“Uma esquina qualquer de uma cidade anônima. Lugar e cenário não parecem ser importantes. As pessoas passam, e pouco lhes chama atenção o que está ao redor. Estão atrasadas, ocupadas consigo mesmas, preocupadas com o que farão depois ou com o caminho que ainda tem pela frente. Assim se parecem, até que um homem passa pelo local. Ele é o único a notar o que ali está exposto. Um grande mural, com a imagem de um lobo-guará, animal nativo do Brasil e atualmente em perigo de extinção. O estranho congela, seus passos não mais o levam a lugar algum. Está hipnotizado diante do desenho, que o absorve e o transforma. Assim começa Guará, curta-metragem de Fabrício Cordeiro e Luciano Evangelista, selecionado para a mostra competitiva nacional do 23o Cine PE, em Recife. O inesperado que estas primeiras imagens provocam serão perseguidas durante todo o desenrolar da trama. Se alcançadas ou não, essa é uma questão que parece estar mais com a audiência do que com os realizadores (…) Um lobo-guará corre solto pela rua. A cena é bonita, ainda que selvagem. Não se sabe se o animal está perdido ou em busca de alguém. Quer se esconder ou se mostrar? Ao se recolher a um beco escuro, a primeira opção parece mais razoável. Porém, a bola de um garoto acaba rolando até ele. E quando a criança vai ao seu encontro, a tragédia anunciada se confirma. O lobisomem – ou seria ‘guaráhomem’ – tem sua primeira vítima. Seriam sequências fortes, porém dentro de uma imagética compreensível. Só que, quando o ser fantástico volta a ser visto, não é mais o bicho de antes”.
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