tormentos do passado. Um olhar mais demorado para a foto na parede, o dinheiro que ele guarda a sete chaves, a fixação com a tal montanha Matterhorn, citações a princípio desconexas que adquirem sentido com o passar do tempo, são iscas que buscam, de maneira insuficiente, nos manter atentos ao segundo plano.
Contudo, é apenas muito perto do fim que as coisas se esclarecem devidamente, com o protagonista revelando seus porquês ao passo que finalmente descobrimos quem de fato é Theo, bem como o motivo de sua atual condição. Sonegar informações e fazer uso de elipses constantes, como em A Montanha Matterhorn, pode ser um bom caminho narrativo a trilhar, sobretudo para fugir dos modelos meramente expositivos que dominam o cinemão. Porém, para que isso dê certo, é imprescindível estabelecer um pacto com o espectador, no qual este não deve ser sentir distraído da verdade (como acontece no filme de Diederik Ebbinge), mas sim partícipe de sua construção.
Para não ficar apenas no negativo, Ton Kas e René van ‘t Hof , os atores principais, fazem uma dupla muito boa, afinal conseguem extrair do roteiro complicado uma dinâmica interessante entre seus personagens. Ainda assim, A Montanha Matterhorn é bastante desajeitado na tentativa (aqui capital) de cobrir o drama com o verniz do inusitado, o que acaba prejudicando, e muito, nossa atenção e qualquer envolvimento para além da leve curiosidade. Uma citação exibida no início do filme, atribuída à Johann Sebastian Bach, diz: “Não é difícil. Tudo o que se tem de fazer é bater as teclas certas no momento certo”. Ou seja, é preciso dominar a arte para dela extrair beleza com aparente facilidade. A Montanha Matterhorn faz força demais para parecer um bom filme.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 3 |
Francisco Carbone | 8 |
MÉDIA | 5.5 |
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