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Sinopse

Escritor de romances policiais, Ellison acaba de se mudar com sua família. Ele descobre intrigantes rolos de filme no sótão da nova casa, cujo conteúdo é uma série de imagens de pessoas mortas.

Crítica

É preciso ter muita coragem para estampar no cartaz do filme a solução da história. A se lamentar, no entanto, que a ousadia deste A Entidade se resuma a isso. Por mais que os acontecimentos sejam terrivelmente previsíveis, ficamos durante todo o desenvolvimento da trama – ou ao menos enquanto ainda nos importamos com ela – na torcida para que o óbvio não aconteça. Infelizmente, no entanto, é exatamente o que imaginamos que sucederá, sem tirar nem por. É até um pouco cruel qualificar este filme como uma obra de terror – pois, sem sustos nem ao menos um visual interessante, o que lhe restaria para justificar tal qualificação? A fotografia sorumbática é a usual, o mistério é banal e qualquer segredo que apareça é desvendado tão rapidamente que nem chegamos a nos envolver. Talvez se o encararmos apenas como uma história de suspense, próxima a uma investigação policial, as expectativas fiquem mais contidas e o resultado possa não decepcionar tanto. Talvez.

Ethan Hawke, obviamente tendo que levantar algum dinheiro rápido para concluir sua adorável trilogia ao lado de Julie Delpy nos românticos Antes do Amanhecer (1995) e Antes do Pôr-do-sol (2004) – Antes da Meia-Noite está agendado pra 2013 – é o protagonista e único nome conhecido (Vincent D’Onofrio, que havia atuado ao lado do ator em Newton Boys: Irmãos Fora-da-Lei, em 1998, está apenas fazendo um favor ao amigo, em uma pequena participação não creditada) do elenco. Ele aparece como um pai de família e escritor de um único sucesso, lançado há mais de 10 anos. Seus livros são sobre crimes reais, e o conhecemos no dia da mudança para a casa onde, anos atrás, uma família inteira foi enforcada no quintal – apenas a filha menor não teve o mesmo fim, e até hoje ela está desaparecida. No sótão da casa o novo proprietário encontra uma caixa com filmes antigos. O que parecia ser o registro de momentos familiares se revela mais: ali estão gravações das mortes pesquisadas e de uma série de outras, acontecidas em lugares geograficamente distantes, porém em condições similares. Principalmente no fato de se tratarem sempre de famílias assassinadas em que o filho caçula termina desaparecido.

Qualquer um com o mínimo de experiência no gênero sabe no que o escritor está se metendo. E A Entidade não faz a menor questão de despistar o espectador daquilo que está evidente. Assim como já visto em tantos outros filmes anteriores, estamos diante de uma manifestação sobrenatural – algo como um bicho-papão – que consegue se comunicar apenas com a criança mais jovem e, através dela, promover a eliminação completa daqueles que cruzam o seu caminho. Processos repetidos que servem apenas para criar uma tensão vazia – nos cansamos de acompanhar o passo a passo de ligar o projetor do super 8 – elementos de dispersão sem sentido – qual a razão do filho mais velho ter “noites de terror”? – e coadjuvantes fracos – a esposa é particularmente inverossímil – colaboram no sentido de estragar qualquer tentativa de melhora do contexto geral. É um filme ruim, do início ao fim, e nada que poderia consertá-lo – ou ao menos melhorá-lo – é aproveitado.

Dirigido por Scott Derrickson, que já teve dias melhores com o realmente assustador O Exorcismo de Emily Rose (2005), A Entidade é uma obra descartável que só pode ser explicada dentro de um cenário mais amplo. Lançada num período de entressafra, entre o verão norte-americano e a temporada de premiações do fim do ano, é apenas uma bobagem cujo único objetivo é entreter as platéias adolescentes mais afoitas. Afinal, as grandes produções foram exploradas meses atrás, e os que prometem fazer a festa da crítica ainda levarão algumas semanas para aparecer. E enquanto isso quem sofre é o espectador à procura de algo mais relevante, que vê suas opções diminuírem cada vez mais.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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