A Concerto is a Conversation
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Kris Bowers, Ben Proudfoot
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A Concerto Is a Conversation
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2021
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EUA
Crítica
Leitores
Sinopse
Um virtuoso pianista de jazz e compositor de trilhas sonoras de filmes rastreia sua linhagem familiar por meio de seu avó de 91 anos, um homem que teve de lutar desde muito cedo contra o racismo e a discriminação.
Crítica
No começo deste curta-metragem indicado ao Oscar, o compositor Kris Bowers (que assina a direção do filme ao lado de Ben Proudfoot) confessa que questiona se merece o lugar ocupado na indústria do entretenimento. Prontamente, seu avô afirma que se ele está lá é porque merece. Essa manifestação de suporte é um dos vários indícios do enorme carinho que fundamenta a relação essencial a A Concerto is a Conversation. Estabelecendo uma simples, mas eficiente, ponte entre as naturezas dialógicas de um concerto e de uma conversa reveladora, a dupla de realizadores entremeia o papo entre neto e avô, sublinhando a trajetória deste também como ressonância dos esforços daquele. Horace Bowers relembra os tempos difíceis como homem negro do sul dos Estados Unidos na década de 1940. Menciona o tratamento ao qual o pai era submetido, a vontade de ir embora e os subterfúgios para obliterar o preconceito que insistia em lhe diminuir numa sociedade racista.
O bate-papo entre os protagonistas de A Concerto is a Conversation se dá numa dinâmica de campo/contracampo, com raros momentos em que os dois estão no mesmo quadro. Valendo-se de uma baixíssima profundidade de campo ao registrar o colóquio, os cineastas desfocam tudo o que não for rosto, detendo-se assim na intensidade dos semblantes. O idoso acometido por uma doença potencialmente fatal assume, sem problemas, o lugar de exemplo, oferecendo a história da própria vida como insumo para ensinar uma lição valiosa ao neto que menciona sua angústia. Em pouco menos de 13 minutos, de modo apropriadamente sucinto – não há sensação de pressa ou de que o conteúdo foi comprimido para caber no pouco tempo disponível –, Horace Bowers remonta orgulhosamente à sua caminhada e evidencia a extensão maior do caminho a ser percorrido pelas vítimas do racismo. Ele exibe a agudeza das mágoas e a da noção inquestionável de ter vencido na vida apesar de tantos e frequentes pesares que se apresentaram.
Kris Bowers é um personagem prioritariamente ouvinte. No mais das vezes, sobretudo após apresentar inquietações, o neto se resigna a escutar atentamente o avô. De maneira curiosa, Horace Bowers não olha diretamente à lente, possui uma mirada oblíqua (direcionada ao neto), enquanto Kris claramente encara a objetiva como se ela representasse o membro emérito de sua genealogia. Frequentemente, há rimas visuais encarregadas de aproximar os universos aparentemente distantes da lavanderia (negócio que Horace administra há décadas) e o ofício artístico de Kris. A principal delas é o pedal da prensa da empresa familiar e o componente similar do piano de cauda. Tal artifício deixa ainda mais evidente o principal desejo dos cineastas com A Concerto is a Conversation. Este é exatamente a construção eloquente, porém essencialmente terna, de um diálogo ao mesmo tempo íntimo e consistentemente histórico entre homens que, a despeito das diferenças de seus tempos de juventude, são inexoravelmente próximos em vários sentidos e dimensões.
A Concerto is a Conversation tem outros instantes muito bonitos, como a ratificação da imagem do avô ao fundo, orgulhoso, durante a gravação caseira da apresentação de Kris na infância. Algumas lógicas ficam implícitas pela forma como o discurso é construído. Não se torna necessário, por exemplo, que o cineasta/compositor/personagem diga o quanto se espelha na estrada do avô. Isso está a serviço da intuição do espectador atento à natureza dos olhares que Kris lança a Horace, à compreensão não verbalizada dele como figura que merece elogios por conta de seu caráter inspiracional. Alternando bem as imagens de arquivo (que, além de ilustrar, aumentam o contorno afetivo do curta-metragem) com essa conversa em que os sujeitos isolados pela câmera permanecem virtualmente unidos, Kris Bowers e Ben Proudfoot fazem um filme bonito e singelo. Nele, a música se torna um intermitente e afável condutor entre pessoalidades e História compartilhadas.
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