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Sinopse

Bond recebe uma mensagem misteriosa que remete ao seu passado. Então, ele parte numa jornada para desmantelar uma organização secreta e sinistra. Enquanto isso, M luta contra forças escusas para manter vivo o serviço secreto. 

Crítica

Tudo está aparentemente no lugar certo em 007 contra Spectre: Daniel Craig, como o agente secreto James Bond, está no auge de sua forma; a italiana Monica Bellucci e a francesa Léa Seydoux – sem esquecermos da mexicana Stephanie Sigman – são escolhas acertadas como as bondgirls da vez; Christoph Waltz tinha tudo para ser o vilão perfeito; e temos de volta o diretor Sam Mendes e o roteirista John Logan, ambos do capítulo anterior, o bem sucedido 007: Operação Skyfall (2012). Então, qual o problema da 24° aventura nas telas do personagem criado por Ian Fleming? Talvez sejam justamente estes elementos citados acima: além da imensa expectativa deixada pelo último episódio, a reunião de tantos talentos gerou uma combinação que tinha tudo para ser explosiva. No entanto, o que vemos é justamente o contrário: algo morno, que carece de ritmo e se apoia mais na aparência e num contexto pré-estabelecido e menos no seu potencial de inovar.

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Quando Craig assumiu o icônico Bond, em 007: Cassino Royale (2006), o diretor Martin Campbell – que havia sido responsável também pelo primeiro longa com Pierce Brosnan como protagonista, 007 contra GoldenEye (1995) – foi chamado para conduzir uma reinvenção do personagem, aplicando um conceito até então inédito na série: ao invés de tramas isoladas, a proposta era criar um universo maior, em que cada episódio fosse conectado com o anterior. Dessa forma, todo evento e fato presenciado adquiria uma importância maior, pois poderia ter implicações futuras. 007 contra Spectre é, aparentemente, a parte final desta história, e faz uso com eficiência deste formato. Com fortes ligações com os três longas prévios – Mads Mikkelsen, Javier Barden e Judi Dench, por exemplo, são citados em imagens e até nominalmente – o que se descobre é que os vilões enfrentados antes pelo herói faziam parte de uma única organização, a tal Spectre que dá nome ao novo filme. Só que o que prometia ser a batalha final, com o mais poderoso dos inimigos, resulta em um embate mais de palavras do que de ações, com desfecho previsível e incomum à própria saga.

Após uma sequência eletrizante na Cidade do México (encomendada pelo país aos produtores para vender o lugar internacionalmente como destino turístico), 007 contra Spectre volta para sua Londres natal. Lá, descobrimos que Bond estava agindo sem o conhecimento de seus supervisores, e tal impertinência poderá custar sua posição privilegiada. Ainda mais porque há uma nova ordem junto ao MI6, o serviço secreto de Sua Majestade. A iniciativa é de C (Andrew Scott, de Jimmy’s Hall, 2014), que não só está disputando liderança com M (Ralph Fiennes, eficiente), como também acredita que operativos humanos são obsoletos, preferindo agir com tecnologia digital e drones. Para quem não percebeu, esse argumento é muito similar ao visto recentemente em Missão: Impossível – Nação Secreta (2015), em que o agente secreto Ethan Hunt (Tom Cruise) precisava provar sozinho o seu valor, ao mesmo tempo em que seu diretor (Alec Baldwin) pretendia desativar seus serviços. E para piorar, a comparação é desfavorável para o lançamento mais recente.

Do México para Londres, seguimos para Roma – onde Bond se envolve rapidamente com a viúva vivida por Bellucci, cuja beleza e presença hipnotizante é desperdiçada em uma participação mínima – e, depois, dos Alpes nevados para o deserto árido. O visual global das aventuras de James Bond é preservado, mas sem tanto dinamismo quanto se poderia esperar. Christoph Waltz, que já ganhou dois Oscars por interpretar praticamente o mesmo personagem – o vilão sarcástico e repleto de segundas intenções de Bastardos Inglórios (2009) e de Django Livre (2012) – retoma com tranquilidade esse tipo que lhe é tão confortável, fazendo o mínimo de esforço para soar ameaçador ou surpreendente – muito diferente do que Javier Bardem demonstrou com impressionante eficiência em Skyfall. Sem medo de estragar qualquer surpresa, ele aparece como o mítico Oberhauser – já vivido anteriormente por atores como Telly Savalas em 007: A Serviço Secreto de Sua Majestade (1969) e Max von Sydow em 007: Nunca Mais Outra Vez (1983), entre tantos outros – líder da organização criminosa Spectre. Suas motivações são desvendadas com um toque de melodrama que faz sentido com a ambientação mexicana do início da história, desperdiçadas em um clímax pouco tenso e nada impressionante.

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É engraçado, no entanto, perceber como as declarações de Daniel Craig de que esta provavelmente será sua última incursão na série parecem fazer sentido com o clima perseguido por 007 contra Spectre. O filme inteiro vai atrás de um final feliz, inclusive resolvendo traumas do passado do protagonista e lhe proporcionando um desenlace amoroso que parece não fazer sentido com o seu perfil. Sam Mendes faz um trabalho apenas protocolar – onde estão as sequências eletrizantes de Skyfall? – e, entre os atores, acompanhamos intérpretes talentosos, como Naomie Harris e Ben Whishaw, serem completamente desperdiçados, enquanto que novidades como Léa Seydoux (se contentando como a mocinha em perigo) ou Dave Bautista (o brutamontes descerebrado) quase nada acrescentam ao todo. Pra terminar – ou começar, já que é apresentada como de costume nos créditos de abertura – a canção Writing’s on the Wall, de Sam Smith, é uma vergonha pálida perto da poderosa Skyfall, de Adele – apenas para citar a mais recente. Se o desempenho do cantor fosse apenas um tropeço inicial, seria o menor dos problemas. Infelizmente, no entanto, é justamente esse mesmo tom que encontramos ao longo do desenrolar de todo o enredo. Mas para os que seguem acreditando, no final nos deparamos com a frase “James Bond voltará”. Enfim, ainda há esperança!

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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