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Sinopse

Em 1938, a britânica Joan Stanley estudava física em Cambridge quando se apaixonou por um jovem comunista. Na mesma época, foi convocada pelo Comitê de Segurança Russo (KGB) para atuar como espiã do Governo de Stalin no Reino Unido. Depois de mais de cinquenta anos de serviço muito bem-sucedidos, foi descoberta e presa pela Serviço de Inteligência Britânico (MI5).

Crítica

A tradição dos thrillers de espionagem no cinema britânico faz com que, ao menos num primeiro momento, crie-se certa expectativa em torno de A Espiã Vermelha, com sua trama inspirada pelo caso real de Melita Norwood, uma ex-funcionária pública da Associação Britânica de Pesquisa de Metais Não Ferrosos que, durante os anos de 1940, atuou como fonte de inteligência da KGB, fornecendo informações sigilosas sobre o desenvolvimento do programa atômico do Reino Unido aos soviéticos. Tendo suas ações descobertas apenas na década de 1990, Melita, já com mais de 80 anos de idade, ficou conhecida popularmente como a “Vovó Espiã”. Aqui, no longa de Trevor Nunn, prestigiado diretor teatral, mas de trajetória bissexta como realizador cinematográfico, a personagem ganha o nome fictício de Joan Stanley, sendo vivida em sua maturidade por Judi Dench.

O filme se inicia com a prisão de Joan, levada a interrogatório por agentes do Serviço de Segurança Nacional, o que serve como justificativa para a introdução de flashbacks de seu passado – quando é interpretada pela atriz Sophie Cookson – a partir de sua admissão, em 1938, no curso de física da Universidade de Cambridge. É na renomada instituição que conhece a estudante de línguas Sonya (Tereza Srbova), responsável por apresentá-la a seu primo, Leo (Tom Hughes), membro entusiasmado e eloquente do Partido Comunista, por quem a protagonista se apaixona instantaneamente. É justamente a essa relação, que gradativamente evolui para um triângulo amoroso – quando da entrada na trama do professor Max Davis (Stephen Campbell Moore), com quem Joan viria a trabalhar no projeto de criação de uma bomba atômica britânica – que Nunn direciona seu foco, apostando em um romance de toques dramáticos e diluindo quase por completo o potencial inicial de thriller presente na premissa.

Ainda que se insinue esporadicamente – basicamente através da trilha sonora – a criação de uma atmosfera de suspense nunca se materializa, de fato, dentro da realização acadêmica e protocolar de Nunn. O esmero na reconstituição de época e a plasticidade da direção de fotografia não encobrem o didatismo do diretor – vide as várias sequências de recortes de imagens construídas para retratar o cotidiano de Joan no trabalho, na universidade ou seu modus operandi como espiã. Trabalhando os arcos dramáticos e românticos sempre em uma chave açucarada, de emoções brandas, a narrativa carece também de uma noção de passagem do tempo mais sólida, o que se deve, ao menos em parte, à maneira como Nunn intercala as duas linhas temporais. Sente-se pouco o peso dos anos sobre o desenvolvimento das relações ou mesmo das mudanças de atitude dos personagens, em particular na linha do presente (que se passa no ano de 2000).

Apesar da capacidade de Judi Dench, que exibe seu talento habitual para transmitir sentimentos reprimidos através de olhares e pequenos gestos, a falta de aprofundamento psicológico do roteiro, com diálogos pouco inspirados, opera contra a atriz. Nunn praticamente não adentra o aspecto de como os acontecimentos relatados afetaram a protagonista durante o intervalo de tempo não mostrado que separa as duas linhas temporais, deixando ainda de explorar de forma mais pungente as motivações conflituosas de Joan – dividida entre a paixão e um desejo de igualdade, de paz, não necessariamente apoiado em convicções políticas. Novamente, a divisão narrativa se apresenta negativa, prejudicando, por exemplo, a construção do personagem do filho e da ruptura em seu relacionamento com a mãe. Na linha do passado, Sophie Cookson entrega um trabalho competente, se esforçando para compor uma mulher ao mesmo tempo frágil e independente.

Tal subtexto talvez seja o que A Espiã Vermelha tem de mais interessante, ao apresentar uma protagonista forte o suficiente para se impor em um meio masculino – tanto o acadêmico quanto o científico – muitas vezes opressor, e capaz de reverter as situações nas quais é colocada à sombra de seus dois amantes. Contudo, mesmo esse elemento, trabalhado de forma sutil, mas efetiva, por Nunn, é insuficiente para elevar um resultado final que, se não totalmente apático, padece da falta de intensidade. O desfecho anticlimático de aura artificial, forçando um sentimentalismo fora de tom, resume bem essa sensação de flacidez que sufoca o bom desempenho de suas atrizes principais.

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é formado em Publicidade e Propaganda pelo Mackenzie – SP. Escreve sobre cinema no blog Olhares em Película (olharesempelicula.wordpress.com) e para o site Cult Cultura (cultcultura.com.br).
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