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Sinopse

Wilfred James, até então um pacato fazendeiro, bola um plano macabro para solucionar o seu problema financeiro. Ele decide assassinar Arlette, sua mulher. Mas, para conseguir fazer tudo direito, Wilfred precisa convencer Henry, seu filho, a ajudá-lo.

Crítica

Infelizmente não é todo dia que se faz um Jogo Perigoso (2017) ou um It: A Coisa (2017) – por outro lado, desastres como o seriado O Nevoeiro (2017) também não. E no ano em que se comemora os 70 anos de Stephen King, quando diversas de suas obras estão ganhando chances nas grandes e pequenas telas, é possível enxergar nesse pequeno panorama que, como nas últimas décadas, houve aqueles que entenderam bem a força dos livros e contos de King e os que se perderam na recorrente descritividade do escritor e acabaram gerando obras ruins. Acontece que, apesar de qualquer coisa, o autor é notoriamente hábil em transformar o horror sobrenatural ou o drama específico de uma situação em narrativas sobre medos e conflitos comuns a qualquer leitor. 1922 se equilibra entre esses extremos, reconhece a metáfora e a emprega de forma eficiente, mas também peca ao explorá-la demais.

No ano que dá título ao longa, o plantador de milho Wilfred James (Thomas Jane) decide assassinar a esposa Arlette (Molly Parker) com a ajuda do filho Henry (Dylan Schmid). Acontece que a mulher queria vender a sua parte das terras, herdada do pai, se separar do marido e ir viver na cidade com Henry. Uma vez que o fazendeiro dá cabo de seu plano, as coisas começam a sair do controle, pois uma praga se instala nas plantações, ratos invadem sua casa e mesmo seu filho e cúmplice no crime se volta contra ele.

Assim, não é difícil perceber que a “maldição” que cai sobre o lugar e o protagonista são ilustrações da culpa sentida por ele, que evoca dentro de si um “homem calculista”, como se buscasse alguém a quem responsabilizar. Vivido por um Thomas Jane assustadoramente magro, Wilfred é o elemento mais interessante da produção – o que já implica num outro problema: a antipatia do projeto, discutida a seguir. Sempre falando com os dentes cerrados e o cenho fechado, Jane confere ao fazendeiro o ar bronco de um homem simples, mas também consegue muito bem sugerir, principalmente na secura de sua voz e no olhar intenso, a perigosa mistura de astúcia e ambição que se esconde por trás de seus modos pacatos. Logo, o que facilmente poderia ser uma caricatura de mau gosto, se configura num personagem que também se ressente de uma acusação ao filho, e que chega mesmo a demonstrar arrependimento pelo assassinato de Arlette.

Entretanto, 1922 não se propõe a ser um estudo de personagem, e essas nuances que captamos de Wilfred são méritos da performance de Jane. O longa em si, escrito e dirigido por Zak Hilditch, claramente tenta ser um exercício de estilo, fazendo força para criar uma atmosfera opressora e angustiante que oscila entre o terror psicológico e… Sangue Negro (2007)? Porém, o filme cai em diversos clichês, como ao utilizar uma trilha dissonante para evocar a confusão interna do personagem principal, ou ao empregar uma narração do protagonista que infere tragédia a todo o momento. Além disso, Molly Parker e Dylan Schmid falham em seus respectivos papéis por não conseguirem estabelecer nem Arlette ou Henry como personagens que se contrapõe a Wilfred – os três são maus, mesquinhos e antipáticos, o que ameniza a crueldade que o filme tenta ressaltar no fazendeiro.

De outra forma, é bem verdade que Hilditch também consegue estabelecer muito bem como os ratos representam a culpa crescente de Wilf, pois eles passam a infestar cada vez mais os ambientes que ele habita. Contudo, o próprio cineasta se sabota ao inserir elementos sobrenaturais no roteiro, jamais permitindo que exista uma dubiedade e, portanto, um subtexto nessa leitura – os personagens chegam a conversar com as assombrações. Então é sintomático que, tão logo acabe, 1922 seja esquecido antes mesmo que possamos ligar o tal ano à Grande Depressão que viria em seguida, e que invalidaria ainda mais os esforços do protagonista.

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é formado em Produção Audiovisual pela PUCRS, é crítico e comentarista de cinema - e eventualmente escritor, no blog “Classe de Cinema” (classedecinema.blogspot.com.br). Fascinado por História e consumidor voraz de literatura (incluindo HQ’s!), jornalismo, filmes, seriados e arte em geral.
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