A Fonte da Juventude

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Sinopse

Em A Fonte da Juventude, dois irmãos se unem em um roubo internacional com um objetivo audacioso: encontrar a lendária fonte que promete saúde e vitalidade eterna. Usando seus conhecimentos de história para seguir pistas misteriosas, embarcam em uma aventura que promete transformar suas vidas para sempre. Aventura.

Crítica

Quando despontou no cenário cinematográfico, com filmes como Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes (1998) e Snatch: Porcos e Diamantes (2000), Guy Ritchie foi logo apelidado de “o novo Quentin Tarantino”, não tanto por uma suposta genialidade exibida detrás das câmeras, mas pela similaridade dos temas abordados e na embalagem apresentada ao público, entre uma trilha sonora estudada e uma edição precisa, proporcionando ao conjunto uma inevitável sensibilidade pop. O tempo passou, como era de se esperar, mas essa promessa não se confirmou. Ou melhor, se transformou. Hoje, o cineasta segue sendo comparado com outros que vieram antes dele, mas num viés genérico, como uma imitação barata que almeja trilhar caminhos semelhantes, sem nunca, porém, dar passos efetivos. A Fonte da Juventude, seu mais recente esforço, confirma essa impressão: a tentativa declarada é de se aproximar de um Steven Spielberg de início de carreira, o que torna tudo ainda mais constrangedor e embaraçoso.

Não que Ritchie se demonstre preocupado com tais análises. Afinal, desde o fim da pandemia do Covid-19 ele já lançou inacreditáveis cinco longas-metragens (apenas dois nos cinemas, o que merece ser considerado) e deu início a duas séries – uma delas, Magnatas do Crime (2024), baseada no longa de mesmo nome realizado meia década antes. E não só tem mais um pronto para estrear ainda em 2025, como conta com outros três já engatilhados – incluindo as sequências de Aladdin (2019) e do recente Matador de Aluguel (2024). A ele, o que importa, enfim, é seguir trabalhando. E A Fonte da Juventude é resultado desse pensamento. Um filme que desde o começo transmite a sensação de ter sido realizado a toque de caixa, sem personalidade, feito às pressas e desprovido de qualquer tipo de digital que o torne minimamente singular. É a reciclagem de um tipo de produto que chegou a ser popular no final do século XX, mas que hoje se contenta em apenas regurgitar velhas fórmulas, sem injetar nada de novo a uma cartilha desgastada e envelhecida.

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Se há ao menos um toque diferenciado na trama proposta pelo roteirista James Vanderbilt (Zodíaco, 2007) é o fato de sua história ser protagonizada não por um par romântico ou por velhos colegas de ação, mas por uma dupla de irmãos – e não pergunte quem é o pai deles, pois a conclusão é constrangedora pela inevitável comparação proposta. Luke (John Krasinski, que ao menos tem porte para esse tipo de papel, assim como charme para emprestar algum tipo de humor mesmo diante das piores condições) é um trambiqueiro do mundo das artes que vai atrás de Charlotte (Natalie Portman, que atravessa o filme sem encontrar o tom de sua personagem), atualmente trabalhando como curadora em um museu de Londres, para ajudá-lo em sua atual missão: encontrar, obviamente, a mítica fonte do título, aquela que promete saúde e vitalidade eterna a quem dela beber. Ao lado dos dois está um milionário prestes a morrer por um câncer agressivo (Domhnall Gleeson, que merecia mais do que um tipo tão apagado e cuja reviravolta pode ser antevista com bastante antecedência).

Mas eles não estão sozinhos, e além do time que reúnem – que vai desde uma Carmen Ejogo desperdiçada a uma criança desprovida de qualquer carisma (Benjamin Chivers, de Napoleão, 2023, a quem é imposto uma responsabilidade com a qual ele não consegue lidar) – há ainda um policial que tem a sua disposição recursos improváveis (Arian Moayed, de Succession, 2018-2023), uma assassina profissional enviada por uma seita milenar (Eiza González, que estava também em Guerra sem Regras, 2024, longa anterior de Ritchie) e até um misterioso homem que tudo sabe, mas pouco se envolve (Stanley Tucci, que permanece no Vaticano desde Conclave, 2024). Ou seja, há bastante distração, mas pouco em cena capaz de resistir a uma análise mais detalhada. A Fonte da Juventude empilha uma sequência de ação atrás da outra, mas poucas parecem fazer sentido, ou ao menos produzirem efeitos práticos entre as figuras reunidas. E quando a jornada encontra seu fim, tal resultado soa tão desprovido de emoção que é quase como o respiro resignado antes do próximo passo. Ou do filme seguinte. Igualmente descartável e inofensivo, assim como qualquer um dos seus antecessores vindos da mesma assinatura.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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