Crítica


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Sinopse

Desafiando as regras, 22 se recusa a ir para a Terra. Ela alista cinco almas, monta uma gangue e dá início a uma rebelião.

Crítica

Pegando carona no sucesso de Soul (2021), cujo feito mais recente foi levar para casa (leia-se Disney/Pixar) mais um Oscar de Melhor Animação em Longa-metragem e ainda garantir o de Melhor Trilha Sonora (Trent Reznor e Atticus Ross), 22 Contra a Terra mostra um recorte muito pequeno, apressado e pregresso ao longa. Nele, a 22 (voz original de Tina Fey), indignada por não conseguir inspirar-se e descobrir o que poderia dar algum sentido à sua existência na Terra, resolve reunir um grupo de almas supostamente descontentes como ela. Porém, a graça está justamente no fato de que aquelas pequenas bolinhas azuis, mascaradas como se fossem assaltantes de banco tipificadas, não têm uma consciência da natureza da frustração da protagonista, alistando-se mais como forma de brincar do que necessariamente para causar uma revolução na pré-vida.

Nos cerca de cinco minutos que dura, 22 Contra a Terra não faz mais do que sublinhar o que já vimos durante a jornada da 22 em Soul, ou seja, que ela não possui real aversão ao planeta azul, uma vez que sua raiva enorme advém do desapontamento por ser uma das mais antigas emperradas nesse estágio intermediário para nascer. O roteiro de Josh Cooley oferece como “novidade” justamente a dinâmica dos comparsas de ocasião topando com os sentidos de suas existências futuras exatamente quando se engajam nessa patota dos que “não acreditam” no significado de todo aquele movimento. Poderia ser um mote bem explorado, mas aqui ele é atropelado por uma lógica excessivamente apressada. Não existe lastro. O que temos é um acúmulo de situações que desembocam basicamente na felicidade dos pequenos ao finalmente ganharem seu passaporte.

22 Contra a Terra tinha potencial para ser mais do que o espremer de uma laranja que vem dando um suco bastante saboroso (vitorioso) à Disney/Pixar. Levando em consideração que boa parte dos seus espectadores terá assistido a Soul previamente, os criadores não perdem tempo com apresentações de contextos, por exemplo, nos jogando diretamente em mais um dia normal no pré-vida, no qual a protagonista vai tentar dar vazão ao seu desgosto duradouro. A reunião de recrutamento das cinco almas faz certas brincadeiras sobre a obediência cega do time que nem sabe direito o que está fazendo ali, haja visto a repetição do que a 22 fala, sem ao menos uma superficial reflexão sobre aquilo. No entanto, é tudo tão corrido que não se torna suficiente para permitir uma ponderação minimamente duradoura sobre as alusões à realidade ali sendo feitas.

Na verdade, 22 Contra a Terra é mais espirituoso do que necessariamente bom autonomamente. Vale o quanto pesa a rápida extensão do universo Soul, ainda que de fato não o amplie, mas apenas reforce a já demonstrada personalidade/lição da protagonista. Se há uma mensagem no curta-metragem é a de que encontrar o propósito individual pode surgir como obra do acaso, ou seja, quando menos se espera. Um dos pequenos acha seu desígnio ao roubar um carro para pretensamente incomodar; outro ganha seu salvo-conduto à Terra ao mentir (e a piada sobre o planeta estar cheio de políticos também tem efeito apenas imediato). No fim das contas, é um prelúdio sem novidades do que já tínhamos visto em Soul, quando a 22 encerra a sua longa jornada de desilusão ao vislumbrar o destino quando esse não era seu objetivo principal.

 

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

Grade crítica

CríticoNota
Marcelo Müller
5
Robledo Milani
4
MÉDIA
4.5

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