Crítica


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Sinopse

Num dia aparentemente comum, moradores de Varsóvia seguem suas vidas normalmente sem imaginar o que aconteceria em 11 minutos fatídicos. Um marido ciumento persegue a sua esposa, uma atriz tenta um contrato com um realizador de cinema, um estudante determinado a cumprir uma misteriosa missão, um vendedor de cachorros quentes que recorda o seu passado, um empregado de limpeza, um traficante, um idoso, uma equipe de paramédicos e um grupo de freiras. Eventos separados fazem as suas vidas interligar-se, traçando o destino de cada um.

Crítica

Em seu terceiro trabalho após um longo hiato de 17 anos, Jerzy Skolimowski se mantém fiel aos principais elementos temáticos explorados nos longas anteriores deste seu retorno, Matança Necessária (2010) e Quatro Noites com Anna (2008), como a reflexão sobre a inevitabilidade do destino, demonstrando, porém, a intenção de se adaptar às mudanças ocorridas na linguagem cinematográfica durante seu período de reclusão. Para isso, em 11 Minutos, o polonês recorre não só a novos artifícios técnicos e estéticos, como a utilização do registro digital, mas também aos de ordem estrutural, apostando em uma narrativa de filme-coral. Tal estruturação – dominada por Robert Altman já na década de 70 – foi amplamente adotada pelos mais diversos cineastas na primeira década dos anos 2000, denotando certo atraso da parte do realizador.

Dentro dessa abordagem nova, ao menos para o próprio, Skolimowski trabalha com limitações. Uma mais abrangente, a espacial, adotando como cenário a cidade de Varsóvia, e outra mais restrita, a temporal, com a trama apresentando o mesmo período de 11 minutos na vida de variados personagens, como um vendedor de cachorro quente (Andrzej Chyra), seu filho (Dawid Ogrodnik), traficante que faz entregas de moto, um garoto que foge de casa (Lukasz Sikora) ou o grupo de socorristas liderado pela doutora Ewa (Anna Maria Buczek). As ligações entre eles também são diversas: diretas (pai e filho), eventuais (os clientes do vendedor) ou ainda completamente casuais (estarem hospedados no mesmo hotel, pegarem um mesmo ônibus). Skolimowski revela fragmentos da existência dessas figuras, avançando e recuando na fração temporal estabelecida, para retratar os mesmos acontecimentos sobre diferentes pontos de vista.

O cineasta constrói sua teia de eventos sob uma atmosfera instigante em relação à razão que finalmente conectará todas essas pessoas. Pois, por mais que muitas situações soem, a princípio, completamente banais, Skolimowski, desde o início, aponta para um tom único, trágico, envolvendo todas as histórias, emanado particularmente do núcleo formado por um homem de temperamento explosivo (Wojciech Mecwaldowski) e sua bela esposa, Anna (Paulina Chapko), aspirante a atriz que tem uma reunião marcada com um importante diretor/produtor estrangeiro (Richard Dormer). O trio acaba tomando a maior parte da trama, tornando-se o centro dos dramas que se desencadeiam, e mesmo da própria visão de Skolimowski sobre o mundo nesse pós-afastamento pessoal. O foco principal desse olhar está sobre a noção contraditória do valor da imagem na sociedade contemporânea, em que a hipervalorização – a necessidade de registrar cada momento e sentimento – leva à efemeridade, com o poder do registro se diluindo em meio a uma quantidade absurda de informações.

Para retratar esse mundo em constante vigilância, o cineasta abre o filme com imagens de celular de Anna e do marido, da garota que incendiou a casa do ex-namorado, dos dispositivos de segurança das ruas e da delegacia, e da câmera secretamente posicionada pelo diretor/produtor durante o teste com Anna. Tais registros revelam intimamente a perversidade humana e os pecados de cada um – a ira, a luxúria e até a gula, nas freiras que consomem os hot-dogs do vendedor. Skolimowski, contudo, não exibe uma postura moralista, por mais que a tragédia da casualidade possa ser interpretada como uma punição divina, ou que o longa flerte com o metafísico – a mancha preta no céu, os sinais premonitórios de origem natural, como pássaro que se choca com o espelho do quarto ou a mariposa no elevador, e, especialmente, a figura misteriosa do homem que surge nas telas de TV’s e computadores.

Essa possível representação de Deus, todavia, parece muito mais carregada de sarcasmo do que de religiosidade. Uma ironia que se estende sobre o próprio cinema, notada no fato do diretor/produtor ser a figura de caráter mais duvidoso desde o princípio ou na cena em que um suicídio se revela parte de uma filmagem cinematográfica. Há, portanto, uma sugestão do fantástico que acaba não sendo sustentada plenamente e que, somada ao registro carregado de estilização e efeitos visuais, confere artificialidade aos dramas. Com tantas ideias, ferramentas e personagens, o diretor termina também por deixar abertos muitos questionamentos sobre as personalidades e histórias dessas figuras, o que pode ser intencional, mas não deixa de gerar alguma frustração. Felizmente sua habilidade narrativa permanece inabalada, mantendo o interesse constante, e seu domínio cênico/visual sobressai, exibindo toda a sua força na catarse fatalista da conclusão.

O excitante resultado do efeito borboleta minuciosamente orquestrado por Skolimowski possui um poder atrativo inegável, gerando um prazer mórbido em relação ao vislumbre da tragédia, simbólico dos tempos atuais cada vez mais envoltos num impulso voyeurístico já retratado na obra pregressa do cineasta. Tudo isso leva, mais uma vez, à constatação da insignificância humana diante de seu destino, exemplificada de modo preciso na bela sequência final que revela milhares de monitores de trânsito que terminam por formar uma imagem única muito maior. Mesmo irregular, e até demasiadamente niilista, 11 Minutos deixa transparecer a manutenção do espírito explorador de seu autor que, com alguma defasagem, mostra-se aberto à renovação, à variação na forma de contar histórias sem, contudo, abandonar seus conceitos, suas crenças primordiais. Uma mescla da maestria já estabelecida e de um frescor revigorante que, embora não totalmente lapidada aqui, não é isenta de méritos, notadamente, a predisposição e a coragem de correr riscos.

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é formado em Publicidade e Propaganda pelo Mackenzie – SP. Escreve sobre cinema no blog Olhares em Película (olharesempelicula.wordpress.com) e para o site Cult Cultura (cultcultura.com.br).
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CríticoNota
Leonardo Ribeiro
6
Francisco Carbone
7
MÉDIA
6.5

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