Nos momentos que antecedem a grande noite de estreia de sua nova peça, o diretor teatral Skene (o norte-americano Edoardo Ballerini) coloca em retrospectiva o processo criativo da montagem, relembrando seus embates com a autora do argumento, Jacqueline (a sueca Irina Björklund), no que se tornou um jogo de manipulações e disputa por controle. A sinopse acima sugere um ponto de partida atrativo, capaz de suscitar debates e reflexões interessantes acerca de temas como o desejo feminino, mote central do texto de Jacqueline, supostamente baseado em suas próprias experiências. Contudo, a estreia da cineasta brasileira Emilia Ferreira tem seu potencial inicial completamente diluído, surpreendendo negativamente em quase todos os aspectos, a começar pela inabilidade na construção da personagem feminina principal, uma falha que chama ainda mais a atenção pelo fato de termos uma mulher no comando desta produção internacional. Jogando o espectador no meio de conflitos já iniciados, se utilizando de uma narrativa em flashback com diversas idas e vindas temporais, Ferreira não consegue dar peso à protagonista ou a qualquer outro personagem. A artificialidade domina o longa que, através de citações literárias e filosóficas inseridas à força, busca evocar uma pretensa sofisticação, algo que contrasta com a rudimentaridade da realização. Da trilha sonora intrusiva, passando pela direção de fotografia irregular, pelas atuações pouco críveis, pela montagem confusa e por uma exploração pobre dos espaços – sempre com dois ou três atores sendo posicionados de modo antinatural nos ambientes – ao tratamento pudico e sem paixão dispensado ao sexo, tudo contribui para que se crie um ruído entre as ambições da diretora, de conceber um estudo profundo e complexo dos sentimentos humanos, e a real superficialidade do produto final.

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é formado em Publicidade e Propaganda pelo Mackenzie – SP. Escreve sobre cinema no blog Olhares em Película (olharesempelicula.wordpress.com) e para o site Cult Cultura (cultcultura.com.br).
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