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Sinopse
12.12: O Dia se passa após o assassinato do presidente Park, quando a lei marcial é declarada. O comandante de segurança Chun Doo-hwan e os oficiais que o seguem encenam um golpe. Lee Tae-shin, um comandante teimoso do Comando da Guarnição da Capital que acredita que os soldados não devem tomar medidas políticas, irá representar a oposição. Ação.
Crítica
Para o público brasileiro, é provável que acompanhar o desdobrar dos acontecimentos de 12.12: O Dia tenha a mesma sensação de se estar diante de um thriller absolutamente ficcional, o que não chega a ser inteiramente o caso. Trata-se, sim, de um longa de ficção, mas fortemente ancorado em fatos que de fato ocorreram. Porém, não somente há décadas – o 12 de 12 do título faz referência ao dia 12 de dezembro de 1979 – mas também no outro lado do planeta – em Seul, capital da Coreia do Sul, para ser mais exato. Nada, é claro, que uma rápida consulta na Wikipedia não resolva, adiantando até mesmo spoilers a respeito do desfecho do filme. Mas é melhor, de fato, permanecer na ignorância e acompanhar cada novo fato que um após o outro passa a ocupar o centro da trama. Pois essa é construída de modo elaborado, apostando em diálogos tensos e resoluções nem sempre previsíveis e imediatas. É um outro estilo de fazer cinema. E são essas mudanças na abordagem de um contexto de fácil identificação – fala-se sobre um golpe de estado, algo que deve soar tão distante ao espectador – que respondem por um todo que, mesmo diante de um desfecho agridoce, oferece muito como matéria para reflexão (e até mesmo como exemplo).
Em 26 de outubro de 1979 – nem dois meses antes, portanto – o presidente sul-coreano Park Chung Hee foi assassinado pelo seu próprio chefe de segurança. Com isso, chegava ao fim uma ditadura de 18 anos e teve início o movimento que ficou conhecido como Primavera de Seul, e se tratava de uma tentativa de redemocratizar o país. O longa de Sung Soo Kim (Asura: A Cidade da Corrupção, 2016) começa com a reviravolta política que passa a ocupar os altos escalões do governo após o mais alto cargo ficar vago. Porém, rei morto, rei posto. Rapidamente um presidente interino toma posse, eleições são convocadas e o povo parece reagir bem a todas essas mudanças. Com exceção de um único setor da sociedade: os militares. Esses não se mostram nem um pouco dispostos a abrir mão do poder que por quase duas décadas vinham desfrutando, ainda mais da noite para o dia. O processo foi abrupto, e há um preço a ser pago ao se eliminar etapas. Não vai tardar para que duas forças se manifestem: uma a favor dessa nova era, e outra disposta a fazer com que tudo volte a ser como antes.
É quando dois personagens começam a assumir o protagonismo das ações que marcaram o dia em questão. Não causa estranheza o roteiro assumir, a partir desse ponto, uma lógica de “mocinho e bandido”. Lee Tae-shin (Jung Woo-sung, de Operação Hunt, 2022) se mostrará o herói relutante, aquele que hesita em assumir a chefia de segurança da capital justamente por não se achar à altura de tamanha responsabilidade, mas que uma vez ciente do quanto dele estão dependendo, fará o que estiver ao seu alcance para não decepcionar. Da mesma forma, essa dinâmica será completa na presença do general Chun Doo-gwang (Hwang Jung-min, de O Lamento, 2016), que quietamente começará a reunir os tão insatisfeitos quanto ele ao seu redor, dando início a um movimento rebelde de tomar a cidade, isolando-a em suas principais vias de acesso, enquanto trata de sequestrar – ou mesmo eliminar – seus oponentes centrais. Curiosamente, tudo sob um véu de normalidade, exigindo para isso até mesmo o consentimento do presidente empossado (mas não por muito tempo).
Se por vezes a narrativa soa por demais verborrágica, é preciso levar em consideração o fato de se tratar de um episódio sobre o qual o espectador ocidental possui raras informações prévias, além da dificuldade natural em se fixar as posições tomadas e os seus respectivos responsáveis (para se ter ideia, a própria legendagem em português trocou o nome “Chun” por “Jeon”, sendo que um dos seus oponentes se chama “Jeong” – uma letra a mais, e uma confusão que demora longos minutos para ser desfeita). Se alguns acusarão o conjunto de adotar uma estrutura teatral, evitando na maior parte do tempo sequências de ação, tiroteios e até perseguições pelas ruas da capital (e acredite, haveria espaço para tanto), por outro viés é curiosamente interessante acompanhar ritos e ordens de comando – que em segundos são desfeitas por outras instâncias – que, uma vez postos um atrás do outro, beiram a comicidade, não fossem sérias as consequências destes eventos. E um aviso: nada de esperar por um final feliz em 12.12: O Dia. Afinal, este não é um filme hollywoodiano. E se o choque incomoda, isso também não deixa de ser um bom sinal.


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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 7 |
Celso Sabadin | 7 |
Alysson Oliveira | 4 |
MÉDIA | 6 |
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