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Sinopse

Dylan Branson é um homem que tem a sua vida mudada para sempre quando uma série de eventos se repete exatamente no mesmo horário todos os dias, às 2:22 da tarde. Quando Dylan se apaixona por Sarah, uma jovem mulher que tem sua vida ameaçada pelos mesmos acontecimentos, ele deve resolver o mistério que o cerca para preservar o amor que a vida lhe ofereceu como uma segunda chance.

Crítica

Prestes a completar trinta anos, o controlador de tráfego aéreo Dylan (Michiel Huisman) leva uma vida estável, ainda que um tanto solitária, regida pelo ritmo acelerado de Nova York. Certo dia, após ser acometido por uma visão – resultado de uma espécie de explosão luminosa ocorrida exatamente às 2h22 da tarde – que o paralisa por alguns segundos, Dylan quase provoca um desastre envolvendo dois aviões com centenas de passageiros. Ele é suspenso do trabalho, e seu cotidiano passa a ser afetado por uma série de eventos que se repetem todos os dias, justamente no mesmo horário do quase acidente, e que fazem parte do mistério no qual se inclui Sarah (Teresa Palmer), gerente de uma galeria de arte, e passageira de uma das aeronaves do incidente, por quem o protagonista se apaixona instantaneamente. Daí parte 2:22: Encontro Marcado.

A premissa de suspense e ficção científica, com potencial à criação de um exemplar de gênero minimamente interessante, acaba sendo desviada para um romance “cósmico-reencarnatório” pelas mãos do australiano Paul Currie, produtor de filmes como Um Tira Acima da Lei (2011) e Até o Último Homem (2016), que assume a função de diretor pela segunda vez em sua carreira. Partindo da crença do destino como comandante das forças do universo, Currie ancora seu longa no princípio de que tudo está escrito nas estrelas, mencionando os corpos celestes desde a abertura, com narração em off, em que Dylan relembra as falas de seu pai, piloto de aviões, sobre as luzes de Nova York vistas do alto se assemelharem a um céu estrelado, ou afirmando que “uma estrela brilha mais intensamente quando está prestes a morrer”.

Elevando a relação de causa e efeito – a morte originando a vida – a níveis metafísicos, Currie busca amparar a filosofia presente na implausível jornada de Dylan, no que parece uma mistura reciclada de Uma Mente Brilhante (2001) – na habilidade sobrenatural do personagem principal de enxergar parâmetros ocultos, que lhe permitem fazer cálculos e previsões a respeito das decolagens e pousos no aeroporto, e que nunca soa completamente convincente na atuação de Huisman – com Feitiço do Tempo (1993) – ainda que aqui Dylan não se veja preso no mesmo dia, mas vivendo dias diferentes compostos dos mesmos acontecimentos. A repetição, utilizada para fins cômicos no clássico estrelado por Bill Murray, é a base do trabalho de Currie, que dispensa um bom tempo a apresentar a rotina sistemática do personagem – desligar o despertador, pegar as chaves, cumprimentar o porteiro, pedalar, pegar o metrô etc. – replicada também em sua dinâmica de trabalho.

Como se acreditasse na possibilidade de que algo se torna verdade e faz sentido apenas por ser dito, ou mostrado, repetidas vezes, Currie procura mascarar as fragilidades de um roteiro fundado em deduções mirabolantes e conexões extremamente frouxas. Na tentativa de criar a ilusão de complexidade para sua trama – não faltam cenas de Dylan fazendo anotações na parede de vidro de seu apartamento e “provando” suas teorias – o cineasta não só falha de maneira retumbante, como ainda, muitas vezes, subestima a capacidade do espectador – vide a necessidade dos incessantes closes nos relógios mostrando o horário de 2h22, como se o próprio título já não fosse suficiente para chegar à conclusão desejada. Contudo, o principal equívoco cometido por Currie está em não aceitar a farsa, não se mostrar ciente das inverossimilhanças da história que tem em mãos, para criar um filme B despretensioso.

Pelo contrário, 2:22: Encontro Marcado se leva a sério o tempo todo, preocupado em oferecer respostas e reviravoltas supostamente inteligentes, mas que não resistem ao menor aprofundamento, e em sustentar um senso de gravidade – desde o tom da citada narração em off, passando pelas câmeras lentas dramáticas utilizadas à exaustão – que resulta totalmente artificial. Além disso, e das inúmeras atitudes e mudanças de comportamento inconsistentes dos personagens, Currie ainda utiliza o elemento da ligação com vidas passadas, da reencarnação, como muleta para justificar outras tantas fraquezas do texto, em particular, aquelas que orbitam a relação entre Dylan e Sarah, de um amor mútuo e incondicional, estabelecido de modo demasiadamente apressado – como se “já se conhecessem há anos” – impedindo que se desenvolva um vínculo genuíno entre o casal e o público.

Toda essa pretensão austera gera um produto travado, que não se abre ao puro entretenimento, embalado por uma realização tecnicamente correta, porém sem qualquer personalidade, já que o diretor adota uma estética publicitária de beleza genérica e vazia – vide a sequência do espetáculo de balé ou o confronto na exposição de vídeoarte de Jonas (Sam Reid), ex-namorado de Sarah e talvez o personagem mais problemático do longa. No fim, até mais do que o espectador, Currie parece se esforçar para convencer a si mesmo da validade de seu trabalho, de que a história por ele contada possui algum nexo ou é capaz de exercer o mínimo fascínio. Um sinal de insegurança que, na profissão de Dylan, poderia causar uma tragédia aérea de grandes proporções, mas que aqui origina apenas um desastre cinematográfico de menor escala.

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é formado em Publicidade e Propaganda pelo Mackenzie – SP. Escreve sobre cinema no blog Olhares em Película (olharesempelicula.wordpress.com) e para o site Cult Cultura (cultcultura.com.br).
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Leonardo Ribeiro
3
Edu Fernandes
3
MÉDIA
3

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